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"DE PASSAGEM"
Nova geração se firma e busca unidade com devoção à sétima arte
EDUARDO VALENTE
ESPECIAL PARA A FOLHA
A estréia na última sexta-feira de "De Passagem", de
Ricardo Elias, apenas duas semanas depois do lançamento de "O
Prisioneiro da Grade de Ferro",
de Paulo Sacramento, muda o eixo de discussão do cinema nacional de volta para a arte cinematográfica e seus realizadores -depois de um 2003 todo em torno de
números, estatísticas e Globo Filmes e um 2004 que começou na
onda do Oscar.
Mas o mais importante é saber
que a força desses dois filmes está
para além do que representam individualmente: o que sua presença simultânea nos cinemas nos dá
é a oportunidade de presenciar
um fenômeno essencial para o cinema brasileiro atual: a consolidação de uma nova geração.
Nos anos mais recentes, o cinema brasileiro viveu primeiro sob a
sombra de um termo ("retomada"), depois de um conceito ("diversidade") -ambos pouquíssimo representativos a longo prazo
(porque diversidade sempre houve no cinema nacional, e sempre
haverá; e porque retomada se refere mais a uma parada do que a
uma fase produtiva).
Depois veio a questão Globo Filmes e, no meio disso, todas as discussões políticas e de produção.
Embora se possa entender todos
esses momentos, parecia faltar
um dado: o cinema em si. Não
que não tenhamos tido alguns belos filmes nesses anos, nem momentos em que se discutiu cinema. No entanto, os sentimentos
dominantes quanto ao novo cinema nacional no seu quesito artístico-geracional eram sempre ou a
visão nostálgica, que manda que
"nunca haverá geração como as
passadas" (leia-se cinema novo),
ou alguns realizadores como quixotescas figuras em luta contra
um medíocre "status quo".
Os longas de Elias e Sacramento
começam a mudar isso e permitem ver um autêntico movimento
geracional. O que esta geração
tem em comum na sua formação
são dois ambientes e uma época:
as escolas de cinema e os festivais
de curtas; e os anos Collor.
Nessas escolas e festivais é que
essa geração moldou sua relação,
se conheceu, se tornou o que é hoje: um grupo grande de realizadores que se conhecem, respeitam,
trocam idéias sobre seus filmes e o
cinema em geral. Esta não é uma
geração, é importante que se diga,
que proponha um determinado
dogma estético nem de conteúdo:
seus realizadores acreditam nos
mais diferentes "cinemas" (embora os filmes de Elias e Sacramento permitam ver um traço comum forte: o desejo de falar e
pensar sobre o Brasil de hoje).
Esta geração encontra sua unidade, isso sim, na atitude de profundo amor e entrega em relação
ao cinema, na crença de que ele
pode ter uma importância para
além dos números de bilheteria
ou os Oscar da vida e no desejo de
enfrentar a guerra que é fazer cinema no Brasil.
Embora Sacramento e Elias venham da mesma escola (a ECA-USP), esse não é fenômeno isolado ali: passa também por ex-alunos da UFF (no Rio), Faap e inúmeros nomes de outros Estados
cujos curtas foram exibidos em
festivais na mesma época (principalmente ao longo dos anos 90).
Outros nomes
Destes, pelo menos um outro já
exibiu seu primeiro longa (o brasiliense José Eduardo Belmonte,
que lançou "Subterrâneos" no
Festival de Brasília de 2003), enquanto outros três ganharam recentemente o concurso do MinC
para filmes de baixo orçamento e
estréiam em breve (Bruno Vianna, Christian Saghaard, Gustavo
Acioli). Mas os nomes de realizadores com projetos de longa em
vias de emplacar se acumulam:
Philippe Barcinski, Eduardo Nunes, Gustavo Spolidoro, Camilo
Cavalcante, Torquato Joel, André
Sampaio, entre tantos.
E por que, pode se perguntar o
leitor, é tão importante assim se
afirmar essa tal nova geração?
Porque filmes e cineastas isolados
vêm e vão, não continuam.
Neste momento é preciso abrir
os olhos para o fato de que nenhum dos acima trabalha sozinho
ou isolado: há sim uma nova e essencial geração surgindo para o
cinema nacional, que já há algum
tempo diz a que vem -para
quem mantiver os ouvidos e
olhos abertos.
Eduardo Valente é diretor dos curtas
"Um Sol Alaranjado" e "Castanho"
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