São Paulo, terça, 5 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bruce Springsteen


O roqueiro que conquistou os EUA falando de gente desprezada pelo sonho americano lança caixa com quatro CDs de canções inéditas


THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

"Eu vi o futuro do rock and roll, e o nome dele é Bruce Springsteen!"
A frase acima, do ex-crítico musical americano Jon Landau, completa agora 25 anos. Bruce Springsteen ainda ocupa um lugar único no cenário. Nenhum outro conseguiu reunir a mente de Bob Dylan e a pélvis de Elvis Presley.
Landau é empresário de Springsteen. Os dois, com ajuda de mais quatro amigos, são responsáveis pela seleção do material incluído em "Tracks", caixa com 66 canções -57 inéditas- em quatro CDs de gravações de 1972 a 1998.
A seis meses de completar 50 anos, Springsteen tem muito para mostrar ao público roqueiro jovem. O ponto comum das quase 500 canções gravadas por ele é transformar em herói o americano simples, seja ele o caipira de Nebraska, o operário de New Jersey ou o bóia-fria do Novo México.
Os personagens de Springsteen não querem mudar o mundo. Para eles, um emprego, uma cerveja diante da TV e uma mulher carinhosa servem para dar sentido a suas vidas. Springsteen faz sucesso porque canta os sentimentos de gente que embarcou no sonho americano e foi devorada por ele. Sua América é a terra de quem já apanhou bastante e nunca entendeu a razão de tanta surra.
Em seus dois primeiros álbuns, "Greetings From Asbury Park, N.J." e "The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle", ambos de 1973, ele seguia os passos de Dylan, dando mais força às palavras.
O folk dos primeiros discos deu lugar a um furioso rock and roll, que explodiu nas paradas com "Born to Run" (1975), um álbum recheado de hinos de rebeldia e inconformismo. Jack Kerouac, Elvis, Dylan, Jimi Hendrix e John Steinbeck se encontraram em Springsteen. Pela primeira vez um cantor foi capa das revistas "Time" e "Newsweek" na mesma semana.
Os álbuns seguintes, "Darkness on the Edge of Town" (1978) e "The River" (1980), consolidaram sua fama, incrementada com shows que eram maratonas de até quatro horas de rock and roll.
O disco acústico "Nebraska" (1982), gravado no porão de sua casa, era belo e melancólico. Mas o reconhecimento fora dos EUA veio com "Born in the USA" (1984), intrincada mistura de crítica social e ufanismo que vendeu 15 milhões de cópias.
Depois de uma caixa com cinco LPs ao vivo, em 1985, Springsteen fez seu disco romântico, "Tunnel of Love" (1987), todo dedicado a sua primeira mulher. Largado por ela pouco depois, encontrou novo amor em Patti Scialfa, vocalista da E Street Band, grupo de apoio que ele formou em 1974.
Nos anos 90, Springsteen gravou mais três álbuns, "Lucky Town" e "Human Touch", lançados simultaneamente em 1992, e "The Ghost of Tom Joad" (1995). Ganhou o Oscar de melhor canção em 1993 com "Streets of Philadelphia", a mais poderosa e comovente música já escrita sobre a Aids.
Preparando uma turnê mundial a partir de julho, Bruce Springsteen volta à estrada porque é nela que o rock encontra a vida. Como ele escreveu há 25 anos, "tramps like us/ baby we're born to run" ("lixo como a gente, meu bem, nós nascemos para correr").
²

Caixa: Tracks Artista: Bruce Springsteen Lançamento: Sony Music Quanto: R$ 80 (em média, os quatro CDs)


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.