São Paulo, Segunda-feira, 05 de Abril de 1999 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MANUEL POIRIER BERNARDO CARVALHO especial para a Folha "Western" ("Bom-Dia, França", no Brasil) é uma espécie de provocação quase infantil e simpática contra o nacionalismo francês. A começar pelo título, que diz respeito ao oeste da França. Um filme francês com sotaque. É, ao mesmo tempo, o cinema francês tentando sair do seu canto, escapar aos seus dogmas e a suas escolas. Realizado por um francês nascido no Peru, e com uma equipe multinacional (ao final, nos créditos, o diretor fez questão de pôr uma bandeirinha do país de origem ao lado de cada nome -há gente de todas as partes do mundo), o filme conta a história de um catalão e de um russo, um desempregado e o outro vagabundo por opção, à deriva pelo interior da França atrás da mulher ideal. A certa altura, os dois decidem fazer uma pesquisa de opinião sobre o homem ideal (pensam em si mesmos) com as mulheres de uma pequena cidade. É lógico que uma das principais perguntas do questionário só poderia ser: "O homem ideal tem de ser necessariamente francês?" Ao que elas respondem obviamente, para deleite dos dois: "Não necessariamente". Por outro lado, "Western" ressuscita um gênero que volta e meia assombra o cinema europeu: o "road movie", de inspiração tipicamente americana. Wenders já tinha feito coisa semelhante na Alemanha dos anos 70 com "No Decorrer do Tempo" e "Alice nas Cidades", só que realçando a índole nostálgica da deriva. "Western" não tem nostalgia nenhuma -nem em relação aos países de origem dos personagens, muito menos em relação a uma França perdida. A França por onde passam é um país feio e cinza, de estradas e cidades pálidas, com gente triste. Mas que, curiosamente, acaba fazendo rir. Não há heróis. Os dois protagonistas são dois pés-rapados -e não se pode dizer que tenham alguma chance de virem a ser abençoados pelo destino. Tudo dá errado com eles. Uma dupla de perdedores, feitos um para o outro. O catalão, que começa o filme ainda empregado como vendedor de "sapatos e pantufas" levando um carregamento pelas estradas da França, dá carona a um russo, que lhe rouba o carro na primeira oportunidade. Abandonado na estrada, o catalão pega carona com uma mulher, por quem se apaixona, até reencontrar por acaso o russo na rua e esmurrá-lo a ponto de mandá-lo para o hospital. A mulher propõe ao catalão passarem três semanas separados para saberem se realmente querem ficar juntos. Agora desempregado, o catalão resolve sair com o russo pedindo carona pelas estradas. "Western" repercute uma idéia agradável embora não particularmente original: que é dos encontros fortuitos que nascem as verdadeiras histórias. É o que faz desse filme uma espécie de plataforma um tanto inocente contra todo o tipo de dogmas, sejam eles estéticos ou nacionalistas. Filme: Bom-Dia, França Título original: Western Produção: França, 1997, 115 min Direção: Manuel Poirier Com: Sergi Lopez, Sacha Bourdo e Elisabeth Vitali Texto Anterior: Cinema globalizado: Hector Babenco Próximo Texto: Fernando Gabeira: Brasil pode ser campeão do mundo em CPI Índice |
|