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São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

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Twinemen inova som do Morphine

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

O luto costuma gerar notáveis transformações. Na música, elas são necessárias, pura questão de sobrevivência. Qualquer banda que vê seu líder morrer tem o fim praticamente decretado.
Alguns, como o Joy Divison, permaneceram unidos, criaram um novo nome (New Order) e deram prosseguimento à carreira.
História parecida é a do trio Morphine, de Boston (EUA). Mesmo tendo encerrado as atividades, em 1999, com a morte do frontman, Mark Sandman, que teve um ataque cardíaco fatal em pleno show, sua história continua.
Os remanescentes, o baterista Billy Conway e o saxofonista Dana Colley, juntaram-se à cantora Laurie Sargent e montaram outro grupo, Twinemen, que lança seu disco de estréia, homônimo.
"É uma mistura de duas coisas. De um lado, é um prolongamento do Morphine. De outro, é um novo projeto", diz Conway.
O espírito de Sandman ronda o Twinemen, percebe-se logo nos primeiros acordes de "Spinner", canção que abre o disco. O mesmo tom grave de baixo e saxofone, sonoridade característica do Morphine -grupo que se destacou na década passada justamente pela inusitada formação e que trafegava entre rock, jazz, blues e soul-, está presente.
"Não tem jeito, eu e Dana somos muito amigos, tocamos há muito tempo. Quando nos reunimos, acabamos soando assim."
O grupo surgiu quase que por acaso. Logo após a morte de Sandman, Conway pensou em parar de tocar e "fechar a loja".
Mas a música e a lembrança do amigo permaneceram tinindo na cabeça dos dois remanescentes. Para homenagear Sandman, eles reuniram nove músicos, todos também amigos, e criaram a Orchestra Morphine, que fez uma turnê com as canções da banda.
Uma das integrantes era Laurie Sargent, que preparava-se para gravar seu disco solo e chamou os dois músicos para o estúdio.
"Com o tempo, as canções começaram a mudar e não se encaixavam mais naquilo que ela havia previsto inicialmente", conta Conway. "Tivemos outra idéia. Começamos a gravar sem saber no que aquilo ia resultar."
Após gravarem o disco, perceberam que aquela experiência poderia continuar. "Foi apenas aí que resolvemos nos tornar uma banda. É uma experiência que nunca vai se repetir, já que agora sabemos que somos uma banda. Não sei se isso é bom ou ruim...", brinca Conway.
No Twinemen, sai o vocal grave e dramático de Sandman e entra a também desconcertante Sargent, que injeta nova tensão à sonoridade misteriosa, com um pé no free jazz, do Morphine.
"Criamos tudo a partir de improvisações", diz o baterista. "É como se tivéssemos uma bola de barro que é puxada de lados diferentes por cada integrante. No começo, a aparência é estranha, mas com o tempo vai surgindo uma boa forma."
Se não há um rótulo preciso para o Twinemen, Conway cumpre seu intento. "Nossa intenção é criar canções que não se encaixem perfeitamente em nenhuma descrição", diz o músico. "É importante não soar padronizado. O rock, no início, foi uma revolução, mas depois foi se estagnando, perdendo sua essência."
Com o Twinemen, Conway pretende realizar, em setembro de 2004, um desejo de Sandman -que chegou a morar no Rio de Janeiro: fazer shows no Brasil.


TWINEMEN. CD de estréia da banda. Lançamento: Sum Records. Quanto: R$ 26, em média.


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