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SÃO PAULO
Liminha pega carona
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
É inegável que Liminha seja um
dos principais responsáveis pela
sonoridade do pop brasileiro dos
últimos 18 anos, mas tende-se a
considerá-lo um ser ubíquo.
Se moldou o Gilberto Gil dos
anos 80, salvou os Titãs do bilhete
azul na WEA e esteve com os Paralamas quando estes trocaram a Inglaterra pelo Nordeste, seu crédito
no rótulo dos CDs de Chico Science, Cidade Negra, O Rappa e Fernanda Abreu não atesta uma contribuição efetiva para a invenção
do mangue beat ou a modernização do samba-funk carioca.
Mas foi com um certo espírito
"idolatrizante" que seus clientes
dividiram com ele o palco do Heineken Concerts, sexta e anteontem, em São Paulo. Parecia um daqueles shows de emissoras de rádio, em que os artistas trocam seus
cachês por uma execução mais
efetiva de seus hits. Tocam poucas
músicas e voltam para um final
apoteótico, cantando juntos.
Nas duas noites, Liminha fez-se
acompanhar por uma banda estridente, com uma seção de metais
de efeito mais visual que auditivo
(vestidos como os Blues Brothers), apesar da presença de Serginho Trombone e Marcio Montarroyos. A tônica estava na guitarra de Fernando Vidal -sobreviveria sem um pedal?- e na bateria pesada de Claudio Farias.
Mas todo o aparato era desmobilizado quando surgiam as bandas,
que nenhuma mudança promoviam em suas músicas. Liminha ficava no palco, era afinal o homenageado, ainda que para tocar
surdo com os Virgulóides.
O público parece ter antevisto
que assim seria, e se concentrou
no que interessava, a saber, Gabriel na sexta e Hemp e Rappa no
sábado. Não era por Liminha que
a molecada pulava junto ao palco.
Mas o produtor soube mais uma
vez entender o seu papel. O desfile
de hits, o espaço melhor dado para
as bandas mais populares e a ordem das apresentações foram excelentes ingredientes.
Liminha não quis extrapolar sua
função de coadjuvante, alterar o
material original dos convidados
ou dar lições de virtuosismo como
instrumentista. Discreto, conseguiu no palco o que consegue fora
dele: pegar carona nas boas idéias
dos artistas que assessora.
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