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FESTIVAL
Organizado pela rede de lojas Selfridges, evento com intenções comerciais mostra cultura do país na Inglaterra
Brasil 40 leva Cristo Redentor a Londres
JULIANO ZAPPIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES
O Cristo Redentor está em Londres. Não a estátua original, mas
uma réplica de 14 metros construída pelo cenógrafo Abel Gomes. Depois de quase ficar presa
na alfândega por causa da greve
da Polícia Federal, a cópia do
Cristo, presente do prefeito do
Rio à capital britânica, chegou em
tempo para a abertura do Brasil
40. Organizado pela Selfridges,
uma grande rede de lojas da Grã-Bretanha, o evento pretende fazer
de maio o mês mais brasileiro da
história da Inglaterra.
Mas na última terça-feira, dia da
inauguração da réplica, o espírito
verde-amarelo não baixou na cidade. O frio e a chuva espantaram
os curiosos. Os termômetros
marcaram 10, 30 a menos do que
o prometido pelo slogan da Selfridges. Mesmo assim, mulatas e
parte da bateria da Beija-Flor arriscaram um samba, sob o olhar
confuso dos pedestres.
"É uma loucura eles estarem
vestidos assim nesse tempo, mas
achei fantástico o jeito como elas
mexem o corpo", disse o mordomo Oscar Almeida, 39, que ficou
surpreso ao ver o Cristo no meio
da Oxford Street, a rua mais movimentada da cidade. Para completar o inusitado cenário, os jogadores de futebol Edu (Arsenal)
e Denílson (Betis) posaram para
fotos em cima de um ônibus de
dois andares ao lado das mulatas.
Já autoridades como o embaixador do Brasil em Londres, José
Maurício Bustani, o presidente da
Apex (Associação dos Produtores
e Exportadores), Juan Quirós, e o
presidente da Embratur, Eduardo
Sanovicz, participaram da abertura protegidos da chuva pela marquise da loja. "Espero que o clima
brasileiro afete logo Londres. De
qualquer maneira, o calor já está
dentro da loja, com a presença do
Brasil", disse Bustani.
Dentro da loja, os convidados
puderam ver o resultado de mais
de um ano de estudos que os ingleses fizeram, com o apoio da
embaixada brasileira em Londres,
sobre o país. Com a assessoria da
diretora e produtora Bia Lessa,
uma equipe da rede visitou cidades brasileiras para entender os
costumes do país e dar um toque
de autenticidade na decoração.
"Essa foi a grande preocupação:
não cair nos velhos clichês brasileiros", diz Lessa. "Desde o começo eles estavam interessados em
entender a mistura que é o Brasil e
foram abertos às sugestões."
Os cinco andares da loja estão
decorados com objetos típicos
brasileiros, como fantasias de
Carnaval e santinhos. Por se tratar
de um estabelecimento comercial, a intenção da Selfridges é
transformar o espírito brasileiro
em algo que possa ser consumido.
Por isso, mais de 600 produtos
nacionais, da gastronomia ao esporte, da moda à religião, estão à
venda. "A idéia é trazer os diretores das grandes lojas ao redor do
mundo para eles verem como estamos desenvolvendo a imagem
do Brasil em termos comerciais e
levar essa idéia para outros países", diz o presidente da Apex,
que investiu R$ 2 milhões.
Apesar de não estar em destaque, o lado social marca presença
com a ABC Trust, uma associação
que ajuda crianças e adolescentes
carentes no Brasil. Apesar de contente com o espaço, Mark Ereira,
diretor da ABC, acha que o lado
social poderia ser mais explorado.
"A Selfridges escolheu não usar
imagens chocantes dos meninos
de rua. Mas um dos principais
problemas do Brasil é a pobreza e
o nosso dever é mostrar isso."
Segundo Ereira, a Selfridges decidiu não usar fotos de uma menina moradora de rua no Rio, para a
vitrine reservada à ABC. "É difícil
explorar o lado social no mundo
corporativo onde os conceitos devem ser de alguma forma amigáveis aos consumidores", diz.
É exatamente isso que responde
James Bidwell, diretor de marketing da Selfridges. "Somos uma
empresa e o nosso negócio é atrair
os consumidores, mas isso não
significa que estamos de olhos fechados para os problemas sociais
do Brasil", diz Bidwell. "Quem
participou acabou se envolvendo
intensamente e acredito que a relação entre a Selfridges e o país deve continuar após o evento."
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