|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REFORMA AGRÁRIA NO DIREITO AUTORAL/ARTIGO
Novas idéias do MinC parecem desconversas sobre o problema
LIVIO TRAGTENBERG
ESPECIAL PARA A FOLHA
Fala-se sobre uma "reforma
agrária no direito autoral"
(Ilustrada, 3/6). Em normatizar a
cópia, licenciamentos e a distribuição de música pela internet.
Foca-se a discussão nos direitos
de produção e reprodução da
propriedade intelectual e suas
manipulações.
Mas a questão realmente importante com a relação à nova
realidade do mundo digital se coloca menos na produção e mais
na difusão, na circulação. A área
que realmente precisa de uma reforma agrária é o latifúndio das
telecomunicações com suas leis
feudais, baseadas no poder econômico e na barganha política.
Os artistas independentes já encontraram formas novas de se organizar e de produzir, através de
cooperativas, estratégias na internet e de uma nova visão sobre o
direito autoral e a difusão da cultura. O "copyleft" e os coletivos
são uma realidade cada vez mais
promissora em termos da organização dos criadores culturais.
Agora, a seara da difusão e distribuição dos bens culturais mantém-se intacta. A sociedade, sob a
ditadura dos grandes monopólios, principalmente na televisão,
controla e impõe no Brasil uma
ditadura do gosto e do consumo.
É louvável que se comece a dar
uma face mais normatizada aos
novos mecanismos de distribuição de cultura, que encontra na
internet seu espaço mais amigável
para experimentação.
Mas seria essencial que o governo se preocupasse com a quebra
dos monopólios dos meios de comunicação. Que buscasse, ao lado
da sociedade civil, a regionalização da produção na televisão e o
acesso dos produtores independentes aos meios, que normatizasse as rádios comunitárias que,
por ironia, sofrem mais perseguição neste governo do que nos anteriores, fruto de uma visão legalista ultrapassada. Que buscasse
uma reforma no sistema de arrecadação de direitos autoriais, que
ainda é muito falho.
Enfim, a discussão sobre a propriedade intelectual é a parte mais
simples (e mais pacífica) do problema, uma vez que as forças sociais por si mesmas dão conta das
transformações necessárias.
Fica no ar a impressão de uma
política de desconversa, de tangenciamento da questão estrutural que cabe ao governo, assim como à sociedade, encarar.
Agora, para mexer com os grandes interesses econômicos que se
apoderaram de concessões públicas e engessam a cultura do país, é
que a gente precisa de uma política de cultura clara, sem ambigüidades e compadrismos. Será que
o MinC atual irá avançar além da
desconversa e atacar de frente a
questão política envolvida ?
Livio Tragtenberg é compositor
Texto Anterior: Música: Marlboro conduz o funk carioca à Europa Próximo Texto: Festival: Sinfonia de Cães promove reunião underground Índice
|