TETÉ RIBEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

O diretor francês Jean-Jacques Annaud, 57, não tem uma obra extensa. São nove filmes, contando com "Enemy at the Gates", que estréia hoje em São Paulo. Entre eles, pelo menos dois inesquecíveis: "A Guerra do Fogo", de 81, e "O Nome da Rosa", de 86.
Ele se diz um apaixonado por grandes histórias. Durante a entrevista que deu no lançamento do filme nos EUA, estendeu o tempo da conversa em 20 minutos, explicando para uma aflita assessora de imprensa que tentou várias vezes encerrar a entrevista que era o tempo que gastava "para fazer as histórias parecerem mais interessantes".

Folha - Por que este filme?
Jean-Jacques Annaud - Um dos meus melhores amigos é roteirista e tem origem russa. Ele sempre gostava de me ouvir dizer como eu queria fazer um filme lá. Já fui convidado a ir à Rússia várias vezes e sempre achei o país muito exótico, muito mais que o Taiti ou alguma ilha do Caribe. Um dia esse colega chegou à minha casa de campo com um livro, que era "Enemy at the Gates". Eu li três páginas e me apaixonei pela história. O jeito como o autor ia da pequena história, que é a história do Vassili, para a grande história, que é a história da Rússia, é fascinante nesse livro.

Folha - O que é inventado?
Annaud - Apenas algumas cenas. Mas Vassili se tornou mesmo um grande herói durante o curso de nove dias. Isso me surpreendeu muito, os russos estavam precisando tanto de um herói naquele momento que elevaram ao máximo a imagem desse homem. E ele também se convenceu da necessidade de viver como um herói.

Folha - E a garota é real?
Annaud - Bem, inventamos que ela estava entre ele e seu melhor amigo, mas partimos de algo muito real, que foi a presença maciça das mulheres no Exército. Elas foram vitais em Stalingrado, ficavam no front, iam à luta como os homens e eram lindas.

Folha - Mas o nazista do filme é cruel demais, não? Ele enforca um garoto de 10 anos...
Annaud - Isso também saiu dos livros de história. Vi uma foto que me impressionou muito, de várias mulheres indo às compras no meio de uma rua cheia de garotos pendurados nas árvores. Essa era a punição para quem traísse a confiança dos nazistas. E as mães eram obrigadas a assistir.


Filme: Círculo de Fogo
Direção: Jean-Jacques Annaud Produção: Alemanha/EUA/Reino Unido/Irlanda, 2001 Com: Joseph Fiennes, Jude Law, Rachel Weisz, Ed Harris Quando: a partir de hoje, nos cines Butantã, Interlagos, Jardim Sul, Pátio Higienópolis e circuito

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