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"MÁRIO FAUSTINO - UMA BIOGRAFIA"
Autora tende à mitificação do poeta
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Por que biografia em vez de
estudo crítico?" Essa pergunta, que abre o prefácio de Benedito Nunes a "Mário Faustino
-°Uma Biografia", de Lilia Silvestre Chaves, reaparece com freqüência ao longo do livro. Apesar
de, em seguida, buscar justificar a
opção da autora de mesclar as
duas possibilidades, o fato é que
uma proposta menos ambiciosa
talvez tivesse sido mais adequada.
Do lado interpretativo, Chaves
tende para uma espécie de mitificação, procurando em sua obra
indícios proféticos de sua vida e
de sua precoce morte, num acidente de avião, em 1962. Do lado
informativo, às vezes não se preocupa com o caráter investigativo.
É o que ocorre, por exemplo,
quando fala da família. Em um
desses momentos, diz: "O destino
dos outros irmãos nos é desconhecido, desapareceram da trajetória de Mário Faustino desde
muito cedo". Em outro, acrescenta: "Maria Júlia (...) teria vendido
tudo e depois desaparecido. Evaporou-se na vida como aconteceu, na morte, com o irmão". Seria mesmo impossível encontrar
algumas dessas pessoas?
A principal fonte da autora é o
arquivo de Nunes, de quem Faustino foi grande amigo e que guarda boa parte de sua documentação. São cartas e papéis até então
inéditos de onde provém a força
maior do livro e é a partir deles
que o texto chega a seus pontos altos: a reconstrução da vida do
poeta no Rio no período em que
cuidava da página "Poesia-Experiência" no "Jornal do Brasil" e a
sua estada em Nova York em
1960, trabalhando na ONU, escrevendo e convivendo com seu provável grande amor, Oswaldo.
É preciso admitir que a tarefa da
autora não era fácil. Como conciliar o "elogio" tão característico à
escrita de histórias de vida com a
postura crítica sempre forte e
combativa do protagonista escolhido? Um dos aspectos que a
obra reitera, já obviamente perceptível na produção madura de
Faustino, é que ele dificilmente fazia concessões e não tinha pudor
em apontar defeitos -não sem
cometer suas injustiças (ver, por
exemplo, as restrições a Drummond em "A Poesia "Concreta" e o
Momento Poético Brasileiro", em
"De Anchieta aos Concretos").
Isso leva à pergunta: o que ele
acharia deste livro? Provavelmente ficaria envaidecido -a vaidade, aliás, é um dos traços de sua
personalidade que a biografia delineia bem. Mas não é implausível
supor que o poeta, o crítico e,
principalmente, o jornalista Mário Faustino sugerisse um bom
corte de várias páginas.
Adriano Schwartz é doutor em teoria literária pela USP e autor de "O Abismo Invertido - Pessoa, Borges e a Inquietude
do Romance em "O Ano da Morte de Ricardo Reis'" (editora Globo)
Mário Faustino - Uma Biografia
Autora: Lilia Silvestre Chaves
Editora: Secretaria de Cultura do Pará
(só pelo tel. 0/xx/91/219-1218)
Quanto: R$ 40 (mais frete); 398 págs.
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