São Paulo, Quinta-feira, 06 de Janeiro de 2000


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TELEVISÃO/CRÍTICA
"A Muralha" mostra que país não se faz em cinco séculos

TELMO MARTINO
Colunista da Folha


A China pode ficar tranquila. "A Muralha" brasileira nem muralha é. Isso fica bem claro nos primeiros instantes da pesada minissérie.
Pisando pela primeira vez em areias brasileiras, Letícia Sabatela, com a cabeça modelada dentro de um pano preto, tipo "judia não sou, sou cristã nova", aprende logo que a tal muralha é apenas um morro verde. Basta uma caminhada de dois dias que logo se chega a São Paulo de Piratininga, o destino final.
O século é o 17. Como livro quase esquecido, "A Muralha" comemorou o quarto centenário de São Paulo. Reativado, festeja, agora, o novo século. Festeja? Na intenção e no que tem de educativo. Mas ninguém deve se assustar com esse educativo.
A Cláudia Ohana, pintada "como uma moura", desembarca com muito vermelho no trajar para se tornar novamente donzela com um bom casamento. Pedro Paulo Rangel está completamente encantado. Logo irá descobrir que está longe de ser tão ideal.
A figura mais imponente em seu comando é Mauro Mendonça, o perfeito conquistador. Seu filho Tiago (Leonardo Brício) é um rapaz de qualidades. Salva a índia Maria Maya do avanço brutal de um branco e é repreendido pelo pai.
Os índios, aprende-se logo, são descartáveis quando não se prestam a algum trabalho.
No que tropeçam numa aldeia, os brancos decidem: "Vamos poupá-los, vamos atacar". Por ser bom, Tiago está sempre errado. Descobre uma pepita de ouro no riacho. A felicidade acaba logo. "A maior riqueza do sertão é o gentio. Não tem ouro nesta terra."
E o Tiago é ingrato. O pai encomendou-lhe a Leandra Leal como noiva e ele só faz contrariá-lo. A Sabatela também foi encomendada para casar. Para buscá-la no porto, o Alexandre Borges, um colonizador sensível. Toca viola e canta canções de arte. Não é só. Pinta e desenha os frutos mais belos.
Talvez tenha sido o primeiro brasilianista. Os outros só experimentam carambola e nem gostam tanto assim.
Mal apareceu, Matheus Nachtergale teve cena bonita. Como religioso, viveu a emoção de encontrar uma cruz fincada na terra nova. Ele e a Alessandra Negrini, tão diferentes, sabem quem são.
Ela não quer ser mulher naquele país selvagem. Pinta a cara e diz que não é mulher. É onça. Logo foi elogiada como o melhor e mais valente soldado das imediações.
A Leandra Leal está encantada com a primeira preguiça que encontra. Mau sinal? Nem tanto. Logo depois rolou ladeira abaixo só para tentar recuperar a caixa de presentes que trouxe para sua nova família.
E assim os personagens vão conhecendo a nova terra e se mostrando para os novos telespectadores. Falta muita gente.
O velho (no mau sentido) Tarcísio Meira ainda não apareceu. Pelo jeito, o "Tiago Brício" vai continuar sozinho. Ele também não deve gostar muito de índio.
A realidade é essa. Não há data imponente que a televisão desperdice. Logo faz uso de uma história para nos lembrar de que um país não se faz num dia nem em cinco séculos.


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