São Paulo, terça, 5 de maio de 1998

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DISCOS LANÇAMENTOS

ALCEU VALENÇA

da Reportagem Local

O cantor e compositor pernambucano Alceu Valença -condutor a partir dos anos 70 da eletrificação de maracatu, coco, ciranda, frevo e forró- dá dois passos atrás e abraça o tradicionalismo em "Forró de Todos os Tempos", seu novo álbum.
Não há que lhe negar autoridade para fazê-lo, mas seu CD cai na crista da moda -como cairão, em breve, novos discos de forró de Elba Ramalho e (ela ainda existe!) Amelinha-, em época em que o forró vai sendo intensivamente apropriado pelas classes médias estudantis -de hippies a mauricinhos- do Rio e São Paulo.
Alceu, 51, diz que o disco remonta a suas origens musicais, de haver crescido ouvindo os professores Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, e, mais tarde, Genival Lacerda.
Ele de fato persegue a fidelidade aos mestres, embalado por várias releituras ("Baião", "Vem, Morena" e "O Xote das Meninas", do repertório de Luiz Gonzaga, "Canto da Ema" e "Cantiga do Sapo", de Jackson do Pandeiro).
Mas sua voz continua elétrica (por isso a regravação de "Rima com Rima", sucesso de seu próprio repertório, soa tão familiar), os forrós de sua própria autoria são tênues, desanimados, algo resulta fora de esquadro, anacrônico.
Alceu tenta também olhar para o futuro, chamando o nada forrozeiro Lenine para um dueto -o de "Forró de Olinda", em que são citados outros nomes contemporâneos, como Mestre Ambrósio, Cascabulho.
Parece passagem de cetro, essa prática a que o ouvinte brasileiro já está tão habituado há tanto tempo.
Quando foge do formato quadrado -ou seja, de forrós levemente elétricos mais constantes e pasteurizados corais secundando a voz agreste-, Alceu mostra ter mais a dizer.
É o que vai ocorrer lá na faixa final, "Coco do Rala Coco", que foge ao forró e louva bambas da terra como Aurinha, Selma do Coco, Aparecida, Maguinha, Biu de Olinda, Mané Messias e outros tantos desses que o mercado industrial não costuma deglutir com tanta fluidez.
É pouco. No geral, Alceu finca um pé na tradição, outro no frêmito das salas de forró para moços comportados -e riquinhos- de Rio e São Paulo. No muro, portanto. (PAS)

Disco: Forró de Todos os Tempos Artista: Alceu Valença Lançamento: Oásis/Sony Quanto: R$ 18, em média



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