São Paulo, quinta-feira, 05 de outubro de 2006

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Comida

Aprendiz de cozinheiro

A uma semana do Dia das Crianças, chefs e professores de culinária indicam livros para compor uma biblioteca gastronômi ca infantil

Há uma semana do Dia das Crianças, chefs e professores de culinária indicam livros para compor uma biblioteca gastronômica infantil


JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Brincadeira freqüente de crianças, os alimentos invisíveis compõem suas primeiras experimentações culinárias. A seguir, uma pitada de criatividade e ousadia substitui o faz-de-conta por "ingredientes" palpáveis: folhas, terra, água e tudo o que passar despercebido dos olhos dos pais. Até que um dia a criança finalmente consegue pôr os pés na cozinha para transformar seja-lá-o-que-for em algo comestível.
A favor delas "milita" uma série de livros de culinária para crianças. Na Mille Foglie, livraria nos Jardins especializada em gastronomia, há mais de 60 títulos voltados a esse segmento -não só em português mas também em inglês e francês.
À pedido da Folha, chefs e professores de culinária indicaram seus livros preferidos, muitos deles testados pelos próprios filhos, para compor a biblioteca gastronômica básica dos aprendizes de cozinheiro.
"[O livro] é uma forma de introduzir a criança na cozinha de uma maneira divertida", diz Betty Kövesi, 44, professora e dona da Escola Wilma Kövesi de Gastronomia, em Pinheiros. "Um que fez parte da vida das minhas filhas quando elas eram pequenas foi o "Bagunça na Cozinha". Tem ingredientes fáceis e receitas que as crianças podem fazer sozinhas."
Mãe de Laura, 15, Fernanda, 18, e Júlia, 21, a chef do Arabia, Leila Kuczynski, 52, conta que as filhas têm até hoje um livro já gasto pelo excesso de uso, o ""Brinque-Book com as Crianças na Cozinha". "Está cheio de massa grudada, foi muito manipulado. Ensina os cuidados a tomar, tem ilustrações bonitas, e a escolha das receitas é interessante. São dicas que vão servir para sempre."
"Um Tico-Tico no Fubá" é outro título recomendado por Betty Kövesi e pela chef e proprietária do Atelier Gourmand, Heloisa Bacellar, 43. "É uma gracinha, bem cuidado, um bom início", diz Bacellar.
Escrito pela publicitária Gisela Tomanik Berland, 44, o livro é uma espécie de "Dona Benta" versão infantil com pinceladas de Câmara Cascudo, no qual a história do Brasil e de seus alimentos é contada na introdução de cada bloco.
"[Alguns livros] acham que para a criança um macarrão à bolonhesa está bom. Elas querem realizar, ultrapassar as barreiras. A grande palavra que a criança procura na culinária é transformação", diz a autora, mulher do chef do Parigi, Erick Berland, e mãe de duas filhas.

Um livro escrito em casa
Mas nem sempre é com um livro de receita comprado na livraria que as crianças mergulham no universo gastronômico. Na casa de Silvia Percussi, chef da Vinheria Percussi, quem impera é o caderno de receitas da família.
"Na verdade, eu gosto mesmo é da coisa do livro escrito à mão, com as receitas da família, que da minha avó passaram para a minha mãe e da minha mãe para mim", conta.
Foi assim que sua filha, Francesca, 11, aprendeu a fazer, ainda pequena, uma bruschetta de tomate. "Quando estou cozinhando, ela dá uma olhada, uma lida, vem e quer fazer."
Para a colunista de gastronomia da Folha, Nina Horta, o melhor jeito para a criança aprender a cozinhar é deixar que ela mesma descubra o que pode fazer com os ingredientes. "Se você dá à criança água, sal e farinha e a manda misturar e esticar, ela faz uma massa de pastel. Sem ter a fórmula pronta, ela mesmo vai chegando à receita. Sempre vai sair alguma coisa. Ela já começa Ferran Adrià [chef catalão], fazendo experiências, aprendendo o que acontece com as misturas", diz. "Para cozinhar bem, a criança não tem que ter medo como o adulto. Tem que se jogar. Ir fazendo e, se estragar, tentar consertar."


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