DA REPORTAGEM LOCAL

José Mindlin costuma se referir à sua relação com os livros com o drummondiano termo "loucura mansa". Mas o dono da principal biblioteca particular do Brasil nem sempre ficou no manso que essa loucura lhe proporcionou.
Além de colecionar livros como poucos no mundo, o bibliófilo publicou ou incentivou a publicação de dezenas deles. E essa atuação como editor está sendo lembrada do jeito que Mindlin gosta, com um livro. A Edusp lança hoje, em evento na Biblioteca Mário de Andrade, o volume "José Mindlin, Editor", obra que também comemora os recém-completados 90 anos do homem de livros.
A história começa ao longe, com Mindlin de calças curtas editando a revista do colégio Rio Branco, na São Paulo dos anos 20. Os livros de arte, com tiragem limitada, projeto gráfico cuidadoso impresso em papel artesanal, ele começou a fazer em 1951. A estréia foi com um caprichado "Elegias de Duíno", de Rainer Maria Rilke, com ilustrações de Oswald de Andrade Filho (o Nonê).
Esta atuação mais direta, que vai da escolha de um título e de seu ilustrador até a supervisão de sua parte gráfica, se repetiu em trabalhos primorosos como "Constelação", de Octavio Paz, com tradução de Haroldo de Campos e xilogravuras de Adão Pinheiro, ou "A Visita", com poema inédito de Carlos Drummond de Andrade acompanhado de fotos primorosas de Maureen Bisilliat.
O volume também documenta a atuação dele nos bastidores de diversos livros, ora como patrocinador, ora como secretário municipal de Cultura (1975), ora como amigo do livro (bibliófilo).
O projeto, organizado por Tereza Kikuchi, é complementado por um DVD (dirigido por Raimo Benedetti), com um "um dedo de prosa" com Mindlin, conversa sobre sua experiência editorial que teve novo capítulo este mês, com a publicação de um "Romanceiro da Inconfidência", de Cecília Meireles (com desenhos de Renina Katz), estimulado por ele. (CEM)