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MÚSICA
Grammy 2000 vive latinização em regra
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Depois a gente reclama do império brasileiro das bundas...
Uma olhadela nas listas de concorrentes ao Grammy mostra, de
cara, que lá por cima a coisa não
anda melhor que por aqui.
OK, não é novidade nenhuma
que o Grammy é uma espécie de
programa da Xuxa misturado
com o programa do Faustão misturados com programa do Gugu
-ou seja, um circo de horrores-, mas, francamente, desta
vez os caras extrapolaram.
É só conferir os indicados a disco do ano: Backstreet Boys, Cher,
Ricky Martin, Santana e TLC! É
possível acreditar que o melhor
da música popular norte-americana em 1999 esteja entre Backstreet Boys e Ricky Martin? O que
então o histórico Santana está fazendo ali no meio? Ah. claSerá só porque
também é latino?
Bem, não cabe muita coisa aqui
dentro, mas há exemplos aos
montes da câmara de tortura em
que o pop se transformou, ao menos do ponto de vista da superindústria fonográfica:
- "Living la Vida Loca", do mesmo ex-Menudo Ricky Martin,
concorre a canção do ano!
- Na categoria de melhor cantor
pop, esbofeteiam-se Lou Bega
(um mambeiro de confeitaria),
Andrea Bocelli, Sting e Ricky
Martin!
- Britney Spears e Christina
Aguilera (mais latinidade) concorrendo a cantoras-revelação
demonstram que Tiazinha e Carla
Perez definitivamente não estão
sozinhas no planeta.
- Em dance music (atenção,
Grammy, os anos 90 foram eletrônicos!), Fatboy Slim terá de enfrentar (quer mais latinos?) Gloria
Estefan e Jennifer Lopez! A propósito, Moby, nome-chave da eletrônica no pop, foi jogado à categoria performance instrumental
de rock -estaria se revirando na
tumba, se estivesse morto.
Conclusão? A latinidade sem
qualquer categoria é a ordem do
dia no "mainstream" americano,
e, sendo assim, não seria de espantar a presença, daqui a pouco,
de Ivete Sangalo, É o Tchan e os
amigos de Gloria Estefan (o Só
pra Contrariar) nas categorias
principais desse "freak show".
Por enquanto, para cá, tudo
continua como sempre foi -Dori Caymmi já meio aceito como
conterrâneo pelos de lá, numa categoriazinha escondidinha, mais
Caetano Veloso promovido a artista de world music, gênero que
já premiou Milton Nascimento e
Gilberto Gil. Caetano concorre,
por "Livro" (97), com gente de nível como Ali Farka Toure, Cesaria
Evora e Salif Keita.
Seria uma honra, ainda que o
quesito "world music" soe como
besteirol, mas há que lembrar que
Caetano, se vencedor, deve acompanhar todo aquele povão de lá de
cima. Bem, pensando bem ele
tem se doído de amores por figuras como Gil da Banda Beijo, miss
Sangalo e outros bichos. Será que
tudo está dentro da ordem, dentro da nova ordem mundial?
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