São Paulo, sexta, 6 de março de 1998

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ACONTECE NO RIO
"Memórias da Subversão" olha para 68

ANNA LEE
da Sucursal do Rio

Dar uma parada em 1998 para olhar 1968. Esta é a proposta do evento "Memórias da Subversão" que o Espaço Unibanco de Cinema (em Botafogo, zona sul do Rio) promove de hoje até 12 de março.
Serão exibidos filmes que marcaram 1968, como "Terra em Transe", de Glauber Rocha, e realizados debates entre pessoas atuantes nos movimentos políticos e culturais da época, como o jornalista e escritor Fernando Gabeira e o cineasta Júlio Bressane.
"Vamos discutir de que maneira esse ano tão mágico e misterioso continua presente na vida da gente. Mas será um olhar mais crítico do que nostálgico", disse o jornalista Zuenir Ventura, coordenador do evento e também mediador dos debates.
Em 1968, o movimento estudantil no mundo -e em especial na França- trouxe ecos para o Brasil. Entidades que foram para a clandestinidade com o golpe de 64 vieram à tona. Estudantes brasileiros reagiram ao regime militar e foram para as ruas pedir liberdade de expressão. Ser politizado, contestador, irreverente e criativo era a tônica do momento. Nasceram a Tropicália, o Cinema Novo, o pacifismo dos hippies.
"68 foi uma espécie de ano zero da modernidade cultural, já que alguns temas abordados naquele tempo continuam atuais, apesar de olhados hoje de uma ótica diferente, como a revolução sexual, o feminismo, o individualismo e a preocupação ecológica", disse.
Para Ventura, "Memórias da Subversão" vai servir para fazer um balanço dos últimos 30 anos no Brasil. "Será importante para avaliarmos o que houve de conquista, de estacionamento, de atraso. Será útil principalmente porque o Brasil é um país que não gosta de olhar para trás, é meio amnésico."
Ventura disse que durante os debates vai dar ênfase aos assuntos que ainda são questões presentes no cotidiano brasileiro e mundial.
"Em 68, o tema ecologia, por exemplo, era incipiente e hoje é uma questão planetária. Isso vem mostrar que as idéias levantadas na época não eram frescuras, como muitas vezes foram consideradas, mas vanguardistas", disse.
O jornalista, que costuma visitar universidades do país para falar de seu livro "1968 -O Ano que não Terminou", em que faz uma radiografia da geração 68, admite que o evento deverá atrair mais pessoas que viveram a época do que a "juventude brasileira".
"Apesar da angústia que verifico nos estudantes com quem falo, percebo uma ausência de preocupação política. Além disso, os jovens hoje estão divididos em tribos, cada uma com uma linguagem própria. Uma aglutinação como a que aconteceu em 68 seria mais difícil", disse, apesar de apostar que "a história sempre surpreende".

Evento: Memórias da Subversão - 30 Anos de 68 Onde: Sala 3 do Espaço Unibanco de Cinema (rua Voluntários da Pátria, 35, Botafogo, tel. 021/266-4491)
Quando: de hoje a 12 de março. Horários no quadro de programação.
Quanto: R$ 7 (sexta a dom.) e R$ 5, (segunda a quinta). Estudantes pagam meia . Para os debates a entrada é franca.



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