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EM CARTAZ
"Titanic" acrescenta um "happy end" à catástrofe
MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha
"Titanic" ultrapassa a marca de
US$ 1 bilhão deixados na bilheteria. É o primeiro a conseguir esse
feito. "Guiness Book - O Livro dos
Recordes" nele!
E, detalhe, o filme estréia só essa
semana na China e Índia, os dois
países mais populosos do planeta.
Já se escuta o tilintar das roleta$$$.
Muitos podem afirmar que já esperavam por isso. Afinal, trata-se
do mais caro filme já produzido
por Hollywood (US$ 200 milhões). Mas a verdade é que ninguém podia prever. O fracasso está
a um degrau de distância do sucesso. São vizinhos, íntimos e vivem
em simbiose.
Exemplos não faltam de superproduções que micaram, sem choro nem vela, a contar "Cleópatra",
"Os Eleitos" e o último detentor
do recorde de produção mais cara,
"Waterworld".
Agora que os números provam a
aceitação de "Titanic", é fácil inclinar a cadeira e lustrar o teclado.
Deu certo por isso e aquilo.
Muitos se perguntavam, antes da
estréia, qual solução seria dada a
um enredo cujo final trágico era
notório, num investimento cuja
maior exigência para o retorno é a
existência de um "happy end".
Simples. Antes da catástrofe, havia um parêntese, uma história de
amor cujo final era feliz: a mocinha rica fica com o mocinho pobre, apesar dos abismos.
Mais banal ainda. O mocinho
pobre, lindão, artista de talento,
traz para seus projetos e para o leito do amor a mocinha rica, lindona, temperamental e culta.
Tal "affaire", cuja situação limite
começa num "se você se jogar deste navio eu também me jogo", é
bem raro nos dias de hoje. É um
amor dos livros da vovó. É um
amor que a maioria sonha viver.
Alguns velhacos sabem que isso
não existe. Mas como provar aos
adolescentes? E um dos fatores
que fazem os produtores faturarem é que muitos adolescentes assistem ao filme mais de uma vez.
Outro dado pertinente. Além do
tom amargo da vitória da natureza
sobre o revolucionário industrial,
o filme resgata o último respiro do
império britânico -imagine se o
Titanic tivesse zarpado de Nova
York e fosse norte-americano...
Inglês era do mal. Era arrogante
e monarquista; a única passageira
que apoiava o inesperado "affaire"
da rica e do proleta era americana.
Na arrogância de um império
terminal, os construtores do símbolo de domínio tecnológico se esqueceram de colocar botes para
nós, platéia, cidadãos de terceira
classe, imigrantes que queriam
trabalhar na terra das oportunidades. Tal arrogância deu com os
burros num pedregulho de gelo.
Titanic foi a pique e a corte democrata condenou os tiranos, exigiu
botes para todas as classes e respeito aos cidadãos dos porões.
Uma vitória da democracia.
"Titanic" é bom. Eu, que sou
muito homem, chorei pigarrinhos. E me deu sussurros de esperança: talvez eu encontre, ainda,
uma mulher como aquela.
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