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ARTES PLÁSTICAS
Colecionador e financista argentino apresenta 113 obras de sua coleção até 5 de julho no MAM-SP
Costantini quer América Latina no mundo
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
Com lances milionários, como
os que arremataram "Auto-Retrato com Macaco e Louro" (US$
3,2 milhões), da mexicana Frida
Kahlo, "Abaporu" ((US$ 1,43
milhão), da brasileira Tarsila do
Amaral, e, na semana passada, "A
Manhã Verde" (US$ 1,2 milhão),
do cubano Wilfrido Lam, o argentino Eduardo Costantini, 50, construiu sua coleção e sua fama.
Parte da primeira ele apresenta a
partir de hoje para o público no
MAM-SP, na mostra Coleção Costantini. Já com a segunda, conseguida com sua consequente superexposição na mídia, o colecionador pretende colocar a arte latino-americana no mapa e nos melhores museus do mundo, como
explicou em entrevista à Folha.
Além das vedetes citadas acima,
Costantini possui uma boa coleção de artistas introdutores do
modernismo no continente, como
os argentinos Emilio Pettoruti e
Xul Solar, os uruguaios Pedro Figari e Joaquín Torres-García e a
brasileira Tarsila do Amaral.
Faltam-lhe os artistas do muralismo mexicano (Diego Rivera,
David Siqueiros e José Clemente
Orozco) e uma infinidade de brasileiros: Rego Monteiro, Lasar Segall, Cícero Dias, Brecheret e Maria Martins, entre outros.
Tem, porém, um Botero, que ele
justifica. "É um artista inflacionado pelo mercado e que está em decadência, mas que é importante
para a cultura pictórica da América Latina. Ele tem seus méritos."
Folha - O senhor construiu sua
coleção como investidor ou como
colecionador?
Eduardo Costantini - Nunca
pensei como um investidor. Tenho
um projeto de vida, que é construir
um museu público em Buenos Aires com a melhor coleção pública
de arte latino-americana. Na América Latina existe um certo vazio e
uma certa desorganização. Temos
pouca propensão a dar pouca
atenção ao que é nosso.
Pensei que, se tivesse os melhores trabalhos de autores de primeira linha, a coleção teria aceitação
nos melhores museus do mundo.
Também procuro fazer minhas
compras em eventos públicos para
que a coleção chame atenção. Pretendo mostrá-la em todos os museus do mundo que pedirem.
Folha - O senhor emprestaria sua
coleção para Cuba?
Costantini - Penso que sim,
mas teria que pedir uma assessoria
legal. Emprestaria os trabalhos em
respeito às pessoas que vivem ali,
mas se a ida da coleção fosse usada
como uma ponte para negócios
econômicos ou políticos de Fidel
Castro, não emprestaria.
Emprestaria sim se fosse circunscrita a questões estéticas. A
exibição da coleção tem que partir
de um projeto asséptico.
Folha - Quais seus planos para a
coleção?
Costantini - Quero que ela se
despersonalize em algo como 30
anos. Um museu para ela começará a ser construído no final do ano.
Ele terá um nome genérico -Museu de Arte Latino-Americana de
Buenos Aires- e uma coleção
permanente viva, em constante
crescimento.
Folha - O senhor não se interessa
por arte contemporânea?
Costantini - Como os artistas
jovens estão fora do meu projeto
original, criamos um prêmio
anual, que seleciona cerca de 60
artistas emergentes por ano. Organizamos uma mostra e um catálogo e compramos obras de dois deles para o acervo.
Folha - O senhor nunca pensou
na valorização desses trabalhos?
Costantini - Custa-me muito
trabalho e dinheiro manter a coleção. O momento atual, por exemplo, é recessivo. Eu não poderia ter
feito novas aquisições na semana
passada, pois tive que desembolsar
um montante importante para o
momento.
O que eu compro é dinheiro perdido, não ganho. Um museu dá
prejuízo todos os anos. Ele não dá
lucro, pois faz parte de uma dimensão que é muito maior que a
comercial, assim como a exibição
para o público, que me dá uma satisfação diferente da que tenho
mantendo as obras em casa.
Folha - O senhor não tem formação suficiente em artes plásticas
para decidir o que deve comprar
ou não. Quem lhe assessora?
Costantini - Recebo assessoria
do crítico Ricardo Estevez, com
quem converso na hora de qualquer compra, e de Marcelo Pacheco, que é o curador da mostra.
Folha - O surrealismo latino-americano é uma constante em sua
coleção, nos trabalhos de Xul Solar, Wilfrido Lam, Frida Kahlo e
Tarsila do Amaral. O senhor tem
interesse pelo movimento?
Costantini - O surrealismo me
agrada, mas a seleção se fez tecnicamente, em razão da força que o
movimento tem na América Latina, como acontece com a arte concreta ou o realismo social, que
também está presente na coleção.
Mostra: Coleção Costantini (113 obras da
coleção do financista Eduardo Costantini)
Onde: MAM (portão 3 do parque
Ibirapuera, tel. 011/549-9688)
Quando: de terça a sexta, das 12h às 18h
(quinta até 22h); sábados, domingos e
feriados, das 10h às 18h. Até 5 de agosto
Quanto: R$ 5 e R$ 2,50. Entrada gratuita
às quintas e todos os dias para menores de
10 anos e maiores de 65 anos
Patrocínio: Brasmotor, Cesp e TAM
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