São Paulo, segunda, 6 de abril de 1998

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SÃO PAULO
Liminha pega carona


PAULO VIEIRA
especial para a Folha

É inegável que Liminha seja um dos principais responsáveis pela sonoridade do pop brasileiro dos últimos 18 anos, mas tende-se a considerá-lo um ser ubíquo.
Se moldou o Gilberto Gil dos anos 80, salvou os Titãs do bilhete azul na WEA e esteve com os Paralamas quando estes trocaram a Inglaterra pelo Nordeste, seu crédito no rótulo dos CDs de Chico Science, Cidade Negra, O Rappa e Fernanda Abreu não atesta uma contribuição efetiva para a invenção do mangue beat ou a modernização do samba-funk carioca.
Mas foi com um certo espírito "idolatrizante" que seus clientes dividiram com ele o palco do Heineken Concerts, sexta e anteontem, em São Paulo. Parecia um daqueles shows de emissoras de rádio, em que os artistas trocam seus cachês por uma execução mais efetiva de seus hits. Tocam poucas músicas e voltam para um final apoteótico, cantando juntos.
Nas duas noites, Liminha fez-se acompanhar por uma banda estridente, com uma seção de metais de efeito mais visual que auditivo (vestidos como os Blues Brothers), apesar da presença de Serginho Trombone e Marcio Montarroyos. A tônica estava na guitarra de Fernando Vidal -sobreviveria sem um pedal?- e na bateria pesada de Claudio Farias.
Mas todo o aparato era desmobilizado quando surgiam as bandas, que nenhuma mudança promoviam em suas músicas. Liminha ficava no palco, era afinal o homenageado, ainda que para tocar surdo com os Virgulóides.
O público parece ter antevisto que assim seria, e se concentrou no que interessava, a saber, Gabriel na sexta e Hemp e Rappa no sábado. Não era por Liminha que a molecada pulava junto ao palco.
Mas o produtor soube mais uma vez entender o seu papel. O desfile de hits, o espaço melhor dado para as bandas mais populares e a ordem das apresentações foram excelentes ingredientes.
Liminha não quis extrapolar sua função de coadjuvante, alterar o material original dos convidados ou dar lições de virtuosismo como instrumentista. Discreto, conseguiu no palco o que consegue fora dele: pegar carona nas boas idéias dos artistas que assessora.



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