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VIDA EM JOGO
Longa-metragem é tão crível quanto um pesadelo
LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada
Todo mundo já deve ter tido um
dia "daqueles", de amargar, em
que era melhor não ter levantado
da cama.
Jack Lemmon teve o seu em "The
Out-of-Towners" (Arthur Hiller,
1970), quando absolutamente nada deu certo no maldito dia em que
ele decidiu visitar Nova York.
Griffin Dunne também levantou
com "dois pés esquerdos" certa
vez, sem saber que ia ser sugado
por acontecimentos kafkianos só
porque resolveu ligar para uma garota em "Depois de Horas" (1985),
de Martin Scorsese.
Mas nada provavelmente se
compara ao que passa com o milionário Nicholas van Orton, personagem de Michael Douglas em
"Vidas em Jogo", filme que estréia
hoje nos cinemas brasileiros.
Van Orton é um abastado corretor de ações que, quando completa
48 anos, percebe que em sua existência devotou muito mais atenção ao trabalho do que a sua vida
particular.
Mas, no dia do aniversário, ao receber um presente do irmão ovelha-negra (o que Sean Penn está fazendo aqui?), a vida besta de Van
Orton sofre uma chacoalhada.
O irmão dá de presente a Van Orton um cartão da empresa CRS,
que realiza serviços de "recreação"
aos clientes, algo como a realização
de pequenos sonhos, que dão
"molho" a vidas xaropes.
Curioso, Van Orton um belo dia
vai à CRS saber mais sobre a oferecida "oportunidade de mudança
de vida". E se submete a uma carga
de testes para sua aprovação.
Um dia depois, Van Orton recebe um telefonema da CRS dizendo
que ele não está qualificado para
"O Jogo". Esse é o sinal de que "O
Jogo" está entrando em um turbilhão de dar inveja a Kafka.
Com este "Vidas em Jogo", o diretor David Fincher faz algo se
aproximando do humor negro,
não se importando se a trama é
uma sucessão das mesmas situações, uma atrás da outra.
Sim, o filme é recheado de cenas
implausíveis. Mas e daí? O que
acontece é tão crível quanto acreditar nas coisas que acontecem em
um pesadelo. Por isso, não cabe a
"Vidas em Jogo" dar um final convencional à história insana do milionário Van Orton.
O final oficial do filme, dado por
Fincher, na verdade não parece o
final da história. Mesmo com os
créditos subindo, você vai se pegar
olhando desconfiado para a tela,
esperando por mais uma virada.
O que Fincher faz é nos botar
diante de uma deliciosa versão
longa de um episódio de "Além da
Imaginação".
Filme: Vidas em Jogo
Produção: EUA, 1997
Direção: David Fincher
Com: Michael Douglas, Sean Penn
Quando: estréia hoje nos cines Butantã 1,
Paulista 4, Gemini 1 e circuito
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