São Paulo, quarta, 5 de fevereiro de 1997.

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Roberto Alagna reinterpreta óperas "La Bohème" e "Don Carlos"

especial para a Folha

Estão saindo, simultaneamente, duas óperas com o tenor mais badalado do momento. A EMI lança "La Bohème", de Puccini, e "Don Carlos", de Verdi, com Roberto Alagna.
Musicalmente, a gravação ao vivo do "Don Carlos" de Verdi, em três CDs, é mais interessante. Até porque nos apresenta a ópera em sua versão menos conhecida, a francesa.
Atuando em francês, Alagna não é menos que perfeito, cantando com extrema naturalidade e inteligência e conferindo ao personagem-título dramaticidade inaudita. E, como se não bastasse, há ainda grandes atuações de Thomas Hampson (Rodrigo) e Karita Mattila (Elisabeth), com regência escrupulosa de Antonio Pappano.
Por outro lado, "La Bohème" traz uma interessante novidade tecnológica: está gravada em dois "Enhanced CDs".
O "Enhanced CD" funciona, simultaneamente, como CD e CD-ROM.
Colocado em um CD player, é um CD de música normal.
No CD-ROM, além de tocar a música, há um programa com texto, gráfico, fotos e vídeo, disponível em três línguas: inglês, francês e alemão. Suas seções são quatro: "Sinopse", "Libreto", "História" e "Performance".
"Sinopse" conta a história da ópera. Em "Libreto", é possível ler as palavras que estão sendo cantadas, à medida que a ação vai se desenrolando. E "História" fala do processo de composição de "La Bohème"; traz as biografias dos libretistas e do compositor, Giacomo Puccini, além da sinopse de outras óperas de sua autoria.
Mas a grande atração é a seção "Performance". Além das biografias dos cantores, é possível assistir a um vídeo no qual o maestro Antonio Pappano explica cada um dos papéis.
Par central
Quanto à parte musical, o par central, Roberto Alagna e Leontina Vaduva, não está tão arrebatador quanto no vídeo da ópera "Romeu e Julieta", de Gounod, gravado em 94, quando o tenor, pela expressividade, e a soprano, pela beleza da voz, pareciam haver nascido para seus papéis.
Mas, pelo menos no que se refere a Alagna, é difícil imaginar qualquer cantor em atividade no presente atuando de maneira mais convincente.
Thomas Hampson (Marcello), Ruth Ann Swenson (Musetta) e Samuel Rarney (Colline) defendem seus papéis com refinamento acima da média -principalmente no caso de Swenson, que se recusa a ser a "gralha" em que várias cantoras transformaram Musetta.
E Antonio Pappano, à frente da Philharmonia Orchestra, acerta a mão nos momentos cruciais, embora a malha orquestral por ele urdida não chegue a encantar completamente.
Som excepcional, vozes judiciosamente escolhidas e inovações tecnológicas: esta pode não ser a melhor "Bohème" da era do disco, mas seus ingredientes a tornam, certamente, bastante atraente. (IFP)

Discos: La Bohème (de Puccini) e "Don Carlos" (de Verdi)
Intérprete: Roberto Alagna
Lançamentos: EMI
Quanto: R$ 36, em média, cada CD


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