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EVENTO
Diretores discutiram no auditório da Folha a relação e os limites entre o cinema documental e a ficção
Debate aborda fronteiras do documentário
da Redação
A invasão do documentário pela
narrativa de estrutura ficcional e a
adequação de uma forma ao objeto que ela pretende revelar foram
alguns dos pontos que geraram
maior discussão no debate "O Documentário Hoje", que aconteceu
na última quinta-feira, no auditório da Folha.
Promovido pelo jornal e pelo 3º
É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários, que
aconteceu de 27 de março a 2 de
abril no Rio e de 30 de março até
ontem em São Paulo, o evento
contou com a participação de três
cineastas.
O alemão Klaus Wildenhahn, a
brasileira Tata Amaral (que além
da ficção "Um Céu de Estrelas"
também dirigiu os documentários
"Queremos as Ondas no Ar" e
"Poema-Cidade") e o historiador,
crítico e documentarista escocês
Kevin Macdonald iniciaram a discussão falando sobre o apelo do
gênero junto ao público.
Respondendo à provocação do
mediador do debate, o jornalista
Sérgio Dávila, editor da Ilustrada,
sobre a possibilidade de um documentário fazer tanto sucesso
quanto o filme "Titanic", de James
Cameron, Wildenhahn respondeu
que isso não o interessava.
"Mas documentários bem distribuídos, sobre lugares exóticos ou
que tenham um caráter de aventura talvez possam ser sucesso de bilheteria", acrescentou.
O maior apelo da ficção junto ao
público acabou levando à discussão sobre os limites entre os dois
gêneros cinematográficos.
O filme "Mas Afinal Quem É Juliette?", de Carlo Marcovich, exibido dentro da mostra competitiva internacional do festival, serviu
como exemplo da interferência da
narrativa ficcional no filme documental.
Essa produção mexicana conta a
história de uma adolescente cubana que se prostitui. A cineasta Tata
Amaral, após concluir que alguns
documentários têm uma verve
dramática, chamou a atenção para
o fato de, no caso do filme citado,
a obra interferir na vida da pessoa
que é o seu objeto.
No caso, Juliette acaba encontrando o pai, que não via desde os
seis meses de vida. "O filme parte
de um desejo de documentar a vida de Juliette e acaba por revelar
para a menina sua própria história", disse a diretora.
Macdonald acrescentou que a
câmera pode ser um catalisador.
"Ela interfere na situação, faz as
coisas acontecerem e interage com
a verdade", afirmou.
"O documentário é sempre o
discurso de alguém e emite um
ponto de vista já a partir da escolha de um enquadramento", concluiu Amaral.
Wildenhahn concordou, acrescentando que a direção é sempre
algo subjetivo e que corresponde a
um interesse específico do diretor.
Quanto à questão da verdade, o
alemão afirmou que ela "pode estar tanto no documentário quanto
na ficção, mas a estrutura narrativa do segundo deve ser diferente".
A forma apropriada para abordar um determinado assunto foi
destacada por Tata Amaral como
um dos pontos fundamentais na
confecção de um filme.
Idéia reforçada por Kevin Macdonald. "É essencial haver honestidade na busca de uma maneira
correta para tratar um tema específico", afirmou.
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