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Comida
Aprendiz de cozinheiro
A uma semana do Dia das Crianças, chefs e professores de culinária indicam livros para compor uma biblioteca gastronômi ca infantil
Há uma semana do Dia das Crianças, chefs e professores de culinária indicam livros para compor uma biblioteca gastronômica infantil
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Brincadeira freqüente de
crianças, os alimentos invisíveis compõem suas primeiras
experimentações culinárias. A
seguir, uma pitada de criatividade e ousadia substitui o faz-de-conta por "ingredientes"
palpáveis: folhas, terra, água e
tudo o que passar despercebido
dos olhos dos pais. Até que um
dia a criança finalmente consegue pôr os pés na cozinha para
transformar seja-lá-o-que-for
em algo comestível.
A favor delas "milita" uma série de livros de culinária para
crianças. Na Mille Foglie, livraria nos Jardins especializada
em gastronomia, há mais de 60
títulos voltados a esse segmento -não só em português mas
também em inglês e francês.
À pedido da Folha, chefs e
professores de culinária indicaram seus livros preferidos,
muitos deles testados pelos
próprios filhos, para compor a
biblioteca gastronômica básica
dos aprendizes de cozinheiro.
"[O livro] é uma forma de introduzir a criança na cozinha
de uma maneira divertida", diz
Betty Kövesi, 44, professora e
dona da Escola Wilma Kövesi
de Gastronomia, em Pinheiros.
"Um que fez parte da vida das
minhas filhas quando elas
eram pequenas foi o "Bagunça
na Cozinha". Tem ingredientes
fáceis e receitas que as crianças
podem fazer sozinhas."
Mãe de Laura, 15, Fernanda,
18, e Júlia, 21, a chef do Arabia,
Leila Kuczynski, 52, conta que
as filhas têm até hoje um livro
já gasto pelo excesso de uso, o
""Brinque-Book com as Crianças na Cozinha". "Está cheio de
massa grudada, foi muito manipulado. Ensina os cuidados a
tomar, tem ilustrações bonitas,
e a escolha das receitas é interessante. São dicas que vão servir para sempre."
"Um Tico-Tico no Fubá" é
outro título recomendado por
Betty Kövesi e pela chef e proprietária do Atelier Gourmand,
Heloisa Bacellar, 43. "É uma
gracinha, bem cuidado, um
bom início", diz Bacellar.
Escrito pela publicitária Gisela Tomanik Berland, 44, o livro é uma espécie de "Dona
Benta" versão infantil com pinceladas de Câmara Cascudo, no
qual a história do Brasil e de
seus alimentos é contada na introdução de cada bloco.
"[Alguns livros] acham que
para a criança um macarrão à
bolonhesa está bom. Elas querem realizar, ultrapassar as
barreiras. A grande palavra que
a criança procura na culinária é
transformação", diz a autora,
mulher do chef do Parigi, Erick
Berland, e mãe de duas filhas.
Um livro escrito em casa
Mas nem sempre é com um
livro de receita comprado na livraria que as crianças mergulham no universo gastronômico. Na casa de Silvia Percussi,
chef da Vinheria Percussi,
quem impera é o caderno de receitas da família.
"Na verdade, eu gosto mesmo é da coisa do livro escrito à
mão, com as receitas da família,
que da minha avó passaram para a minha mãe e da minha mãe
para mim", conta.
Foi assim que sua filha, Francesca, 11, aprendeu a fazer, ainda pequena, uma bruschetta de
tomate. "Quando estou cozinhando, ela dá uma olhada,
uma lida, vem e quer fazer."
Para a colunista de gastronomia da Folha, Nina Horta, o
melhor jeito para a criança
aprender a cozinhar é deixar
que ela mesma descubra o que
pode fazer com os ingredientes. "Se você dá à criança água,
sal e farinha e a manda misturar e esticar, ela faz uma massa
de pastel. Sem ter a fórmula
pronta, ela mesmo vai chegando à receita. Sempre vai sair alguma coisa. Ela já começa Ferran Adrià [chef catalão], fazendo experiências, aprendendo o
que acontece com as misturas",
diz. "Para cozinhar bem, a
criança não tem que ter medo
como o adulto. Tem que se jogar. Ir fazendo e, se estragar,
tentar consertar."
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