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MÚSICA/LANÇAMENTO
RAP
Lançamento do CD tira do ostracismo o artista, agora contratado pela Trama
Pioneiro do hip hop, MC Jack volta com "Meu Lugar"
MARCELO VALLETTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma injustiça histórica é finalmente reparada com o lançamento de "Meu Lugar", álbum de estréia de Jackson Augusto Bicudo
de Moraes, 33, como artista solo
de rap. Conhecido como MC Jack,
é um dos mais respeitados pioneiros do hip hop no Brasil.
Com duas faixas lançadas em
"Hip Hop Cultura de Rua", de
1988, um dos marcos iniciais do
rap no país, que revelou artistas
como Thaíde & DJ Hum e Código
13, Jack escreveu seu nome na história do movimento como um de
seus mais simpáticos representantes, para depois experimentar
o ostracismo.
"Em 91, 92, o rap deu uma guinada, o negócio começou a ficar
mais engajado, politizado, pesado", conta o artista. "Eu achei que
começou a perder a alegria, que
era a essência do hip hop no início. Então, por opção, comecei a
valorizar mais meu lado DJ."
Jack conta que rodou por todo o
Brasil no início dos 90, fazendo
performances como DJ, dando
cursos, disputando campeonatos.
Após mudar para Blumenau
(SC), onde morou por sete anos
-voltou a São Paulo em fevereiro
passado-, Jack tornou-se DJ residente em uma casa noturna e
dedicou-se a várias tendências da
então nascente música eletrônica
brasileira. "Trabalhava com house, tech-house, drum'n'bass, tecno e lancei três discos independentes agregando esses estilos."
Seu disco de rap estava sendo
preparado desde 97, e Jack planejava bancá-lo. Mas, ao participar
do álbum do rapper Criminal D,
lançado neste ano pela Trama,
Jack conheceu João Marcello Bôscoli, presidente da gravadora. "Ficamos conversando a tarde toda
no estúdio. No dia seguinte, recebi uma ligação dizendo que queriam me contratar."
Sobre o álbum, Jack afirma que
não pretendeu seguir nenhuma
corrente atual do rap. "Não quis
fazer música para agradar os "baileiros'", afirma. Algumas canções,
como "Centro da Cidade" e
"Acredite em Mim", foram escritas há cerca de 15 anos.
O pioneiro Jack relembra os primeiro passos da cultura hip hop
no Brasil. "Em 85, 86, eu dançava
break na rua com o Nelsão [o
dançarino Nelson Triunfo" na 24
de Maio com a Dom José de Barros, no centro. Dali, passamos para a estação São Bento. A gente
não imaginava que seria capaz de
fazer rap. A gente fazia rimas batucando nas latas de lixo."
Ele conta que artistas como
Skowa e os roqueiros Nasi e André Jung, do Ira!, ajudaram os
rappers paulistanos a compor. "A
gente não tinha acesso a nada. Foi
muito bom saber que a gente precisava batalhar. A molecada de
hoje reclama muito e faz pouco."
Jack afirma que o potencial do
rap ainda não foi plenamente desenvolvido no Brasil. "Tenho
vontade de falar para os rappers:
"Manos, eu comi capim para vocês comerem caviar, e vocês estão
comendo mortadela ainda, meu".
O hip hop poderia estar melhor.
Mas ele vai crescer muito."
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