São Paulo, sexta, 5 de junho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS
Colecionador e financista argentino apresenta 113 obras de sua coleção até 5 de julho no MAM-SP
Costantini quer América Latina no mundo

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Com lances milionários, como os que arremataram "Auto-Retrato com Macaco e Louro" (US$ 3,2 milhões), da mexicana Frida Kahlo, "Abaporu" ((US$ 1,43 milhão), da brasileira Tarsila do Amaral, e, na semana passada, "A Manhã Verde" (US$ 1,2 milhão), do cubano Wilfrido Lam, o argentino Eduardo Costantini, 50, construiu sua coleção e sua fama.
Parte da primeira ele apresenta a partir de hoje para o público no MAM-SP, na mostra Coleção Costantini. Já com a segunda, conseguida com sua consequente superexposição na mídia, o colecionador pretende colocar a arte latino-americana no mapa e nos melhores museus do mundo, como explicou em entrevista à Folha.
Além das vedetes citadas acima, Costantini possui uma boa coleção de artistas introdutores do modernismo no continente, como os argentinos Emilio Pettoruti e Xul Solar, os uruguaios Pedro Figari e Joaquín Torres-García e a brasileira Tarsila do Amaral.
Faltam-lhe os artistas do muralismo mexicano (Diego Rivera, David Siqueiros e José Clemente Orozco) e uma infinidade de brasileiros: Rego Monteiro, Lasar Segall, Cícero Dias, Brecheret e Maria Martins, entre outros.
Tem, porém, um Botero, que ele justifica. "É um artista inflacionado pelo mercado e que está em decadência, mas que é importante para a cultura pictórica da América Latina. Ele tem seus méritos."

Folha - O senhor construiu sua coleção como investidor ou como colecionador?
Eduardo Costantini -
Nunca pensei como um investidor. Tenho um projeto de vida, que é construir um museu público em Buenos Aires com a melhor coleção pública de arte latino-americana. Na América Latina existe um certo vazio e uma certa desorganização. Temos pouca propensão a dar pouca atenção ao que é nosso.
Pensei que, se tivesse os melhores trabalhos de autores de primeira linha, a coleção teria aceitação nos melhores museus do mundo. Também procuro fazer minhas compras em eventos públicos para que a coleção chame atenção. Pretendo mostrá-la em todos os museus do mundo que pedirem.
Folha - O senhor emprestaria sua coleção para Cuba?
Costantini -
Penso que sim, mas teria que pedir uma assessoria legal. Emprestaria os trabalhos em respeito às pessoas que vivem ali, mas se a ida da coleção fosse usada como uma ponte para negócios econômicos ou políticos de Fidel Castro, não emprestaria.
Emprestaria sim se fosse circunscrita a questões estéticas. A exibição da coleção tem que partir de um projeto asséptico.
Folha - Quais seus planos para a coleção?
Costantini -
Quero que ela se despersonalize em algo como 30 anos. Um museu para ela começará a ser construído no final do ano. Ele terá um nome genérico -Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires- e uma coleção permanente viva, em constante crescimento.
Folha - O senhor não se interessa por arte contemporânea?
Costantini -
Como os artistas jovens estão fora do meu projeto original, criamos um prêmio anual, que seleciona cerca de 60 artistas emergentes por ano. Organizamos uma mostra e um catálogo e compramos obras de dois deles para o acervo.
Folha - O senhor nunca pensou na valorização desses trabalhos?
Costantini -
Custa-me muito trabalho e dinheiro manter a coleção. O momento atual, por exemplo, é recessivo. Eu não poderia ter feito novas aquisições na semana passada, pois tive que desembolsar um montante importante para o momento.
O que eu compro é dinheiro perdido, não ganho. Um museu dá prejuízo todos os anos. Ele não dá lucro, pois faz parte de uma dimensão que é muito maior que a comercial, assim como a exibição para o público, que me dá uma satisfação diferente da que tenho mantendo as obras em casa.
Folha - O senhor não tem formação suficiente em artes plásticas para decidir o que deve comprar ou não. Quem lhe assessora?
Costantini -
Recebo assessoria do crítico Ricardo Estevez, com quem converso na hora de qualquer compra, e de Marcelo Pacheco, que é o curador da mostra.
Folha - O surrealismo latino-americano é uma constante em sua coleção, nos trabalhos de Xul Solar, Wilfrido Lam, Frida Kahlo e Tarsila do Amaral. O senhor tem interesse pelo movimento?
Costantini -
O surrealismo me agrada, mas a seleção se fez tecnicamente, em razão da força que o movimento tem na América Latina, como acontece com a arte concreta ou o realismo social, que também está presente na coleção.

Mostra: Coleção Costantini (113 obras da coleção do financista Eduardo Costantini) Onde: MAM (portão 3 do parque Ibirapuera, tel. 011/549-9688) Quando: de terça a sexta, das 12h às 18h (quinta até 22h); sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Até 5 de agosto Quanto: R$ 5 e R$ 2,50. Entrada gratuita às quintas e todos os dias para menores de 10 anos e maiores de 65 anos Patrocínio: Brasmotor, Cesp e TAM


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.