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TELEVISÃO/CRÍTICA
"A Muralha" mostra que país não se faz em cinco séculos
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
A China pode ficar tranquila.
"A Muralha" brasileira nem
muralha é. Isso fica bem claro
nos primeiros instantes da pesada minissérie.
Pisando pela primeira vez em
areias brasileiras, Letícia Sabatela, com a cabeça modelada
dentro de um pano preto, tipo
"judia não sou, sou cristã nova", aprende logo que a tal muralha é apenas um morro verde. Basta uma caminhada de
dois dias que logo se chega a
São Paulo de Piratininga, o destino final.
O século é o 17. Como livro
quase esquecido, "A Muralha"
comemorou o quarto centenário de São Paulo. Reativado,
festeja, agora, o novo século.
Festeja? Na intenção e no que
tem de educativo. Mas ninguém deve se assustar com esse
educativo.
A Cláudia Ohana, pintada
"como uma moura", desembarca com muito vermelho no
trajar para se tornar novamente donzela com um bom casamento. Pedro Paulo Rangel está completamente encantado.
Logo irá descobrir que está longe de ser tão ideal.
A figura mais imponente em
seu comando é Mauro Mendonça, o perfeito conquistador.
Seu filho Tiago (Leonardo Brício) é um rapaz de qualidades.
Salva a índia Maria Maya do
avanço brutal de um branco e é
repreendido pelo pai.
Os índios, aprende-se logo,
são descartáveis quando não se
prestam a algum trabalho.
No que tropeçam numa aldeia, os brancos decidem: "Vamos poupá-los, vamos atacar".
Por ser bom, Tiago está sempre
errado. Descobre uma pepita de
ouro no riacho. A felicidade acaba logo. "A maior riqueza do
sertão é o gentio. Não tem ouro
nesta terra."
E o Tiago é ingrato. O pai encomendou-lhe a Leandra Leal
como noiva e ele só faz contrariá-lo. A Sabatela também foi
encomendada para casar. Para
buscá-la no porto, o Alexandre
Borges, um colonizador sensível. Toca viola e canta canções
de arte. Não é só. Pinta e desenha os frutos mais belos.
Talvez tenha sido o primeiro
brasilianista. Os outros só experimentam carambola e nem
gostam tanto assim.
Mal apareceu, Matheus Nachtergale teve cena bonita. Como
religioso, viveu a emoção de encontrar uma cruz fincada na terra nova. Ele e a Alessandra Negrini, tão diferentes, sabem
quem são.
Ela não quer ser mulher naquele país selvagem. Pinta a cara
e diz que não é mulher. É onça.
Logo foi elogiada como o melhor e mais valente soldado das
imediações.
A Leandra Leal está encantada
com a primeira preguiça que
encontra. Mau sinal? Nem tanto. Logo depois rolou ladeira
abaixo só para tentar recuperar
a caixa de presentes que trouxe
para sua nova família.
E assim os personagens vão
conhecendo a nova terra e se
mostrando para os novos telespectadores. Falta muita gente.
O velho (no mau sentido) Tarcísio Meira ainda não apareceu.
Pelo jeito, o "Tiago Brício" vai
continuar sozinho. Ele também
não deve gostar muito de índio.
A realidade é essa. Não há data
imponente que a televisão desperdice. Logo faz uso de uma
história para nos lembrar de
que um país não se faz num dia
nem em cinco séculos.
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