SÉRGIO MARTINS
especial para a Folha

"Maverick a Strike" é reggae de ponta, sem tranças quilométricas, saudações a tiranos etíopes nem eternos pedidos de retorno à África. É também o disco de estréia de Finley Quaye, cantor escocês de 23 anos e uma das maiores revelações do chacundum britânico.
Quaye descende de uma família de músicos, que saiu de Gana para tentar a vida no Reino Unido. Pode-se dizer que a maioria se deu bem. O irmão de Quaye tocou guitarra na banda de Elton John nos anos 70. A mãe do cantor, Maxine, batizou o disco de estréia do astro de trip hop Tricky -sobrinho do cantor-, "Maxinquaye".
O parentesco famoso, porém, não credenciou Quaye para o sucesso. O cantor teve de se virar em empregos como entregador de pizzas até gravar um EP em 97 -que, enfim, despertou a atenção da Sony Music. Sorte deles. Lançado em setembro passado, "Maverick a Strike" faturou o prêmio de revelação no último Brit Awards -o maior evento da indústria fonográfica britânica.
Nesse disco o reggae não é ritmo dominante: é apenas o ponto de partida para doses cavalares de soul music, gospel, dub e até mesmo ritmos africanos.
O melhor exemplo é "The Sun Is Shining", composta a partir da canção de Bob Marley (que, aliás, foi creditado como co-autor). Ouve-se guitarras e baterias típicas de rock, enquanto o baixão reggae dita o ritmo da música.
As influências gospel são dominantes em "It's Great When We're Together" (o teclado Hammond deve ter sido tocado em alguma igreja do Harlem). O mesmo ocorre com "Ride On and Turn the People On" (aqui, com um pouco mais de psicodelismo estilo Sly & The Family Stone e uma entonação que remete à gíria jamaicana), enquanto "Ultra Stimulation" é empapuçado de guitarras dub.
Cheio de belos trabalhos vocais e grandes amizades/influências, como George Oban, que fez parte do Aswad, a melhor banda de reggae inglesa, Quaye leva o ouvinte às alturas. Ou, como ele mesmo diz em "It's Great...", "às vezes eu me sinto mais leve do que o ar". Não é só você, Quaye.