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CINEMA/CRÍTICA
Satírico, Woody Allen aponta sua metralhadora para Hollywood
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Em seu 32º longa, "Hollywood
Ending", que estreou na última semana nos EUA e infelizmente não tem data (nem comprador) no Brasil, Woody Allen
revisita um gênero que inventou e
que lhe é muito querido: a autobiografia satírica.
O nova-iorquino interpreta Val,
um diretor sessentão que já fez
muito sucesso, ganhou dois Oscar, mas hoje em dia tem de fazer
comerciais para ganhar dinheiro.
Namora uma aspirante a atriz
mais jovem (Debra Messing, de
"Will & Grace") e é ex-marido de
uma produtora que mora em Los
Angeles (Téa Leoni).
É ela que convence um grande
estúdio a dar mais uma chance a
Val, que aceita o trabalho, mas desenvolve uma cegueira psicossomática no primeiro dia de filmagem. Ele precisa do emprego, então esconde de todos sua condição. A piada-metáfora (diretor cego que é rei na terra desolada de
Hollywood) domina o filme.
Não escapa nada nem ninguém
do mundo cinematográfico da
metralhadora giratória de Allen.
Do espectador médio ("Por que o
país ficou tão estúpido de repente? Meu palpite é a fast food") aos
jornalistas especializados, passando por atores mirins ("Querida, mande flores para o Haley Joel Osment parabenizando seu Oscar
por conjunto de obra") e executivos de estúdios.
Para os últimos, dedica especial
acidez. "Se andasse num Mercedes 1939, as pessoas achariam que
eu era o Himler", fala sobre um,
que tem mania de colecionar carros antigos. "O que mais sinto falta de LA é meu grupo de apoio para executivos que ainda não têm
um jatinho", diz outro.
Mas é nas manias e peculiaridades dos diretores que está o foco
principal das piadas: Val exige um
diretor de fotografia estrangeiro
(como faz Allen), seu diretor de
arte (interpretado pelo estilista
Isaac Mizrahi) quer reconstruir
em estúdio a Times Square, o
Harlem, o Empire State Building e
o Central Park...
O filme encerra a recente e inspirada trilogia cômica de Allen,
que tem "Trapaceiros" (2000) e
"The Curse of the Jade Scorpion"
(2001, vergonhosamente inédito
no Brasil). É, no entanto, o menos
bom dos três.
O que tira um pouco de seu brilho, mas não chega a comprometê-lo, é a escolha do elenco. Pela
primeira vez em anos, o diretor se
cerca de bons atores que não dão
bons desempenhos. Inclusive o
par principal: Téa Leoni é muito
melhor do que aparece e, ironia
das ironias, Woody Allen faz um
péssimo Woody Allen.
Mas os diálogos, cada vez mais
rápidos, ferinos e precisos, salvam
o filme, que tem roteiro acima da
média. E, claro, fazendo jus ao título, "Hollywood Ending" acaba
com um final hollywoodiano. Você sai do cinema feliz para sempre
-ou pelo menos até o próximo
filme de Woody Allen.
Avaliação:
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