São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA/CRÍTICA

Satírico, Woody Allen aponta sua metralhadora para Hollywood

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Em seu 32º longa, "Hollywood Ending", que estreou na última semana nos EUA e infelizmente não tem data (nem comprador) no Brasil, Woody Allen revisita um gênero que inventou e que lhe é muito querido: a autobiografia satírica.
O nova-iorquino interpreta Val, um diretor sessentão que já fez muito sucesso, ganhou dois Oscar, mas hoje em dia tem de fazer comerciais para ganhar dinheiro. Namora uma aspirante a atriz mais jovem (Debra Messing, de "Will & Grace") e é ex-marido de uma produtora que mora em Los Angeles (Téa Leoni).
É ela que convence um grande estúdio a dar mais uma chance a Val, que aceita o trabalho, mas desenvolve uma cegueira psicossomática no primeiro dia de filmagem. Ele precisa do emprego, então esconde de todos sua condição. A piada-metáfora (diretor cego que é rei na terra desolada de Hollywood) domina o filme.
Não escapa nada nem ninguém do mundo cinematográfico da metralhadora giratória de Allen. Do espectador médio ("Por que o país ficou tão estúpido de repente? Meu palpite é a fast food") aos jornalistas especializados, passando por atores mirins ("Querida, mande flores para o Haley Joel Osment parabenizando seu Oscar por conjunto de obra") e executivos de estúdios.
Para os últimos, dedica especial acidez. "Se andasse num Mercedes 1939, as pessoas achariam que eu era o Himler", fala sobre um, que tem mania de colecionar carros antigos. "O que mais sinto falta de LA é meu grupo de apoio para executivos que ainda não têm um jatinho", diz outro.
Mas é nas manias e peculiaridades dos diretores que está o foco principal das piadas: Val exige um diretor de fotografia estrangeiro (como faz Allen), seu diretor de arte (interpretado pelo estilista Isaac Mizrahi) quer reconstruir em estúdio a Times Square, o Harlem, o Empire State Building e o Central Park...
O filme encerra a recente e inspirada trilogia cômica de Allen, que tem "Trapaceiros" (2000) e "The Curse of the Jade Scorpion" (2001, vergonhosamente inédito no Brasil). É, no entanto, o menos bom dos três.
O que tira um pouco de seu brilho, mas não chega a comprometê-lo, é a escolha do elenco. Pela primeira vez em anos, o diretor se cerca de bons atores que não dão bons desempenhos. Inclusive o par principal: Téa Leoni é muito melhor do que aparece e, ironia das ironias, Woody Allen faz um péssimo Woody Allen.
Mas os diálogos, cada vez mais rápidos, ferinos e precisos, salvam o filme, que tem roteiro acima da média. E, claro, fazendo jus ao título, "Hollywood Ending" acaba com um final hollywoodiano. Você sai do cinema feliz para sempre -ou pelo menos até o próximo filme de Woody Allen.


Avaliação:    



Texto Anterior: Centenário: Sérgio Buarque é tema de eventos literários
Próximo Texto: Barbara Gancia: Marcos Mion é coisa nossa!
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.