São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

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Longa ironiza patrocinadores com morte súbita

DA REPORTAGEM LOCAL

A diretora Carla Camurati abre a comédia "Irma Vap -O Retorno" com o que chama de "uma piada que nem todo mundo percebe".
Na primeira cena do filme, um veterano produtor teatral contabiliza, das coxias, os parcos espectadores de seu espetáculo. Ele soma as dívidas acumuladas com mais um fracasso teatral. Sofre um infarto e morre antes que a cortina se abra.
Mas o espectador do filme não "vê" essa cena. O destino fatal do produtor é narrado em "off". Nessa hora, Camurati enche a tela com as marcas dos patrocinadores de seu filme, orçado em R$ 6 milhões, incluindo despesas com o lançamento.
Com a sutileza dessa morte de um certo tipo de teatro, Camurati lança sua crítica ao modelo de financiamento da cultura brasileira que combina leis federais de renúncia de Imposto de Renda e a decisão de diretores de marketing de grandes corporações sobre que projetos merecem receber o "incentivo".
No caso do cinema, esse formato segundo o qual os filmes brasileiros são patrocinados pela iniciativa privada com dinheiro público é dominante desde 1994, ano em que a Lei do Audiovisual foi posta em marcha.
Era o início da "retomada da produção nacional", após o declínio experimentado na presidência de Fernando Collor de Mello (1990-1992), que sepultou o modelo anterior, gerido pela Embrafilme, ao extinguir o órgão, suspeito de malversações.
Camurati tornou-se a musa da dita "retomada", quando seu primeiro longa, "Carlota Joaquina" (1995), alcançou 1 milhão de espectadores, marca que parecia inatingível a um título brasileiro da época. (SA)


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