São Paulo, segunda, 6 de abril de 1998

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EVENTO
Diretores discutiram no auditório da Folha a relação e os limites entre o cinema documental e a ficção
Debate aborda fronteiras do documentário

da Redação

A invasão do documentário pela narrativa de estrutura ficcional e a adequação de uma forma ao objeto que ela pretende revelar foram alguns dos pontos que geraram maior discussão no debate "O Documentário Hoje", que aconteceu na última quinta-feira, no auditório da Folha.
Promovido pelo jornal e pelo 3º É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários, que aconteceu de 27 de março a 2 de abril no Rio e de 30 de março até ontem em São Paulo, o evento contou com a participação de três cineastas.
O alemão Klaus Wildenhahn, a brasileira Tata Amaral (que além da ficção "Um Céu de Estrelas" também dirigiu os documentários "Queremos as Ondas no Ar" e "Poema-Cidade") e o historiador, crítico e documentarista escocês Kevin Macdonald iniciaram a discussão falando sobre o apelo do gênero junto ao público.
Respondendo à provocação do mediador do debate, o jornalista Sérgio Dávila, editor da Ilustrada, sobre a possibilidade de um documentário fazer tanto sucesso quanto o filme "Titanic", de James Cameron, Wildenhahn respondeu que isso não o interessava.
"Mas documentários bem distribuídos, sobre lugares exóticos ou que tenham um caráter de aventura talvez possam ser sucesso de bilheteria", acrescentou.
O maior apelo da ficção junto ao público acabou levando à discussão sobre os limites entre os dois gêneros cinematográficos.
O filme "Mas Afinal Quem É Juliette?", de Carlo Marcovich, exibido dentro da mostra competitiva internacional do festival, serviu como exemplo da interferência da narrativa ficcional no filme documental.
Essa produção mexicana conta a história de uma adolescente cubana que se prostitui. A cineasta Tata Amaral, após concluir que alguns documentários têm uma verve dramática, chamou a atenção para o fato de, no caso do filme citado, a obra interferir na vida da pessoa que é o seu objeto.
No caso, Juliette acaba encontrando o pai, que não via desde os seis meses de vida. "O filme parte de um desejo de documentar a vida de Juliette e acaba por revelar para a menina sua própria história", disse a diretora.
Macdonald acrescentou que a câmera pode ser um catalisador. "Ela interfere na situação, faz as coisas acontecerem e interage com a verdade", afirmou.
"O documentário é sempre o discurso de alguém e emite um ponto de vista já a partir da escolha de um enquadramento", concluiu Amaral.
Wildenhahn concordou, acrescentando que a direção é sempre algo subjetivo e que corresponde a um interesse específico do diretor. Quanto à questão da verdade, o alemão afirmou que ela "pode estar tanto no documentário quanto na ficção, mas a estrutura narrativa do segundo deve ser diferente".
A forma apropriada para abordar um determinado assunto foi destacada por Tata Amaral como um dos pontos fundamentais na confecção de um filme.
Idéia reforçada por Kevin Macdonald. "É essencial haver honestidade na busca de uma maneira correta para tratar um tema específico", afirmou.



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