São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A MELHOR DAS CAPAS

Fotógrafo dos Secos & Molhados toca sax em Penedo

DA REPORTAGEM LOCAL

O autor da idéia e da foto que ilustram a capa do disco "Secos & Molhados" (73), vencedora na semana passada de enquete promovida pela Folha, chama-se Antônio Carlos Rodrigues, tem 55 anos, foi repórter, fotógrafo e desenhista e hoje mora em Penedo (RJ). Nos bares locais, exercita ainda outra profissão, a de músico saxofonista.
"Sou escolado no sucesso. Ele apareceu para mim duas vezes, uma delas quase 30 anos atrás e outra agora, com essa enquete. Ela não deixa de ser um sucesso para mim, mas o sucesso pelo sucesso não me interessa", afirma, por telefone, de Penedo.
E completa: "Mas ao sucesso de uma imagem que permaneceu tão forte por tanto tempo eu sou muito grato, é claro. Isso me impressiona como fotógrafo, porque a gente pode até fazer boas fotos, mas com o tempo a força das imagens se dilui. Isso não acontece com essa foto. A vida do objeto de arte, quando ele é verdadeiro, é longa demais, vai além da gente".
Embora causasse espécie na época -e ainda hoje, como mostrou a enquete em que capas de álbuns de Tom Zé e Gal Costa ficaram em segundo e terceiro lugares, respectivamente-, a capa do LP de estréia dos Secos & Molhados não rendeu a ele uma trajetória de capista ou de fotógrafo de discos ou bandas.
Depois de ter concebido as capas de dois álbuns dos S&M e de um livro sobre o grupo editado em 74 (e hoje fora de circulação), Rodrigues fotografou o Pantanal e cavalos de raça, mas capas de discos nunca mais.
"É engraçado isso, até assusta. Se eu fosse americano, teria feito 1 trilhão de capas depois daquela. Isso é o que divide os países desenvolvidos dos não desenvolvidos", diz ele, que morou na Europa entre 1965 e 1973 e estudou cinema na Polônia. "A próxima capa que vou fazer vai ser a do meu disco", brinca.
Ele e sua família ainda guardam o exemplar de 1973 da revista "Fotoptica" de onde foi recolhida, pelos Secos & Molhados (por sugestão de João Apolinário, pai de João Ricardo e colega de Rodrigues no jornal "Última Hora"), a idéia para as cabeças cortadas do LP (veja fotos nesta página).
"Numa viagem para o Rio, vi na praia meninas com uns corações grandes de purpurina no rosto, pensei em fazer um ensaio inspirado naquilo. Chamei o maquiador Silvinho, e começamos a criar", lembra.
Fez as sessões com sua mulher na época, que acabaram publicadas na "Fotoptica". Daí ao interesse dos Secos & Molhados:
"O pai de João Ricardo trabalhava comigo no "Última Hora" e pediu que eu desse uma ajuda aos meninos. Vi um show deles, que ainda faziam sem máscaras. Falaram que a gravadora não acreditava neles, que tinham uma quantia insólita para me pagar. Mostrei as fotos da "Fotoptica". Acharam arrojado demais, mas entenderam que era uma grande idéia".
Ele dá a versão de que ali nascia a idéia de os S&M serem os andróginos mascarados que foram. "Um dos quatro, o baterista Marcelo, não gostou da idéia de se maquiar, tanto que saiu do grupo logo depois. Ney no máximo usava batom antes disso."
Por fim, ele intervém sobre a discórdia em torno de S&M versus Kiss, banda mascarada americana formada em 72 que estreou em disco um ano depois da brasileira, com máscaras e maquiagens comparáveis.
"Há essa versão idiota de termos copiado o Kiss. Eu nunca havia ouvido falar em Kiss na vida. O Kiss é que, se quis, copiou a gente. O inverso, tenho certeza absoluta de que não." (LÚCIO RIBEIRO e PEDRO ALEXANDRE SANCHES)




Texto Anterior: Erika Palomino: Noite de São Paulo vai do underground à elite
Próximo Texto: Capa do disco do grupo vence até na Internet
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.