São Paulo, sexta, 6 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Diretores amadurecem safra de curtas

LEONARDO CRUZ
free-lance para a Folha

Até o próximo dia 30 de março, as cópias de 40 novos curtas-metragens brasileiros devem ser entregues para a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura. É o resultado do concurso promovido no primeiro semestre do ano passado que premiou 40 projetos com R$ 40 mil.
Pelo regulamento, cada curta-metragista recebeu, entre os meses de julho e agosto, R$ 28 mil, equivalente a 70% do prêmio. O resto do dinheiro só é entregue quando a obra ficar pronta.
Inicialmente, o concurso exigia que os filmes fossem finalizados até dezembro, mas com os inúmeros pedidos de adiamento da data de entrega, a secretaria prorrogou o prazo até o fim deste mês.
São obras de quase todo o país, com temas que variam desde a adaptação de um conto de Clarice Lispector ("Clandestina Felicidade", de Beto Normal e Marcelo Gomes) até a reconstrução de uma batalha na Revolução Farroupilha ("O Duelo", de Jaime Lerner).
Dos 40 projetos, alguns já estão prontos e a maioria está em fase final de pós-produção, passando por montagem de negativo ou edição e mixagem de som.
"Estamos lutando contra o tempo, correndo para deixar tudo pronto dentro do prazo", diz Marina Person. Ela prepara um documentário sobre seu pai, o também cineasta Luís Sérgio Person.
"No Brasil, ninguém consegue sobreviver fazendo só curta-metragem. É preciso ter outra atividade", conta Marina, que apresenta o programa "Cine MTV", da emissora especializada em música.
Outra característica comum a esses novos curtas-metragens é a falta de dinheiro. Mesmo com o prêmio do governo federal, diretores e produtores enfrentam problemas para concluir seus filmes.
"Fiz um monte de dívidas para conseguir dar andamento ao meu projeto", afirma Cristina Leal. Ela prepara "Não me Condenes Antes que me Explique", que narra a passagem de Mário de Andrade pelo Carnaval carioca, em 1923. Com orçamento de R$ 100 mil, ela continua tentando captar recursos para tirar o filme do vermelho.
Um dos poucos trabalhos que já está concluído é "A Árvore da Miséria", de Marcus Vilar. O filme, rodado em preto-e-branco, é uma adaptação de um conto popular paraibano e estreou em João Pessoa no dia 15 de janeiro.
Para Vilar, uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos cineastas que estão fora do eixo Rio-São Paulo é conseguir pessoal e equipamento para as filmagens. "As câmeras e os técnicos têm de vir de fora. Isso encarece a produção."
Com seu filme pronto, Vilar enfrenta outro problema comum entre os curta-metragistas: a distribuição. Poucas são as salas que se dispõem a exibir curtas.
Tentando solucionar a questão, quatro diretores mineiros premiados farão exibições conjuntas de seus filmes. "A Hora Vagabunda", de Rafael Conde, "Castelos de Vento", de Tânia Anaya, "Rua do Amendoim", de João Vargas Penna, e "Bom Dia, Senhoras", de Érika Bauer, estrearão em Belo Horizonte no final deste mês.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.