São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

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DRUMMOND, 100

Comemoração do centenário do poeta de Itabira tem palestras, leituras e artes plásticas até sexta, em SP

"Sarau" explora as muitas faces do poeta

ROGÉRIO EDUARDO ALVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Carlos Drummond de Andrade faria cem anos em 31 de outubro, mas as comemorações do aniversário começam hoje no teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.
Nomes da criação e dos estudos literários se juntam a personalidades do teatro e das artes plásticas para mostrar a obra do poeta em diferentes dimensões num grande sarau, até sexta.
A idéia é conseguir "combinar a característica oral própria da poesia com as idéias dos conferencistas", explica o poeta Cláudio Willer, "mestre-sala e mestre-de-cerimônias", com o também poeta Carlos Figueiredo, do projeto "Drummond, Cem Anos: Um Poeta e Muitas Vozes", que ocupa o palco do teatro Sérgio Cardoso.
Durante o evento, a palestras e depoimentos de estudiosos se sucederão versos na interpretação de atores convidados. "Quisemos reunir pessoas que tiveram contato pessoal com Drummond ou se dedicaram a estudar sua obra", diz o escritor Fábio Lucas, que participou da escolha dos palestrantes. "Dessa forma, unimos o conceito com a emoção, seja nos depoimentos biográficos ou nas leituras", completa.
Entre aqueles que conviveram com o homem de Itabira está a escritora Lygia Fagundes Telles, cujo depoimento deve contrastar com a abordagem teórica do primeiro dia. "A Lygia tem o sabor da convivência com Drummond, que a tinha em muito boa estima", lembra Lucas.
Além dela, as confidências devem ficar com o crítico Affonso Romano de Sant'Anna. Os inumeráveis poetas influenciados pelo verso do autor do "Poema de Sete Faces" estão representados por Donizete Galvão.
Abordar teoricamente Drummond -dono de uma produção diversificada, que vai de assuntos metafísicos a poemas eróticos "sempre com a mesma naturalidade", como diz Willer- exige visões "poliédricas".
Este será o teor da palestra de Lucas, leitor do poeta há 40 anos, que fala desde um "universalismo provinciano" até de "engajamento político e existencial". Além dele, os críticos Leyla Perrone-Moisés e Alcides Villaça apresentam pilares dessa obra multifacetada.
A demonstração da "andadura dos versos", como diz Figueiredo, fica a cargo da sensibilidade de atores como Sérgio Mamberti, que se apresenta com seu filho Duda. No repertório dos dois, estão poemas como "No Meio do Caminho", "José", "Quadrilha" e "Não Se Mate".
Outros desses atores "que têm paixão pela poesia", como diz Willer, são Maria Alice Vergueiro e José Rubens Chachá, que programaram a leitura, entre outros, de "O Mito" e "Caso do Vestido".
Representantes de um trabalho "mais alternativo" nos palcos, na classificação de Mamberti, Pascoal da Conceição e Helena Ignez lêem poemas como "Necrológio dos Desiludidos do Amor".
Completando a abordagem da obra do itabirano, cinco painéis com reproduções de textos do autor foram preparados pelo artista plástico Antonio Peticov e ocupam o saguão do teatro. "Optamos pelos poemas mais longos, pois são os pontos de maior densidade da obra", diz Figueiredo.
Com tudo isso, não apenas celebra-se a genialidade da poesia drummondiana, mas, como diz Lucas, os "focos de espaços poéticos que se multiplicam pelo país, expressão de um sentimento de nostalgia poética".
"São auditórios lotados para ouvir palestras sobre poesia de qualidade que aumentam minha confiança na humanidade", verseja, concluindo, Willer.


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