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MÚSICA
"Maga", co-produzido por Carlinhos Brown, é primeiro trabalho da artista desde o CD de axé "Gente de Festa" (95)
Pós-axé music deixa Margareth ressurgir
DA REPORTAGEM LOCAL
"Maga - Afropop Brasileiro" não é só a volta da baiana Margareth Menezes ao disco após sete anos de afastamento. Significa
também a retomada de um projeto musical que ficara em parte
abortado com a explosão nacional da axé music.
Margareth estreou em disco em
88, pouco após o advento do Olodum. Foi adotada musicalmente
pelo inglês David Byrne, que divulgou seu nome mundialmente,
com ápice na época de "Um Canto pra Subir" (90). "Kindala" (91)
ainda saiu nos moldes de afro-samba-reggae que ela aprendera
com Ilê Ayê e Olodum e desenvolvera com recursos próprios.
Mas veio a axé music de Daniela
Mercury (também precursora,
como ela, mas mais tardia), Ivete
Sangalo, Carla Perez e dezenas de
outros. Margareth foi remetida de
volta ao gueto do obscuro CD
"Luz Dourada" (93) e só pôde
mais lançar, por uma multinacional, "Gente de Festa" (95), totalmente integrado aos preceitos axé
music que antes não faziam parte
de seu repertório.
Não deu certo, e ela tentou voltar a seu ambiente natural e fazer
um outro disco, totalmente autoral -gravado em 98-, que continua inédito até hoje, porque nenhuma gravadora se interessou.
Embora cuidadosa, Margareth
admite que a mudança de parâmetros trazida pelo axé afetou sua
trajetória particular: "Comecei
cantando samba-reggae, já com
um envolvimento direto com a
música de Carnaval. Mas quando
o axé foi criado como rótulo, abafou tudo. Só se podia conceber
naquela linha. Não era real, porque na verdade a Bahia sempre foi
plural. Trouxe vários benefícios
para a área, mas por outro lado
também vetou alguns artistas.
Hoje já vejo uma abertura maior".
"Maga" sai, ironicamente, pela
mesma gravadora que construiu a
hegemonia do axé na década de
90, a Universal. Mas era, originalmente, um projeto independente.
"A gente conseguiu realizar esse
projeto de modo independente,
mas a presença de Carlinhos
Brown e Alê Siqueira como produtores deu a ele um brilho novo.
Estava praticamente na rua quando surgiu essa possibilidade de
vínculo com a Universal, o que até
atrasou um pouco o lançamento."
Ela tenta delimitar as diferenças
entre a combalida axé music e seu
"afropop" redivivo: "Afro é nossa
raiz, trazida pelos africanos, e pop
vem do vocabulário brasileiro,
numa tradição que começou com
a tropicália. Meu disco tem muita
coisa de percussão baiana, quer
mostrar essa baianidade, essa
"afrobrasilidade", com uma postura mais moderna e ousada".
No rol das ousadias, soma-se a
iniciativa de voltar a temas delicados como o racismo, que orienta
por exemplo "Desperta (Preconceito de Cor)", de sua própria autoria. "É claro que o Brasil ainda é
racista. As oportunidades não são
para todos, o afrodescendente
quer ir à universidade, gozar de
todas as benesses que o país pode
oferecer", reivindica.
"O Brasil inteiro adormeceu para essa questão, o povo brasileiro
é passivo. Vivencio isso desde pequena, da novela de TV a ver uma
pessoa chegar num lugar e cumprimentar todo mundo, menos
quem é negro."
"Maga" não significa que Margareth rejeite a cultura axé que a
atropelou. Uma das faixas, "Cai
Dentro" (que Baden Powell e Paulo César Pinheiro compuseram e
Elis Regina lançou em 79), tenta
recolocar os vozeirões femininos
baianos na tradição maior da
MPB. Ali, Margareth chama para
cantar suas rivais de axé/colegas
de adversidade Daniela Mercury e
Ivete Sangalo. Está tudo em casa.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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