São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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CRÍTICA

Sem medo e com medo, artista se entrega ao risco

DO ENVIADO AO RIO

"Eu me Transformo em Outras", show e disco, é trabalho que mora longe da rua da perfeição. Obra-teste, afasta Zélia Duncan da veia pop-blues-folk-rock que a tirara de prolongado anonimato. É, em parte, a morada do medo. Parece modismo -o samba goteja dos poros do Brasil na era Lula. Nem o vestido do samba cai à perfeição em seu corpo longo: aqui e ali acusa susto, rusga, a voz visita a ruela do nervosismo.
É que Zélia está inventando. Seu grupo "de samba" agrega violão, bandolim, bateria e gaita, só, como se conjuntos de MPB, samba, jazz-rock e blues se condensassem num outro resultado.
Disso surgem estranhezas. Em "Quando Esse Nego Chega", parece que o CD está com defeito; prestando atenção (ou vendo Hamilton de Holanda no palco), aprende-se que o bandolim está em gozo, parindo, criando. A gaita é virtuosa, mas machuca, às vezes cansa -chama-se risco.
Cantando Itamar, Zélia parece tomada, possuída. Dele tirou a máxima de que se transforma em outras -não, transforma-se em si mesma. Estudante tardia de letras, sabe que sua obra autoral, essa sim, está para se transformar em outras.
A quarta das estrelas salpicadas abaixo pertence ao risco, aos "erros" que Zélia Duncan incorpora enfim a um armazém de cães, gatos e músicas.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Eu me Transformo em Outras
    
Artista: Zélia Duncan
Lançamento: Duncan/Universal
Quanto: R$ 30, em média



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