São Paulo, Sexta-feira, 05 de Março de 1999
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VIDA EM JOGO
Longa-metragem é tão crível quanto um pesadelo

LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada

Todo mundo já deve ter tido um dia "daqueles", de amargar, em que era melhor não ter levantado da cama.
Jack Lemmon teve o seu em "The Out-of-Towners" (Arthur Hiller, 1970), quando absolutamente nada deu certo no maldito dia em que ele decidiu visitar Nova York.
Griffin Dunne também levantou com "dois pés esquerdos" certa vez, sem saber que ia ser sugado por acontecimentos kafkianos só porque resolveu ligar para uma garota em "Depois de Horas" (1985), de Martin Scorsese.
Mas nada provavelmente se compara ao que passa com o milionário Nicholas van Orton, personagem de Michael Douglas em "Vidas em Jogo", filme que estréia hoje nos cinemas brasileiros.
Van Orton é um abastado corretor de ações que, quando completa 48 anos, percebe que em sua existência devotou muito mais atenção ao trabalho do que a sua vida particular.
Mas, no dia do aniversário, ao receber um presente do irmão ovelha-negra (o que Sean Penn está fazendo aqui?), a vida besta de Van Orton sofre uma chacoalhada.
O irmão dá de presente a Van Orton um cartão da empresa CRS, que realiza serviços de "recreação" aos clientes, algo como a realização de pequenos sonhos, que dão "molho" a vidas xaropes.
Curioso, Van Orton um belo dia vai à CRS saber mais sobre a oferecida "oportunidade de mudança de vida". E se submete a uma carga de testes para sua aprovação.
Um dia depois, Van Orton recebe um telefonema da CRS dizendo que ele não está qualificado para "O Jogo". Esse é o sinal de que "O Jogo" está entrando em um turbilhão de dar inveja a Kafka.
Com este "Vidas em Jogo", o diretor David Fincher faz algo se aproximando do humor negro, não se importando se a trama é uma sucessão das mesmas situações, uma atrás da outra.
Sim, o filme é recheado de cenas implausíveis. Mas e daí? O que acontece é tão crível quanto acreditar nas coisas que acontecem em um pesadelo. Por isso, não cabe a "Vidas em Jogo" dar um final convencional à história insana do milionário Van Orton.
O final oficial do filme, dado por Fincher, na verdade não parece o final da história. Mesmo com os créditos subindo, você vai se pegar olhando desconfiado para a tela, esperando por mais uma virada.
O que Fincher faz é nos botar diante de uma deliciosa versão longa de um episódio de "Além da Imaginação".

Filme: Vidas em Jogo Produção: EUA, 1997 Direção: David Fincher Com: Michael Douglas, Sean Penn
Quando: estréia hoje nos cines Butantã 1, Paulista 4, Gemini 1 e circuito



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