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A MELHOR DAS CAPAS
Fotógrafo dos
Secos & Molhados
toca sax em Penedo
DA REPORTAGEM LOCAL
O autor da idéia e da foto que
ilustram a capa do disco "Secos &
Molhados" (73), vencedora na semana passada de enquete promovida pela Folha, chama-se Antônio Carlos Rodrigues, tem 55
anos, foi repórter, fotógrafo e desenhista e hoje mora em Penedo
(RJ). Nos bares locais, exercita
ainda outra profissão, a de músico saxofonista.
"Sou escolado no sucesso. Ele
apareceu para mim duas vezes,
uma delas quase 30 anos atrás e
outra agora, com essa enquete.
Ela não deixa de ser um sucesso
para mim, mas o sucesso pelo sucesso não me interessa", afirma,
por telefone, de Penedo.
E completa: "Mas ao sucesso de
uma imagem que permaneceu
tão forte por tanto tempo eu sou
muito grato, é claro. Isso me impressiona como fotógrafo, porque a gente pode até fazer boas fotos, mas com o tempo a força das
imagens se dilui. Isso não acontece com essa foto. A vida do objeto
de arte, quando ele é verdadeiro, é
longa demais, vai além da gente".
Embora causasse espécie na
época -e ainda hoje, como mostrou a enquete em que capas de álbuns de Tom Zé e Gal Costa ficaram em segundo e terceiro lugares, respectivamente-, a capa do
LP de estréia dos Secos & Molhados não rendeu a ele uma trajetória de capista ou de fotógrafo de
discos ou bandas.
Depois de ter concebido as capas de dois álbuns dos S&M e de
um livro sobre o grupo editado
em 74 (e hoje fora de circulação),
Rodrigues fotografou o Pantanal
e cavalos de raça, mas capas de
discos nunca mais.
"É engraçado isso, até assusta.
Se eu fosse americano, teria feito 1
trilhão de capas depois daquela.
Isso é o que divide os países desenvolvidos dos não desenvolvidos", diz ele, que morou na Europa entre 1965 e 1973 e estudou cinema na Polônia. "A próxima capa que vou fazer vai ser a do meu
disco", brinca.
Ele e sua família ainda guardam
o exemplar de 1973 da revista "Fotoptica" de onde foi recolhida, pelos Secos & Molhados (por sugestão de João Apolinário, pai de
João Ricardo e colega de Rodrigues no jornal "Última Hora"), a
idéia para as cabeças cortadas do
LP (veja fotos nesta página).
"Numa viagem para o Rio, vi na
praia meninas com uns corações
grandes de purpurina no rosto,
pensei em fazer um ensaio inspirado naquilo. Chamei o maquiador Silvinho, e começamos a
criar", lembra.
Fez as sessões com sua mulher
na época, que acabaram publicadas na "Fotoptica". Daí ao interesse dos Secos & Molhados:
"O pai de João Ricardo trabalhava comigo no "Última Hora" e
pediu que eu desse uma ajuda aos
meninos. Vi um show deles, que
ainda faziam sem máscaras. Falaram que a gravadora não acreditava neles, que tinham uma quantia insólita para me pagar. Mostrei
as fotos da "Fotoptica". Acharam
arrojado demais, mas entenderam que era uma grande idéia".
Ele dá a versão de que ali nascia
a idéia de os S&M serem os andróginos mascarados que foram.
"Um dos quatro, o baterista Marcelo, não gostou da idéia de se
maquiar, tanto que saiu do grupo
logo depois. Ney no máximo usava batom antes disso."
Por fim, ele intervém sobre a
discórdia em torno de S&M versus Kiss, banda mascarada americana formada em 72 que estreou
em disco um ano depois da brasileira, com máscaras e maquiagens
comparáveis.
"Há essa versão idiota de termos copiado o Kiss. Eu nunca havia ouvido falar em Kiss na vida.
O Kiss é que, se quis, copiou a
gente. O inverso, tenho certeza
absoluta de que não."
(LÚCIO RIBEIRO e PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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