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Longa ironiza patrocinadores com morte súbita
DA REPORTAGEM LOCAL
A diretora Carla Camurati
abre a comédia "Irma Vap
-O Retorno" com o que chama de "uma piada que nem
todo mundo percebe".
Na primeira cena do filme,
um veterano produtor teatral contabiliza, das coxias,
os parcos espectadores de
seu espetáculo. Ele soma as
dívidas acumuladas com
mais um fracasso teatral. Sofre um infarto e morre antes
que a cortina se abra.
Mas o espectador do filme
não "vê" essa cena. O destino fatal do produtor é narrado em "off". Nessa hora, Camurati enche a tela com as
marcas dos patrocinadores
de seu filme, orçado em R$ 6
milhões, incluindo despesas
com o lançamento.
Com a sutileza dessa morte de um certo tipo de teatro,
Camurati lança sua crítica ao
modelo de financiamento da
cultura brasileira que combina leis federais de renúncia
de Imposto de Renda e a decisão de diretores de marketing de grandes corporações
sobre que projetos merecem
receber o "incentivo".
No caso do cinema, esse
formato segundo o qual os
filmes brasileiros são patrocinados pela iniciativa privada com dinheiro público é
dominante desde 1994, ano
em que a Lei do Audiovisual
foi posta em marcha.
Era o início da "retomada
da produção nacional", após
o declínio experimentado na
presidência de Fernando
Collor de Mello (1990-1992),
que sepultou o modelo anterior, gerido pela Embrafilme, ao extinguir o órgão,
suspeito de malversações.
Camurati tornou-se a musa da dita "retomada", quando seu primeiro longa, "Carlota Joaquina" (1995), alcançou 1 milhão de espectadores, marca que parecia inatingível a um título brasileiro
da época.
(SA)
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