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SALVADOR
PercPan é feito de encontros surpreendentes
CARLOS CALADO
enviado especial a Salvador
Aparentemente, seria apenas
uma retrospectiva dos dois primeiros concertos. No entanto, o
público presente à noite de encerramento do PercPan -que terminou na madrugada de ontem, em
Salvador- foi premiado com vários encontros inéditos.
O mais emocionante, sem dúvida, aconteceu sob a forma de um
festivo "gran finale": os mais de
150 músicos uniram-se, no palco
do teatro Castro Alves. Sob o comando do mestre senegalês Doudou Rose e de Gilberto Gil, cantaram juntos pela paz mundial.
Ver tantos africanos, japoneses e
brasileiros de vários cantos do
país, sorrindo e interagindo com
seus instrumentos, dava a qualquer um a nítida impressão de que
essa paz é mesmo possível.
Foram quatro horas exatas de
música quase ininterrupta -da
abertura com Gilberto Gil e o afoxé Filhos de Gandhy até a exibição
de Doudou Rose e sua vibrante orquestra de percussão, que inclui
dez mulheres.
Dançando e cantando, graciosas
e sorridentes, as garotas emprestam um toque de delicadeza à violência frenética dos tambores falantes do grupo senegalês.
Japão
A presença feminina também é
responsável direta pelo carisma do
grupo japonês Wadaiko Yamato
-outro favorito da platéia, que
chegou a aplaudi-lo de pé.
Os gestos majestosos e o caráter
tipicamente marcial da música
percussiva japonesa ganharam
um tom mais sutil quando ela foi
tocada pelas garotas -algo impensável, nessa rígida tradição, até
muito pouco tempo atrás.
Numa noite dominada por vários tipos de tambores, brilhou
também o virtuosismo de Aja
Addy (de Gana), que impressiona
por sua técnica e velocidade, especialmente nos "talking drums" e
no "djembé" (um tambor cilíndrico, tocado com uma baqueta
encurvada, sob um dos braços).
Muito bem-humorado, rebolando mais que Carla Perez, com uma
divertida dança de feiticeiro, o
percussionista africano arrancou
sorrisos e muitos aplausos.
Outra atração que conquistou de
imediato a platéia, tanto na sexta-feira como no sábado, foi a
banda Lactomia. A exibição segura e criativa dos garotos, afilhados
musicais de Carlinhos Brown, indica que a banda pode se tornar
rapidamente a próxima sensação
do gênero, depois da Timbalada.
Hermeto
Repetindo o impacto de sua
apresentação na noite de abertura,
Hermeto Pascoal deixou de lado,
mais uma vez, seus saxofones e teclados, para comandar um concerto de percussões inusitadas.
Ganhou logo a platéia com uma
suíte composta por sucessos de
Dorival Caymmi, Gil e Caetano
Veloso, instrumentada para cinco
garrafas. Mas também exibiu novidades, como uma composição
para dez tubos metálicos. Mais
uma vez, o "bruxo" alagoano deixou o público boquiaberto.
Se Hermeto convocou Gil e Naná Vasconcelos para dividirem
um improviso, a cantora e bailarina Alessandra Belloni fez o mesmo com o flautista e o violinista da
banda Frutos do Mangue. A performance da italiana, especialista
em pandeiros, ganhou bastante
com essa parceria.
Aliás, quem viu o show de estréia dos Frutos do Mangue
-banda que destaca Alceu Valença, Naná e músicos do grupo Mestre Ambrósio- pôde sentir a vantagem do show de sábado.
Mais à vontade, a banda pernambucana aprimorou sua deliciosa seleção de ritmos locais, como o coco, o maracatu e o forró,
com direito a vistosas coreografias
do quarteto de vocalistas.
Já a exibição dos pagodeiros Bezerra da Silva, Jovelina Pérola Negra e Zeca Pagodinho, como era
de esperar, repetiu o sucesso da
estréia, mesmo com o repertório
um pouco modificado.
Fazendo um balanço pessoal dos
primeiros cinco anos do PercPan
-durante uma entrevista coletiva, no sábado- Gilberto Gil disse
que o festival poderá utilizar espaços alternativos, já em 99, como a
concha acústica do próprio teatro
Castro Alves.
Com uma edição muito bem-sucedida, em termos artísticos e de
organização, o PercPan parece ter
se firmado de vez como um evento
original, que não fica devendo nada a outros festivais do gênero no
cenário internacional.
O jornalista
Carlos Calado viajou a Salvador a
convite da Beth Cayres Produções.
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