São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2000


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TEATRO
Um dos mais importantes festivais de artes cênicas começa hoje, na França; programação oficial traz 25 peças
Mais de 50 espetáculos povoam Avignon

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das mais importantes vitrines mundiais das artes cênicas é aberta hoje. Trata-se do Festival de Teatro e Dança de Avignon, no sul da França.
Junto com o Festival Internacional de Edimburgo (os dois foram fundados em 1947), ele é considerado o mais importante festival de artes cênicas.
Neste ano, a programação oficial apresenta 25 espetáculos de teatro e seis de dança, além de um ciclo de música e um circuito "off".
A coreógrafa alemã Pina Bausch abre hoje a maratona de mais de 50 espetáculos com "O Limpador de Vitrines" (leia ao lado), no pátio do monumental Palácio dos Papas, a primeira sede do festival.
O festival sempre dedica uma parte do evento a países ou regiões. No ano passado foi a América do Sul, e o Brasil foi representado por quatro companhias, entre elas a de Antônio Nóbrega e a de Romero de Andrade.
Neste ano, seis países do Leste Europeu integram a seção "Do Báltico aos Bálcãs". Companhias dos antigos países socialistas tornaram-se uma verdadeira coqueluche nos festivais europeus. Eles já foram o tema de eventos em Berlim, no ano passado, e em Hamburgo, neste ano.
Na programação oficial de teatro, a grande maioria é de grupos franceses. Entre as exceções está a peça "All Indians", dirigida pelo belga Alain Platel, que já esteve no Brasil como coreógrafo da companhia "Les Ballets C. de la B.", em 1996, com a peça "La Tristeza Complice". Platel, considerado uma das grandes revelações da dança contemporânea, surpreendeu o mundo das artes cênicas ao comunicar sua decisão de parar de trabalhar com dança.
Outra das peças mais aguardadas é "L'Apocalypse Joyeuse", encenada pelo francês Olivier Py. Já é a terceira peça produzida para Avignon pelo diretor, um dos novos encenadores de prestígio, e desta vez a previsão de duração do espetáculo é de cerca de nove horas.
Avignon é, neste ano, uma das nove capitais culturais da Europa, e por isso espera-se que o recorde de público do ano passado, de 115 mil entradas vendidas, seja superado.
Além da programação oficial há um lado "off" no evento, que não necessita de seleção. Companhias podem se apresentar no festival em locais determinados pela organização, desde que paguem uma taxa de inscrição.
Fundado por Jean Vilar, o Festival de Avignon foi uma forma de contestação ao monopólio parisiense na área da cultura. Não apenas ao centralismo de Paris, na época, mas também uma crítica ao modo de organização burguês do teatro, o que para Vilar significava a divisão social dentro das salas de espetáculo: a burguesia na platéia e no balcão, e o povo na galeria. O criador também buscou inovar ao abolir o uso do palco italiano, com a clássica divisão entre palco e platéia.
Por ser um período pós-guerra, portanto com poucos recursos para a construção de uma nova sala, decidiu-se utilizar o pátio interno do Palácio dos Papas, o maior edifício gótico da Europa, construído no século 14. Por ser um espaço a céu aberto, ele acabou norteando o caráter do festival até hoje na utilização de espaços não-convencionais, como igrejas e estádios de esporte.
O festival se caracterizou por abrir espaços a encenações de vanguarda, como as montagens de Brecht, Peter Brook e da própria Pina Bausch, que abre hoje o evento que se estende até 30 de agosto.


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