WILLIAM F. NICHOLSON
do "USA Today"


Ernest "Chili" Palmer, ex-agiota de Miami Beach que simulou o caminho de seu sucesso como um produtor de cinema de Hollywood, tem um problema: a continuação do seu sucesso "Get Leo" foi por terra.
Claro que ele ainda tem muito dinheiro no banco, uma Mercedes 1978 conversível e uma casa construída em estilo espanhol "praticamente em Beverly Hills". Mas Chili precisa de uma injeção na carreira. Os holofotes se apagaram.
Encontramos Chili pela primeira vez -a engraçada criação do mestre do crime ficcional Elmore Leonard- em "Get Shorty". O romance proporciona cenas hilariantes dos bastidores do cinema.
Agora Leonard está de volta com seu ainda mais engraçado "Be Cool", no qual Chili decide investir em outro negócio sanguessuga de Hollywood -a música- e ainda fazer um filme a respeito.
Este, como todos os livros de Leonard, apresenta um variado leque de bobos, pobres miseráveis, policiais com olhar frio e todo tipo de refugos sociais.
Um exemplo é Linda Moon, operadora de serviços de encontros por telefone e esforçada cantora de um grupo só de garotas -Miki, Viki e Tiki (ela é Miki). Como cover, elas cantam os sucessos das Spice Girls. Mas seu estilo de música é descrito como "AC/DC encontra Patsy Cline".
Ou Elliott "Gay" Willhelm. Com 1,82 m e 117 quilos, o guarda-costas com estilo de Hulk é também conhecido como "a porta humana". E Sinclair Russell, agente do Ropa-Dopa, um grupo de rap formado por gângsteres que se conheceram na prisão estadual de Lampoc.
Para terminar, há Chili Palmer. Ele escreveu o manual do usuário paciente. Nada o perturba. Nem o mendigo russo morto em sua casa.
Mas boa mesmo é a distribuição das personagens caras-de-pau, espalhadas pelas páginas do livro de Leonard como pepitas de ouro. Como nesse diálogo entre Chili e sua ex-namorada:
"Ela entrou com uma urna de porcelana sobre uma caixa de pizza: as cinzas de Tommy e uma pizza especial do Primo extragrande com anchovas.
Elaine abriu a gaveta da cômoda, remexeu o fundo e se virou para ele com dois tabletes brancos em sua mão:
"Pegue um.'
"O que é, um estimulante?'
"Um refrescante bucal.'"