São Paulo, sexta, 6 de março de 1998

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Filmes serviam à revolução

da Sucursal do Rio

Para o evento "Memórias da Subversão" foram selecionados filmes que expressam as características da geração 68 descritas por Zuenir Ventura no livro "1968-O Ano Que Não Terminou".
A geração 68 amava os Beatles e os Rolling Stones, protestava ao som de Vandré, Chico ou Caetano, via Glauber e Godard, andava com a alma incendiada de paixão revolucionária e não perdoava os pais -reais e ideológicos- por não terem evitado o golpe de 64.
Era uma juventude que se acreditava política e achava que tudo devia se submeter ao político.
"Escolhemos filmes que refletem o que vivemos na época e sobretudo o gosto, a preferência estética, sem necessariamente falar historicamente de 68", disse Ventura.
Entre eles estão os filmes de Jean-Luc Godard "A Chinesa", de 1967 - sobre o efeito da Revolução Cultural chinesa na juventude francesa-, e "Acossado", de 1960, que conta a história de Michel, um ladrão de carros que mata um guarda sem querer e decide fugir do país, fazendo uma parada em Paris para ver a namorada.
"O Godard era um guru intelectual, as pessoas nem sempre entendiam os filmes dele, mas adoravam. E não era esnobismo de gostar só porque não entendiam. Havia identificação com o clima dos filmes que tinha a ver com a época", afirma Ventura.
Para retratar o imaginário da época também foi escolhido o filme "Terra em Transe", de Glauber Rocha (1967), que conta a história de Paulo, um poeta, que recorda antes de morrer a sua participação nas lutas políticas de seu país.
"Os filmes de Godard foram importantes porque muitas vezes expressavam posições de extrema esquerda, mas "Terra em Transe' foi o filme que realmente nos mobilizou e nos despertou a necessidade de discutir o Brasil", diz Fernando Gabeira.
"Confesso que na época tive uma posição equivocada sobre "Terra em Transe'. Queria que defendesse as minhas posições políticas, ainda achava que a luta armada não era a solução. Depois eu mesmo tomei esse caminho."
A historiadora Heloísa Buarque de Hollanda, que também participará do evento, destaca entre os filmes da mostra "Matou a Família e Foi ao Cinema", de Júlio Bressane (1969). "Tenho o pôster até hoje na minha casa. Marcou porque deixava claro que arte é uma coisa revolucionária e que a mudança poderia ocorrer por meio dela."



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