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CINEMA
Jack Nicholson dá show em conto de fadas feito para adultos
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
"Melhor É Impossível" é uma espécie de "Tootsie" do Oscar-97:
uma comédia "séria", fundada sobre um ator de prestígio, com um
roteiro bem escrito e uma direção
estritamente funcional, cuja aspiração máxima é colocar em relevo
as virtudes da estrela e do enredo.
Funciona? Funciona. Primeiro,
porque a história do escritor anti-social, não raro grosseiro, de
certo modo fala a todos nós.
Qualquer pessoa é um pouco (ou
muito) autista, bloqueada, incapaz de expressar seus sentimentos.
Muitas invertem esses sentimentos, transformando-os em agressividade.
Se isso facilita a identificação do
espectador com o filme, o que
mais pesa, nesse item, é o vigor
das tiradas sarcásticas do escritor.
Do outro lado do balcão estão as
vítimas favoritas do escritor: o vizinho homossexual (interpretado
pelo ator Greg Kinnear) e a garçonete (Helen Hunt) do restaurante
em que almoça e cria caso diariamente.
O que o decorrer do filme nos
reserva não é muito inesperado.
Em linhas gerais, esse homem turrão vai se revelar um sentimental
de bom coração, capaz de criar laços de ternura com a garçonete, o
vizinho e até o cachorro do vizinho.
"Passe-partout"
Como Jack Nicholson tem uma
interpretação agradabilíssima,
"Melhor É Impossível" é o tipo de
filme "passe-partout". Quem não
conseguir entrar na sala onde passa "Titanic" e for vê-lo não ficará
com a sensação de ter perdido o
dia (ou a noite).
A questão é: isso basta? Não basta. Não para um filme que concorre ao Oscar, em todo caso.
Conto de fadas
Vamos recorrer a um filme do
início dos anos 60, "Bonequinha
de Luxo", para efeito de comparação.
Blake Edwards fala ali de um escritor, da impessoalidade das relações na cidade grande, de uma garota fascinada por jóias.
Sente-se a presença de seres humanos, assim como um tom que
nos convida a rir do que existe de
amargo na vida.
A comparação não é tão arbitrária, já que, embora a história seja
bem outra, certos elementos são
comuns.
James L. Brooks optou, no entanto, por criar uma espécie de
conto de fadas para adultos.
Em vez de personagens, nos dá a
ver tipos, meros esboços de seres
humanos, que servem a seus propósitos, mas prescindem de uma
história pessoal.
Estamos mais próximos de uma
comédia sem compromisso, tipo
Doris Day de "Confidências à
Meia-Noite", do que de um "Bonequinha de Luxo".
Com isso, não é de estranhar que
toda a direção tenha como foco os
atores e se afirme antes de mais
nada como um belo veículo para
Jack Nicholson.
Como se prescindisse de imaginação para descrever um mundo,
Brooks joga todas as fichas no
elenco.
Resulta uma direção quadrada,
sem tom, profissional, porém burocrática (o que já era visível em
"Laços de Ternura", de 1983, ou
"Nos Bastidores da Notícia", de
1987, seus trabalhos mais famosos
até aqui).
No geral, o filme cresce cada vez
que Nicholson entra em cena. Poderia ser melhor caso a interpretação de Helen Hunt não evocasse
tão frequentemente Diane Keaton
-a gestualidade facial de Hunt
beira o plágio.
"Melhor É Impossível" faz parte
dessa categoria de obras que entram por um olho e saem pelo outro. Talvez não seja uma deficiência. Parece mais uma escolha, embora duvidosa.
Filme: Melhor É Impossível
Produção: EUA, 1997
Direção: James L. Brooks
Com: Jack Nicholson, Helen Hunt, Greg
Kinnear, Cuba Gooding Jr.
Quando: a partir de hoje, nos cines Belas
Artes-Cândido Portinari, Center Iguatemi
2, Center Norte 3 e circuito
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