|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
Tiazinha vai ser sexóloga
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
especial para a Folha
Na cama com Tiazinha.
Os adolescentes brasileiros, ansiosos de amor, irão perguntar-lhe
sobre os problemas do sexo, da
morte e da fome. Consultório libidinoso, didático, pornô.
De repente, Tiazinha pega a banana e ensina aos curumins como
colocar a camisinha na pacóvia.
Simbolicamente, ela é a mulher
que detém o pênis permitido ao
desejo dos homens, como se fosse
o ocaso do complexo de castração
feminino. Tiazinha fálica.
Depois que nos entediamos com
a retórica da "transparência", palavra que não sai da boca dos nossos políticos, chegou a hora e a vez
do culto ao mistério. Sem mistério
mingua o tesão.
Tiazinha é máscara. Persona. Hipocrisia de programa de auditório.
Camuflagem. Ela tira uma de suas
duas calcinhas. Striptease interruptus. A máscara lhe dá segurança para dançar e se livrar da roupa,
porém mantida a nudez em suspenso. A câmera pega Tiazinha em
contraplongé, sempre de baixo para cima, focalizando os glúteos rebolantes.
Consulto em Belo Horizonte o
escritor Jarbas Medeiros, que considero meu guru em assuntos escatológicos, o Rabelais de Minas Gerais.
E Tiazinha? Ele me diz que Tiazinha, esse diminutivo afetivo de
professora primária, é no entanto
o inconsciente recalcado da Xuxa.
O avesso lúbrico da fada loira. A
luxúria da bruxa morena. Todavia,
o avesso não é o contrário. Uma está dentro da outra no imaginário
de auditório. Imagens superpostas. Xuxa e Tiazinha são xifópagas.
Na clivagem cromática que atravessa a cultura brasileira, Xuxa é a
loirosa santificada, enquanto Tiazinha funciona como morena camarão: pura carne. Boca aberta.
Língua de fora. Chicote em riste.
Símile sádica do Ratinho. Ao público macho adulto, Tiazinha é a
promessa da felatio com roupão de
seda e, ao mesmo tempo, a melindrosa da porrada, o virago que se
veste de espartilho, a mulher fatal
de feminilidade prepotente e cruel.
Esta Cleópatra cabocla depila o
corpo do machito que tem volúpia
de apanhar. Enfim, a irada Tiazinha é a lídima expressão da libidinal da algolagnia, ou seja, o prazer
sexual associado à dor.
Os irmãos Goncourt, no final do
século 19, já alertavam: "A maldade no amor, seja física ou moral, é
o sinal do fim das sociedades".
Texto Anterior: Televisão - Crítica: MTV Brasil deve dar ao público aquilo que ele não sabe que quer Próximo Texto: Livros: "Trilogia Suja" é Cuba que Cuba quer esconder Índice
|