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ARTES PLÁSTICAS
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro apresenta a partir de hoje esculturas do artista plástico carioca
Franklin Cassaro experimenta o "bioconcretismo"
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
"Pode escrever aí: só penso em
sexo, e, como gosto de mulheres,
minhas obras são variações sobre
a vulva", diz o artista plástico
Franklin Cassaro, 39. Irônico, o
artista não gosta de falar com jornalistas. "Em geral, tudo o que digo acaba sendo usado da forma
como vocês querem", diz.
Mesmo assim, Cassaro tem desenvolvido uma série de obras
que apresentam o jornal como
matéria-prima, e o diálogo entre
as duas áreas -jornalismo e artes
plásticas- acabou sendo uma
necessidade em seu trabalho.
Suas esculturas infláveis, por
exemplo, imensos objetos formados por jornais, acabaram assimilando a temática. "Nunca fiz essas
obras pensando em falar de como
o jornalismo pode ser vazio. Em
geral, uso as páginas dos classificados, pois quero falar do abrigo,
como a casa ou o automóvel. Mas,
após ter sido citado assim, decidi
dar o nome de minha nova obra,
no Museu de Arte Moderna do
Rio, de "Ocaôca", referência ao vazio da notícia", diz Cassaro.
Ela é justamente a maior obra já
criada pelo artista, uma encomenda do curador do MAM carioca, Fernando Cocchiarale, criada para a mostra que Cassaro
inaugura hoje no Rio. As dimensões são realmente imensas: 20
metros de comprimento por 12 de
largura. Após inflada, a escultura
pode conter até 30 pessoas. Três
ventiladores serão utilizados para
manter a obra em pé.
Num dos cantos da exposição
está "Sopa Original", uma lata de
sopa Campbells dobrada, criada
para uma sala especial da feira
Miami-Basel, recentemente cancelada. "Nela apliquei minha dobra padrão", comenta sobre sua
assinatura artística, a permanente
referência às vulvas. Como vários
artistas de sua geração, a obra
parte de clássicos das artes plásticas, no caso a obra pop de Andy
Warhol.
Além de "Ocaôca", Cassaro
apresenta outros quatro grupos
de esculturas. Ao conjunto, o artista dá o nome de "bioconcretismo", cruzamento das obras neoconcretas de Hélio Oiticica e Lygia
Clark com suas pesquisas em biologia -e claro, referências ao corpo feminino.
Para criar as esculturas, Cassaro
utiliza materiais cotidianos, como
bicos de mamadeira, fôrmas de
bolo, tubos ou latas de sopa. Seu
toque está nas dobras duplas que
aplica nos objetos, experiência
que cria a partir de "referências a
conceitos da psicologia, da biologia e da física", afirma o artista.
"Busco subverter os planos de
materiais considerados precários,
mas sem esquecer o rigor técnico;
não gosto que simplifiquem minhas obras", diz Cassaro.
Outra das séries em cartaz é
"Ovos da Burguesia". O artista
descasca bolinhas de golfe e as
instala sobre fios de outras bolas,
também de golfe, desfiados como
um novelo de lã.
No próximo mês, o artista, que
acaba de romper com sua galeria
em São Paulo, a Baró Senna ("vou
ficar dois meses sem nenhum vínculo comercial"), expõe parte das
séries em cartaz no MAM carioca
no Museu da Pampulha, em Belo
Horizonte. Será então a vez do
diálogo entre o modernismo sensual de Oscar Niemeyer com o
bioconcretismo de Cassaro. Haja
conceitos.
O jornalista Fabio Cypriano viajou a
convite do MAM/RJ
ORGANISMOS BIOCONCRETOS - mostra com esculturas do artista
plástico carioca Franklin Cassaro.
Curadoria: Fernando Cocchiarale. Onde:
Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro (av. Infante Dom Henrique, 85,
RJ, tel. 0/xx/21/ 2240-4944). Quando:
abertura hoje, às 17h; de ter. a sex., das
12h às 18h; sáb. e dom., das 13h às 19h.
Até 3/2. Quanto: R$ 8.
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