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Twinemen inova som do Morphine
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
O luto costuma gerar notáveis
transformações. Na música, elas
são necessárias, pura questão de
sobrevivência. Qualquer banda
que vê seu líder morrer tem o fim
praticamente decretado.
Alguns, como o Joy Divison,
permaneceram unidos, criaram
um novo nome (New Order) e deram prosseguimento à carreira.
História parecida é a do trio
Morphine, de Boston (EUA).
Mesmo tendo encerrado as atividades, em 1999, com a morte do
frontman, Mark Sandman, que
teve um ataque cardíaco fatal em
pleno show, sua história continua.
Os remanescentes, o baterista
Billy Conway e o saxofonista Dana Colley, juntaram-se à cantora
Laurie Sargent e montaram outro
grupo, Twinemen, que lança seu
disco de estréia, homônimo.
"É uma mistura de duas coisas.
De um lado, é um prolongamento
do Morphine. De outro, é um novo projeto", diz Conway.
O espírito de Sandman ronda o
Twinemen, percebe-se logo nos
primeiros acordes de "Spinner",
canção que abre o disco. O mesmo tom grave de baixo e saxofone, sonoridade característica do
Morphine -grupo que se destacou na década passada justamente pela inusitada formação e que
trafegava entre rock, jazz, blues e
soul-, está presente.
"Não tem jeito, eu e Dana somos muito amigos, tocamos há
muito tempo. Quando nos reunimos, acabamos soando assim."
O grupo surgiu quase que por
acaso. Logo após a morte de
Sandman, Conway pensou em
parar de tocar e "fechar a loja".
Mas a música e a lembrança do
amigo permaneceram tinindo na
cabeça dos dois remanescentes.
Para homenagear Sandman, eles
reuniram nove músicos, todos
também amigos, e criaram a Orchestra Morphine, que fez uma
turnê com as canções da banda.
Uma das integrantes era Laurie
Sargent, que preparava-se para
gravar seu disco solo e chamou os
dois músicos para o estúdio.
"Com o tempo, as canções começaram a mudar e não se encaixavam mais naquilo que ela havia
previsto inicialmente", conta
Conway. "Tivemos outra idéia.
Começamos a gravar sem saber
no que aquilo ia resultar."
Após gravarem o disco, perceberam que aquela experiência poderia continuar. "Foi apenas aí
que resolvemos nos tornar uma
banda. É uma experiência que
nunca vai se repetir, já que agora
sabemos que somos uma banda.
Não sei se isso é bom ou ruim...",
brinca Conway.
No Twinemen, sai o vocal grave
e dramático de Sandman e entra a
também desconcertante Sargent,
que injeta nova tensão à sonoridade misteriosa, com um pé no
free jazz, do Morphine.
"Criamos tudo a partir de improvisações", diz o baterista. "É
como se tivéssemos uma bola de
barro que é puxada de lados diferentes por cada integrante. No começo, a aparência é estranha, mas
com o tempo vai surgindo uma
boa forma."
Se não há um rótulo preciso para o Twinemen, Conway cumpre
seu intento. "Nossa intenção é
criar canções que não se encaixem perfeitamente em nenhuma
descrição", diz o músico. "É importante não soar padronizado. O
rock, no início, foi uma revolução,
mas depois foi se estagnando,
perdendo sua essência."
Com o Twinemen, Conway pretende realizar, em setembro de
2004, um desejo de Sandman
-que chegou a morar no Rio de
Janeiro: fazer shows no Brasil.
TWINEMEN. CD de estréia da banda.
Lançamento: Sum Records. Quanto: R$
26, em média.
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