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VIRGÍNIA RODRIGUES
O álbum que Caetano não quis fazer sozinho
da Reportagem Local
A bela cantora
Virgínia Rodrigues lança
"Nós", estimulando a pergunta: quem são
"nós"?
Aí há o diálogo. Em texto promocional, diz o diretor artístico
do trabalho: "Este segundo disco
de Virgínia Rodrigues é o resultado do seu atendimento a um pedido meu: eu queria ouvi-la cantar alguns dos cantos de rua dos
blocos afro do Carnaval baiano".
O diretor artístico do trabalho se
chama Caetano Veloso.
Virgínia responde, na dedicatória do encarte: "Agradeço a Deus
e aos orixás por este diamante da
música popular brasileira a quem
dedico este disco que é nada mais
que uma de suas obras".
Bem, "nós" são Virgínia e Caetano. Este é o novo disco de Caetano, que ele não quis ou não pôde ou não teve coragem de fazer
sozinho.
Quem lança o disco é a Natasha
Records, gravadora da mulher do
diretor artístico, Paula Lavigne
-saiu em fevereiro no exterior,
com sucesso, e o lançamento nacional acontece agora (justamente quando Virgínia está em turnê
nos Estados Unidos, por quê?).
Como se vê, há uma série de paradoxos regendo a carreira de
Virgínia e este "Nós". Descoberta
e apadrinhada por Caetano, ela
estreou com "Sol Negro" (97),
que a inscrevia no rol da nobreza
negra da MPB.
O brutalizado público daqui
não se impressionou. Estaria o
público brasileiro despreparado
para tão legítima brasilidade?
Na volta, o caminho de identidade nacional é reduzido para a
Bahia, em releituras tristonhas
dos temas de blocos afro.
O diretor artístico explica no
texto promocional que a artista
queria fazer outro disco, com "as
canções mais bonitas que se possa
imaginar", mas "esse sonho deverá alimentar o repertório e o estilo
do disco que fará mais adiante".
O sonho de agora -meio fora
do controle de Virgínia, pelo que
eles mesmos dizem- foi feito,
parece, para a primazia extrabrasileira -ela nem sequer está aqui
fisicamente. Nos EUA e na Europa, a cantora só recolhe louvores.
Habitada por seu benfeitor, Virgínia continua exilada de seu país.
E o que se faz para que a Bahia
saia dela própria e ganhe o mundão velho sem porteira? Bem, na
coleção de 12 temas carnavalescos
entristecidos por Virgínia sobra a
velha nobreza negra baiana, bastante combalida nos últimos anos
pelas vertentes populistas do axé.
É justamente a internacionalização que os prejudica. Os arranjos procuram um efeito híbrido,
que mantenha a percussão de bloco e salpicos de samba, mas se invadem de cafonice em flautas,
violinos e garrafas meio new age,
meio música de elevador. A voz
épica, soberana, os resgata e os
enche de ar, mas os paradoxos sublinham a tensão.
E o paradoxo se resolve em inconstância. Virgínia, a este ponto,
não é popular nem sofisticada,
brasileira nem estrangeira, brega
nem chique. E não está, como supunha o tropicalismo, dissolvendo o maniqueísmo de tais pares.
A grande cantora não parece estar se expressando livremente, e a
consequência não é leve para ninguém, em terra de brasileiros-estrangeiros.
(PAS)
Avaliação:
Disco: Nós
Artista: Virgínia Rodrigues
Lançamento: Natasha
Quanto: R$ 20, em média
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