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POLÊMICA
O psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg acredita que o escritor tenha sido assassinado pela Gestapo; biógrafos continuam a crer no suicídio
Controvérsia sobre morte de Zweig é reaberta
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
Stefan Zweig, o escritor que em
1901, aos 20 anos, já era celebrado
como um dos mais promissores talentos da literatura de língua alemã, continua monopolizando asatenções na virada de mais um século.
Com o lançamento de seis livros
a partir de novembro deste ano pela editora Record, que acaba de publicar uma biografia sobre Zweig
assinada pela francesa Dominique
Bona, o autor de obras-primas como "A Partida de Xadrez" volta a
marcar presença no mercado editorial brasileiro.
Paralelamente à redescoberta da
obra de Zweig, que vem ocorrendo
também na Europa, renasce no
Brasil a polêmica em torno de sua
morte, ocorrida em Petrópolis, Rio
de Janeiro, em 22 de fevereiro de
1942.
Tão enigmática quanto os destinos que conseguia forjar para seus
personagens, a morte de Zweig
deixou um lastro inesgotável de
suposições.
Cuidadosamente vestido (com
gravata inclusive), Zweig foi encontrado morto na cama, ao lado
de sua segunda mulher, Elisabeth
Charlotte Altmann (Lotte), ex-secretária do escritor, com a qual ele
havia se casado em 1939.
Segundo se concluiu na época, o
casal praticou o suicídio, primeiro
Zweig, depois Lotte, consumando
um pacto macabro cujas razões estariam vinculadas ao desgosto suscitado pela ascensão do nazismo
na Europa.
Fato indubitável para amigos
brasileiros e europeus de Zweig, o
suicídio do casal também tornou-se versão corrente nas biografias
do escritor.
Para o jornalista Alberto Dines,
que está reescrevendo "Morte no
Paraíso", obra biográfica publicada em 1981 e que será relançada em
breve, as 13 cartas de despedida
deixadas pelo escritor comprovam
sua intenção de se matar.
Mesma certeza tem o cineasta
Sylvio Back, que começa a rodar
em agosto o filme "Lost Zweig" -
uma ficção sobre a última semana
de vida de Zweig que, nas telas,
concretizará o encontro nunca
ocorrido entre ele e Orson Welles.
Entretanto, no atual "revival" de
Zweig há uma voz dissonante.
Convencido do assassinato do escritor pela Gestapo, a polícia secreta nazista, o advogado e psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg enviou
requerimento à delegacia de polícia de Petrópolis, em novembro
passado, solicitando o desarquivamento do inquérito policial sobre a
morte de Zweig.
Para Alberto Dines, colunista da
Folha, que em "Morte no Paraíso"
reconstitui as circunstâncias da
morte de Zweig a partir de pesquisas minuciosas, Goldberg quer
apenas se autopromover.
"Goldberg é um picareta, que está se baseando em frases soltas sem
ter feito uma investigação exaustiva", diz Dines.
"Que prejuízo haverá para a história cultural do Brasil se houver
uma reabertura de inquérito para
o esclarecimento de dúvidas sobre
a morte de Zweig?", rebate Goldberg.
Para sustentar sua tese de assassinato, que ele deve apresentar em
abril, no 9º Congresso Mundial sobre a América Latina, organizado
pela Universidade de Tel-Aviv, Israel, Goldberg vem trabalhando
com uma equipe da qual fazem
parte o psiquiatra Silvio Saidemberg e o professor de farmacologia
e toxicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora, dr. Lamir Sagrado David.
"Um dos objetivos da Gestapo
era a destruição dos cérebros pensantes judeus no mundo inteiro",
diz Goldberg. "Zweig pode ter sido
induzido a se matar."
"Na bibliografia universal sobre
o suicídio não existe uma situação
em que o indivíduo fala na primeira pessoa do singular, quando se
mata acompanhado. Zweig se despede em suas cartas sem usar o termo nós. Afinal, ele tomou a decisão junto com Lotte? Tudo isso é
um conto de horror, que precisa
ser esclarecido", afirma o psicanalista.
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