São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FESTIVAL

Organizado pela rede de lojas Selfridges, evento com intenções comerciais mostra cultura do país na Inglaterra

Brasil 40 leva Cristo Redentor a Londres

JULIANO ZAPPIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES

O Cristo Redentor está em Londres. Não a estátua original, mas uma réplica de 14 metros construída pelo cenógrafo Abel Gomes. Depois de quase ficar presa na alfândega por causa da greve da Polícia Federal, a cópia do Cristo, presente do prefeito do Rio à capital britânica, chegou em tempo para a abertura do Brasil 40. Organizado pela Selfridges, uma grande rede de lojas da Grã-Bretanha, o evento pretende fazer de maio o mês mais brasileiro da história da Inglaterra.
Mas na última terça-feira, dia da inauguração da réplica, o espírito verde-amarelo não baixou na cidade. O frio e a chuva espantaram os curiosos. Os termômetros marcaram 10, 30 a menos do que o prometido pelo slogan da Selfridges. Mesmo assim, mulatas e parte da bateria da Beija-Flor arriscaram um samba, sob o olhar confuso dos pedestres.
"É uma loucura eles estarem vestidos assim nesse tempo, mas achei fantástico o jeito como elas mexem o corpo", disse o mordomo Oscar Almeida, 39, que ficou surpreso ao ver o Cristo no meio da Oxford Street, a rua mais movimentada da cidade. Para completar o inusitado cenário, os jogadores de futebol Edu (Arsenal) e Denílson (Betis) posaram para fotos em cima de um ônibus de dois andares ao lado das mulatas.
Já autoridades como o embaixador do Brasil em Londres, José Maurício Bustani, o presidente da Apex (Associação dos Produtores e Exportadores), Juan Quirós, e o presidente da Embratur, Eduardo Sanovicz, participaram da abertura protegidos da chuva pela marquise da loja. "Espero que o clima brasileiro afete logo Londres. De qualquer maneira, o calor já está dentro da loja, com a presença do Brasil", disse Bustani.
Dentro da loja, os convidados puderam ver o resultado de mais de um ano de estudos que os ingleses fizeram, com o apoio da embaixada brasileira em Londres, sobre o país. Com a assessoria da diretora e produtora Bia Lessa, uma equipe da rede visitou cidades brasileiras para entender os costumes do país e dar um toque de autenticidade na decoração.
"Essa foi a grande preocupação: não cair nos velhos clichês brasileiros", diz Lessa. "Desde o começo eles estavam interessados em entender a mistura que é o Brasil e foram abertos às sugestões."
Os cinco andares da loja estão decorados com objetos típicos brasileiros, como fantasias de Carnaval e santinhos. Por se tratar de um estabelecimento comercial, a intenção da Selfridges é transformar o espírito brasileiro em algo que possa ser consumido.
Por isso, mais de 600 produtos nacionais, da gastronomia ao esporte, da moda à religião, estão à venda. "A idéia é trazer os diretores das grandes lojas ao redor do mundo para eles verem como estamos desenvolvendo a imagem do Brasil em termos comerciais e levar essa idéia para outros países", diz o presidente da Apex, que investiu R$ 2 milhões.
Apesar de não estar em destaque, o lado social marca presença com a ABC Trust, uma associação que ajuda crianças e adolescentes carentes no Brasil. Apesar de contente com o espaço, Mark Ereira, diretor da ABC, acha que o lado social poderia ser mais explorado. "A Selfridges escolheu não usar imagens chocantes dos meninos de rua. Mas um dos principais problemas do Brasil é a pobreza e o nosso dever é mostrar isso."
Segundo Ereira, a Selfridges decidiu não usar fotos de uma menina moradora de rua no Rio, para a vitrine reservada à ABC. "É difícil explorar o lado social no mundo corporativo onde os conceitos devem ser de alguma forma amigáveis aos consumidores", diz.
É exatamente isso que responde James Bidwell, diretor de marketing da Selfridges. "Somos uma empresa e o nosso negócio é atrair os consumidores, mas isso não significa que estamos de olhos fechados para os problemas sociais do Brasil", diz Bidwell. "Quem participou acabou se envolvendo intensamente e acredito que a relação entre a Selfridges e o país deve continuar após o evento."


Texto Anterior: Artes plásticas/Análise: De feitiço incomum, Lygia Pape inventou a "tetéia" na arte
Próximo Texto: Eventos apresentam país recente à Inglaterra
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.