São Paulo, Sábado, 06 de Fevereiro de 1999
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CINEMA
A vida da violoncelista Jaqueline du Pré é transformada em filme que estreou na semana passada em Londres
"Hilary and Jackie" leva polêmica ao clássico

ISABEL CLEMENTE
de Londres

Uma controvertida biografia em película despertou polêmicas no círculo da música clássica européia. Lançado na semana passada em Londres, o filme "Hilary and Jackie" conta a história da violoncelista Jaqueline du Pré (Emily Watson), morta em 87, aos 42 anos, de esclerose múltipla.
Du Pré foi considerada uma das melhores solistas deste século. A doença fez com que ela se aposentasse aos 26 anos, quando já detinha uma fama reconhecida internacionalmente.
O filme reflete o ponto de vista dos irmãos, a flautista Hilary -interpretada por Rachel Griffiths, de "O Casamento do Meu Melhor Amigo"- e o empresário Piers, co-autores da biografia "A Genius in the Family" (Um Gênio na Família). "Hilary and Jackie" mostra como a brilhante carreira de Jaqueline ofuscou os anseios da também musical Hilary, num intrincado jogo de amor fraternal, competição e dependência levado às raias de as duas dividirem um homem.
Na tela, tudo acontece sob o consentimento de Hilary. Na vida, os fatos não teriam sido bem assim, segundo os amigos de Jackie.
A EMI, que detém as gravações originais de du Pré, se recusou a colaborar com o projeto, apesar de já ter providenciado mais CDs para dar conta das vendas.
Sabe-se que o viúvo de Jaqueline, o pianista argentino Daniel Barenboim, radicado em Paris, também se recusou a colaborar com o projeto, que durou três anos.
O violonista britânico John Williams foi o último a engrossar publicamente o coro dos insatisfeitos com a montagem cinematográfica da vida de Jackie. Em entrevista ao jornal "The Observer", Williams disse que "Hilary não tem o direito de deixar para a posteridade uma distorcida imagem de Jackie. É verdade que, nos seus últimos anos de vida, Jaqueline estava terrivelmente doente, mas não como o filme dá a entender".
O longa é dividido nos capítulos "Jackie" e "Hilary". Os mesmos episódios são mostrados com falas e sob ângulos diferentes conforme o entendimento de cada.
Segundo Hilary, sua intenção era falar "do lado familiar, longe do glamour que cercou a vida de Jackie". Em entrevista divulgada junto com as informações sobre a produção do filme, Hilary diminui a importância do triângulo amoroso revelado por sua versão.
Jackie viveu com ela e o marido na casa de campo do casal, na Inglaterra, durante um ano e meio, aproximadamente -período em que esteve separada de Barenboim. Durante sua permanência, teve um caso com o cunhado.
Hilary e Piers, o irmão mais novo, venderam os direitos autorais do livro e concordaram em não interferir durante as filmagens.
"Ficamos muito preocupados, mas o diretor (Anand Tucker) nos convenceu", disse Piers, que contou ter ficado muito emocionado com a primeira cena, na qual aparecem Hilary e Jackie, ainda crianças, brincando na praia.
"Hilary and Jackie" é o primeiro filme em película de Tucker, cujos trabalhos anteriores mais conhecidos haviam sido um filme para a BBC e um documentário.
Sua direção foi elogiada pela crítica, apesar de semelhanças com o filme "Shine", sobre o pianista David Helfgott, que surtou durante uma apresentação, não terem passado despercebidas.
A atriz Emily Watson indicada ao Oscar de melhor atriz, em 1996, por "Ondas do Destino", já é cotada para uma segunda indicação. Ela concorreu ao último Globo de Ouro pela mesma categoria.
Segundo a distribuidora Intermedia, o lançamento do filme no Brasil, previsto para antes do fim de 99, está sendo negociado com a Buena Vista International.


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