São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro apresenta a partir de hoje esculturas do artista plástico carioca

Franklin Cassaro experimenta o "bioconcretismo"

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

"Pode escrever aí: só penso em sexo, e, como gosto de mulheres, minhas obras são variações sobre a vulva", diz o artista plástico Franklin Cassaro, 39. Irônico, o artista não gosta de falar com jornalistas. "Em geral, tudo o que digo acaba sendo usado da forma como vocês querem", diz.
Mesmo assim, Cassaro tem desenvolvido uma série de obras que apresentam o jornal como matéria-prima, e o diálogo entre as duas áreas -jornalismo e artes plásticas- acabou sendo uma necessidade em seu trabalho.
Suas esculturas infláveis, por exemplo, imensos objetos formados por jornais, acabaram assimilando a temática. "Nunca fiz essas obras pensando em falar de como o jornalismo pode ser vazio. Em geral, uso as páginas dos classificados, pois quero falar do abrigo, como a casa ou o automóvel. Mas, após ter sido citado assim, decidi dar o nome de minha nova obra, no Museu de Arte Moderna do Rio, de "Ocaôca", referência ao vazio da notícia", diz Cassaro.
Ela é justamente a maior obra já criada pelo artista, uma encomenda do curador do MAM carioca, Fernando Cocchiarale, criada para a mostra que Cassaro inaugura hoje no Rio. As dimensões são realmente imensas: 20 metros de comprimento por 12 de largura. Após inflada, a escultura pode conter até 30 pessoas. Três ventiladores serão utilizados para manter a obra em pé.
Num dos cantos da exposição está "Sopa Original", uma lata de sopa Campbells dobrada, criada para uma sala especial da feira Miami-Basel, recentemente cancelada. "Nela apliquei minha dobra padrão", comenta sobre sua assinatura artística, a permanente referência às vulvas. Como vários artistas de sua geração, a obra parte de clássicos das artes plásticas, no caso a obra pop de Andy Warhol.
Além de "Ocaôca", Cassaro apresenta outros quatro grupos de esculturas. Ao conjunto, o artista dá o nome de "bioconcretismo", cruzamento das obras neoconcretas de Hélio Oiticica e Lygia Clark com suas pesquisas em biologia -e claro, referências ao corpo feminino.
Para criar as esculturas, Cassaro utiliza materiais cotidianos, como bicos de mamadeira, fôrmas de bolo, tubos ou latas de sopa. Seu toque está nas dobras duplas que aplica nos objetos, experiência que cria a partir de "referências a conceitos da psicologia, da biologia e da física", afirma o artista.
"Busco subverter os planos de materiais considerados precários, mas sem esquecer o rigor técnico; não gosto que simplifiquem minhas obras", diz Cassaro.
Outra das séries em cartaz é "Ovos da Burguesia". O artista descasca bolinhas de golfe e as instala sobre fios de outras bolas, também de golfe, desfiados como um novelo de lã.
No próximo mês, o artista, que acaba de romper com sua galeria em São Paulo, a Baró Senna ("vou ficar dois meses sem nenhum vínculo comercial"), expõe parte das séries em cartaz no MAM carioca no Museu da Pampulha, em Belo Horizonte. Será então a vez do diálogo entre o modernismo sensual de Oscar Niemeyer com o bioconcretismo de Cassaro. Haja conceitos.


O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite do MAM/RJ


ORGANISMOS BIOCONCRETOS - mostra com esculturas do artista plástico carioca Franklin Cassaro. Curadoria: Fernando Cocchiarale. Onde: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (av. Infante Dom Henrique, 85, RJ, tel. 0/xx/21/ 2240-4944). Quando: abertura hoje, às 17h; de ter. a sex., das 12h às 18h; sáb. e dom., das 13h às 19h. Até 3/2. Quanto: R$ 8.


Texto Anterior: A avó do Supla, a sogra da Marta...
Próximo Texto: Freud explica Machado
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.