São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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Nelson Rufino e Roque Ferreira dão vida própria a seus sambas

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Encontrar quem conheça Nelson Rufino, 61, é tão difícil quanto encontrar quem nunca tenha ouvido "Verdade", sucesso de Zeca Pagodinho: "Descobri que te amo demais/ Descobri em você minha paz". A mesma fórmula vale para Roque Ferreira, 55, autor de "Samba pras Moças", outro hit de Zeca: "Incandeia, incandeia/ Meu candiá".
Mas os baianos Rufino e Ferreira são dois dos principais compositores de sambas do país. Seus nomes estão em discos de Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Beth Carvalho, Martinho da Vila, Jorge Aragão, Fundo de Quintal. Outros sucessos recentes de Zeca são deles: "Água da Minha Sede" (de Ferreira, em parceria com Dudu Nobre) e "Pago pra Ver" (de Rufino e Toninho Geraes).
Simultaneamente, Rufino e Ferreira estão dando a partida numa nova fase de suas carreiras ao lançarem discos como cantores. "Tem Samba no Mar" (Biscoito Fino/Acari) é o primeiro de Ferreira. Rufino já gravara em 1992 o independente "Viva Meu Samba" e, em 2000, pela Som Livre, o álbum de duetos "A Verdade de Nelson Rufino", mas ambos passaram despercebidos.
"Quando gravadas por outros cantores, algumas músicas não renderam o esperado. "Por Todos os Santos", por exemplo, entrou na "rabeira" de um disco do Fundo de Quintal. Agora está com mais destaque. Então, o que significa o compositor gravar essas músicas? Tentar passar a emoção e o lirismo com que elas foram feitas. A proposta de Nelson Rufino é essa", diz Rufino, afeito à terceira pessoa do singular.
Antes dos sucessos de Zeca, a fase mais popular de Rufino tinha acontecido nos anos 70, quando Roberto Ribeiro (1940-96) emplacou sambas como "Todo Menino É um Rei". Na época, ainda trabalhava como metalúrgico, ofício que exerceu por 21 anos.
Há 19 perdeu o emprego e iniciou a batalha para viver de música. Conseguiu principalmente graças às suas boas relações com os sambistas cariocas. Tem parcerias com Martinho da Vila, Jorge Aragão, Zeca, Zé Luiz. Entre as 14 faixas de "Cadê Meu Amor", Rufino só incluiu um samba que fez relativo sucesso nacional: "Tempo Ê" (feito com Zé Luiz), gravado por Roberto Ribeiro.
Ferreira fez a mesma opção. Seu único sucesso em "Tem Samba no Mar" é "Samba pras Moças", mas registrado em andamento muito mais lento do utilizado por Zeca. O restante do CD é inédito e conceitual: sambas de roda, cocos, chulas, galopes, ritmos que são típicos da região de Nazaré das Farinhas (BA), cidade de Ferreira.
"Gravei as coisas que gosto de fazer", diz Ferreira, publicitário por 20 anos e há dez vivendo de música. "O que componho para outros cantores é mais romântico, porque do contrário as gravadores bloqueiam. Mas, curiosamente, foi o sucesso de "Samba pras Moças", um samba de roda, que abriu espaço para mim."


TEM SAMBA NO MAR. Artista: Roque Ferreira. Lançamento: Biscoito Fino/ Acari. Quanto: R$ 20.

CADÊ MEU AMOR. Artista: Nelson Rufino. Lançamento: Atração. Quanto: R$ 20.



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