|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Descontração marca encontro de chefs
Jantar do Século, para 80 privilegiados, arrecada R$ 303 mil com cozinheiros acessíveis, apagões de luz e muito vinho
Pratos pré-preparados eram
finalizados por
batalhão de
chefs e estudantes,
com linha
de montagem
minuciosa em
uma cozinha
improvisada
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Havia mais gente por trás,
nos bastidores, do que no suntuoso salão do hotel Grand
Hyatt, em São Paulo, onde 80
privilegiados participaram anteontem à noite do tão aguardado Jantar do Século, organizado pelo Senac São Paulo e pela revista "Prazeres da Mesa".
E foi justamente ali, na sala
contígua à do jantar, o lugar
mais animado e com a melhor
visão do encontro histórico do
seleto grupo de chefs espanhóis, encabeçado por Ferran
Adrià, Martín Berasategui e
Juan Mari Arzak, sob a batuta
do único brasileiro, Alex Atala.
Se, ultrapassado o pelotão de
hostess e fotógrafos, os convidados mantiveram certa formalidade, enquanto aguardavam, na ante-sala, o início do
serviço, na "cozinha" o clima já
era de descontração e festa.
Cozinha, entre aspas, porque
os pratos não saíam de um espaço convencional, mas de uma
comprida sala de montagem,
acarpetada, com longas bancadas. Pré-preparados, eram finalizados por um batalhão de
chefs e estudantes, numa minuciosa linha de produção.
Com um rádio em punho,
Atala fazia a ponte entre o salão
e a "cozinha", ora em espanhol,
ora em português. "Tomate recheado com gazpacho verde. O
chef é o Dani García", repetia
três vezes, antes de o segundo
prato servido à mesa sair.
Entre taças e flashes
Em meio ao entra-e-sai de
bandejas, o clima era, ainda assim, ameno. Numa entressafra
de garçons, Arzak não titubeou
e pegou uma bandeja para ajudar. "No El Bulli, os cozinheiros
também servem", dizia Adrià,
enquanto Arzak destacava o espírito de cooperação: "É um dia
mágico, é formidável estarmos
aqui juntos, longe de casa. Somos amigos e nos ajudamos".
Nem as rápidas piscadas de
luz que, por sucessivas vezes,
deixaram todos no breu na cozinha improvisada atrapalharam o clima de descontração.
O esperado isolamento dos
chefs e o bloqueio do acesso a
eles não ocorreu. Terminada a
primeira parte do menu, com
sete tapas servidas no coquetel,
eles estavam mais relaxados,
especialmente os veteranos.
Solícitos e sorridentes, com
taças de vinho ou copos de caipirinha à mão e compartilhando uma vasilha com o arroz de
montanha de Nando Jubany,
pareciam não se incomodar
com os flashes e o assédio.
Até o ministro da Defesa,
Nelson Jobim, apareceu na
"cozinha" para cumprimentá-los e posar para fotos. Acompanhado da mulher, foi ao jantar a
convite do embaixador da Espanha no Brasil, Ricardo Peidró, e disse que "só recusaria [o
convite] se fosse um doido".
Seu prato preferido? O risoto líquido de coco com azeite de
dendê de Alex Atala.
A seguir, um novo grupo chegava à sala de montagem. Eram
os empresários João Paulo Diniz, Lucília Diniz e Belarmino
Iglesias. E uma nova sessão de
fotos recomeçava.
60 pagantes
Ao final de mais de três horas
de jantar, de uma sucessão de
sete tapas, oito pequenos pratos e quatro sobremesas e com
um grau etílico elevado pairando (cada prato foi harmonizado
com um vinho diferente), a atmosfera alegre dos bastidores
contaminou também o salão.
Após o anúncio da renda obtida com o leilão dos ingressos,
R$ 303 mil vindos de lances de
mais de R$ 5.000 feitos por 60
pagantes, as instituições beneficentes Tide Setubal, Gastromotiva, Projeto Quixote e Mãe
Querida receberam as doações
-os outros 20 ingressos, segundo a organização, foram
destinados a convidados, como
familiares de alguns chefs.
Num pequeno palco, junto de
seus conterrâneos, Adrià voltou a fazer o mesmo comentário já proferido, mais cedo, na
entrevista coletiva: "O Brasil
será a próxima potência mundial da gastronomia. Não só pelos cozinheiros, mas pelos
gourmets que tem. Nós, cozinheiros espanhóis, sempre dizemos que os melhores gourmets do mundo estão aqui".
Para além dos chefs e gourmets, há também os ingredientes brasileiros. E é atrás deles
que Adrià e Arzak vão, no final
da semana, à região amazônica,
ciceroneados por Atala, proclamado por eles o embaixador da
gastronomia brasileira.
Folha Online
Assista a vídeo de
entrevistas com chefs
www.folha.com.br/083091
Texto Anterior: "Primas" da Flip começam amanhã Próximo Texto: Comentário: Esses caras fazem comida de verdade Índice
|