|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Técnica e comedimento de
Domingo aparecem em `Duets'
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
A imagem de Plácido Domingo,
56, vem sendo maltratada pelos
empresários que o deslocam para
o mercadinho populista de ``Os
Três Tenores''.
Por isso, nada mais oportuno
que um CD capaz de lembrar que
Domingo continua sendo um dos
mais ricos, sutis e eloquentes artistas líricos deste final de século.
``Domingo Duets'' foi lançado
pela Deutsche Grammophon e traz
14 duetos em que ele contracena
com sopranos de quilate artístico
semelhante ao seu.
São extratos de versões integrais
de óperas, gravadas ao longo de 21
anos. Neles, transparecem de forma tão nítida as qualidades do tenor espanhol que é até possível ignorar seus dois últimos escorregões: o CD que traz ``Granada'' e
outras peças do mexicano Agustin
Lara e o show de Natal de que participou, em Viena, em 1995, com
José Carreras e Nathalie Cole.
Valor histórico
Com duas exceções, o repertório
agora reunido é italiano. Metade
das faixas é dedicada a peças de
Verdi. Uma delas possui um valor
histórico não mencionado na brochura que acompanha o CD.
Trata-se de ``Un Ballo in Maschera'', feito em estúdio em fevereiro de 1989 e que foi a última gravação do maestro Herbert Von
Karajan (1908-1989).
Domingo (Gustavo) se mostra
bem mais seguro e à vontade que a
soprano inglesa Josephine Barstow (Amelia), naquele ano também sua parceira no Festival de
Salzburgo.
Para alguns puristas, a antologia
reunida no CD pode trazer pequenos desapontamentos.
Domingo, como Radamés, em
``Aída'', contracena com Elena
Obraztosova, sob a direção de Abbado. Mas sua melhor parceira no
papel teria sido Montserrat Caballé, em gravação dirigida por Riccardo Muti.
O mesmo vale para ``Il Trovatore''. Ele canta com a soprano inglesa Rosalind Plowright. A direção é
de Carlo Maria Giulini. Mas Domingo teria sido o melhor Enrico
ao ter, no papel de Eleonora, Leontine Price. É uma excepcional direção de Zubin Mehta.
Um terceiro exemplo: ``Otello''
traz o tenor espanhol em companhia de Cheryl Studer, como Desdemona. É um belo desempenho,
gravado em 1993 na Ópera da Bastilha, sob a regência de
Myung-Whun Chung. Mas automaticamente evoca sua parceria
com Renata Scotto, sob a direção
de James Levine.
Mas atentem para a ``Traviata'',
gravada em 1976, em que Domingo se apresenta com Ileana Cotrubas. É rígida e leve a direção de
Carlos Kleiber, no que é para muitos a versão de referência.
Comedimento
No que Plácido Domingo pode
ser melhor que Pavarotti ou Alagna? Ele manifesta um refinado comedimento.
Corre o risco de perder o brilho
ao conter a acentuação exagerada
das sílabas tônicas dos versos. Sua
técnica é feita puramente de música. O que já é muito.
Disco: ``Domingo Duets''
Artista: Plácido Domingo (tenor) com
sopranos
Lançamento: DG/Polygram
Quanto: R$ 25
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|