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TEATRO
Um dos mais importantes festivais de artes cênicas começa hoje, na França; programação oficial traz 25 peças
Mais de 50 espetáculos povoam Avignon
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das mais importantes vitrines mundiais das artes cênicas
é aberta hoje. Trata-se do Festival
de Teatro e Dança de Avignon, no
sul da França.
Junto com o Festival Internacional de Edimburgo (os dois foram
fundados em 1947), ele é considerado o mais importante festival de
artes cênicas.
Neste ano, a programação oficial apresenta 25 espetáculos de
teatro e seis de dança, além de um
ciclo de música e um circuito
"off".
A coreógrafa alemã Pina Bausch
abre hoje a maratona de mais de
50 espetáculos com "O Limpador
de Vitrines" (leia ao lado), no pátio do monumental Palácio dos
Papas, a primeira sede do festival.
O festival sempre dedica uma
parte do evento a países ou regiões. No ano passado foi a América do Sul, e o Brasil foi representado por quatro companhias, entre elas a de Antônio Nóbrega e a
de Romero de Andrade.
Neste ano, seis países do Leste
Europeu integram a seção "Do
Báltico aos Bálcãs". Companhias
dos antigos países socialistas tornaram-se uma verdadeira coqueluche nos festivais europeus. Eles
já foram o tema de eventos em
Berlim, no ano passado, e em
Hamburgo, neste ano.
Na programação oficial de teatro, a grande maioria é de grupos
franceses. Entre as exceções está a
peça "All Indians", dirigida pelo
belga Alain Platel, que já esteve no
Brasil como coreógrafo da companhia "Les Ballets C. de la B.",
em 1996, com a peça "La Tristeza
Complice". Platel, considerado
uma das grandes revelações da
dança contemporânea, surpreendeu o mundo das artes cênicas ao
comunicar sua decisão de parar
de trabalhar com dança.
Outra das peças mais aguardadas é "L'Apocalypse Joyeuse", encenada pelo francês Olivier Py. Já
é a terceira peça produzida para
Avignon pelo diretor, um dos novos encenadores de prestígio, e
desta vez a previsão de duração
do espetáculo é de cerca de nove
horas.
Avignon é, neste ano, uma das
nove capitais culturais da Europa,
e por isso espera-se que o recorde
de público do ano passado, de 115
mil entradas vendidas, seja superado.
Além da programação oficial há
um lado "off" no evento, que não
necessita de seleção. Companhias
podem se apresentar no festival
em locais determinados pela organização, desde que paguem
uma taxa de inscrição.
Fundado por Jean Vilar, o Festival de Avignon foi uma forma de
contestação ao monopólio parisiense na área da cultura. Não
apenas ao centralismo de Paris,
na época, mas também uma crítica ao modo de organização burguês do teatro, o que para Vilar
significava a divisão social dentro
das salas de espetáculo: a burguesia na platéia e no balcão, e o povo
na galeria. O criador também buscou inovar ao abolir o uso do palco italiano, com a clássica divisão
entre palco e platéia.
Por ser um período pós-guerra,
portanto com poucos recursos
para a construção de uma nova
sala, decidiu-se utilizar o pátio interno do Palácio dos Papas, o
maior edifício gótico da Europa,
construído no século 14. Por ser
um espaço a céu aberto, ele acabou norteando o caráter do festival até hoje na utilização de espaços não-convencionais, como
igrejas e estádios de esporte.
O festival se caracterizou por
abrir espaços a encenações de
vanguarda, como as montagens
de Brecht, Peter Brook e da própria Pina Bausch, que abre hoje o
evento que se estende até 30 de
agosto.
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