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DRUMMOND, 100
Comemoração do centenário do poeta de Itabira tem palestras, leituras e artes plásticas até sexta, em SP
"Sarau" explora as muitas faces do poeta
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Carlos Drummond de Andrade
faria cem anos em 31 de outubro,
mas as comemorações do aniversário começam hoje no teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.
Nomes da criação e dos estudos
literários se juntam a personalidades do teatro e das artes plásticas
para mostrar a obra do poeta em
diferentes dimensões num grande sarau, até sexta.
A idéia é conseguir "combinar a
característica oral própria da poesia com as idéias dos conferencistas", explica o poeta Cláudio Willer, "mestre-sala e mestre-de-cerimônias", com o também poeta
Carlos Figueiredo, do projeto
"Drummond, Cem Anos: Um
Poeta e Muitas Vozes", que ocupa
o palco do teatro Sérgio Cardoso.
Durante o evento, a palestras e
depoimentos de estudiosos se sucederão versos na interpretação
de atores convidados. "Quisemos
reunir pessoas que tiveram contato pessoal com Drummond ou se
dedicaram a estudar sua obra",
diz o escritor Fábio Lucas, que
participou da escolha dos palestrantes. "Dessa forma, unimos o
conceito com a emoção, seja nos
depoimentos biográficos ou nas
leituras", completa.
Entre aqueles que conviveram
com o homem de Itabira está a escritora Lygia Fagundes Telles, cujo depoimento deve contrastar
com a abordagem teórica do primeiro dia. "A Lygia tem o sabor
da convivência com Drummond,
que a tinha em muito boa estima", lembra Lucas.
Além dela, as confidências devem ficar com o crítico Affonso
Romano de Sant'Anna. Os inumeráveis poetas influenciados pelo verso do autor do "Poema de
Sete Faces" estão representados
por Donizete Galvão.
Abordar teoricamente Drummond -dono de uma produção
diversificada, que vai de assuntos
metafísicos a poemas eróticos
"sempre com a mesma naturalidade", como diz Willer- exige
visões "poliédricas".
Este será o teor da palestra de
Lucas, leitor do poeta há 40 anos,
que fala desde um "universalismo
provinciano" até de "engajamento político e existencial". Além dele, os críticos Leyla Perrone-Moisés e Alcides Villaça apresentam
pilares dessa obra multifacetada.
A demonstração da "andadura
dos versos", como diz Figueiredo,
fica a cargo da sensibilidade de
atores como Sérgio Mamberti,
que se apresenta com seu filho
Duda. No repertório dos dois, estão poemas como "No Meio do
Caminho", "José", "Quadrilha" e
"Não Se Mate".
Outros desses atores "que têm
paixão pela poesia", como diz Willer, são Maria Alice Vergueiro e
José Rubens Chachá, que programaram a leitura, entre outros, de
"O Mito" e "Caso do Vestido".
Representantes de um trabalho
"mais alternativo" nos palcos, na
classificação de Mamberti, Pascoal da Conceição e Helena Ignez
lêem poemas como "Necrológio
dos Desiludidos do Amor".
Completando a abordagem da
obra do itabirano, cinco painéis
com reproduções de textos do autor foram preparados pelo artista
plástico Antonio Peticov e ocupam o saguão do teatro. "Optamos pelos poemas mais longos,
pois são os pontos de maior densidade da obra", diz Figueiredo.
Com tudo isso, não apenas celebra-se a genialidade da poesia
drummondiana, mas, como diz
Lucas, os "focos de espaços poéticos que se multiplicam pelo país,
expressão de um sentimento de
nostalgia poética".
"São auditórios lotados para
ouvir palestras sobre poesia de
qualidade que aumentam minha
confiança na humanidade", verseja, concluindo, Willer.
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