São Paulo, Sábado, 06 de Fevereiro de 1999
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Filme é maldade inútil

JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

É uma maldade inútil, uma quase perfídia, transformar Jacqueline du Pré (1945-1987) em personagem de mexericos mundanos que nada subtraem ou acrescentam à sua memória de instrumentista.
O violoncelo, instrumento que se exprime com o sopro da alma, cresceu em suas mãos. A dolorosa interrupção de sua carreira, aos 27 anos, impediu que ela adquirisse a estatura de um Pablo Casals ou de um Mstislav Rostropovich.
Um músico vale pelo som que escreve ou produz. Trair o marido ou levar o cunhado para a cama são atributos pertinentes a personalidades de vida privada exposta.
Jacqueline du Pré foi uma mulher excepcionalmente bela. Concertos documentados pela BBC mostram seus cabelos loiros e escorridos a balançar ao sabor do fraseado ou dos acordes. Mas não era essa a imagem internacional que prevalecia nos anos 60.
A violoncelista britânica, para a maioria dos que a admiraram, era mulher de estúdio de gravação. Foi nessa circunstância que ela nos legou as "Suítes para Violoncelo" números 1 e 2 de J. S. Bach.
Bem mais que as pessoas -familiares ou não- que frequentaram sua cama, Jacqueline du Pré precisará ser lembrada por um único gesto de extrema generosidade. Ela doou seu Stradivarius Davidoff, de 1712, a Yo-Ho Ma. Que ele continue a respeitar a força mística transportada pelo instrumento.


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