São Paulo, segunda, 6 de julho de 1998

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PELO BRASIL
Produções locais lotam teatros baianos

Divulgação
Cena de 'A Bofetada', com a Cia. de Patifaria, peça que faz sucesso em Salvador


CHRISTIANNE GONZÁLEZ
da Agência Folha, em Salvador

Dez anos depois da explosão da axé music, o teatro de Salvador começa a trilhar o mesmo caminho que levou a música baiana a conquistar os mercados nacional e internacional.
Atualmente, as produções baianas são responsáveis pela programação de 19 dos 20 teatros da cidade de Salvador -a única exceção é o teatro Castro Alves.
"O teatro baiano ganhou fôlego desde que deixamos de lado a forma de representar e dirigir do Rio de Janeiro e de São Paulo. A Bahia tem uma cultura muito peculiar, e é isso que está nos palcos hoje", diz o diretor Márcio Meirelles, 44.
Meirelles, que atualmente dirige o espetáculo "Um Tal de Dom Quixote", já levou peças para Rio, São Paulo e Londres.
"Temos desde o humor escrachado até a sátira política e o drama, mas nossa forma de representar, dirigir e escrever é diferente do padrão estereotipado pela televisão no eixo Rio-São Paulo."
O crescimento do teatro soteropolitano pode ser constatado com a simples observação dos espetáculos em cartaz. Enquanto em Salvador o público adulto tem à disposição cerca de 15 peças locais, em Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre, por exemplo, o número de opções chega, no máximo, a cinco produções.
"Deixei a faculdade de engenharia para ser ator e, há dez anos, sobrevivo exclusivamente de atuações em teatros baianos", afirma Ricardo Bittencourt, do grupo de teatro Los Catedrásticos.
Formado pelos atores Cyria Coentro, Maria Menezes, Jackson Costa e Zéu Brito, além de Bittencourt, o grupo vem lotando os teatros de Salvador com as peças "Suburra" e "Novíssimo Recital da Poesia Baiana".
A inauguração do teatro Vila Velha, em 1964, marcou o início do profissionalismo teatral na Bahia. Porém, passaram-se mais de 20 anos para que as produções locais ganhassem personalidade própria.
"As produções locais começaram a ganhar público e notoriedade a partir de 1988", diz a dramaturga Aninha Franco.
Ela é autora do espetáculo "Os Cafajestes" -recordista de público no Rio no ano passado e vencedor do prêmio Sharp de melhor musical em 96.
A dramaturga prevê um bom futuro para as produções locais. "Temos um excelente mercado, com público cativo, bons teatros, atores, diretores e autores de qualidade. A tendência é de crescimento, mas ainda falta profissionalização", afirma.
Segundo Aninha Franco, essa nova fase do teatro baiano começou com a estréia de "A Bofetada" -espetáculo irreverente, dirigido por Fernando Guerreiro, que vem sendo encenado há seis anos em Salvador e diversas cidades brasileiras.
"Na Bahia, ninguém faz sucesso no teatro porque protagonizou uma novela. Não temos uma rede de televisão por trás. O que atrai o público é a nossa forma irreverente de fazer teatro, criando uma identificação inconfundível com a comunidade", declara Bittencourt.
Além das peças humorísticas, que exaltam os signos da baianidade ("A Bofetada", "Os Cafajestes", "Novíssimo Recital da Poesia Baiana" e "Noviças Rebeldes"), também fazem sucesso na cidade de Salvador as sátiras políticas e o drama.
Entre os espetáculos de maior público nos últimos meses estão diversas peças que não são de humor, como "Cabaré das Raças", "Abismos de Rosas", "O Casamento do Pequeno Burguês", "Ecos", "Medéia", "Suburra" e "Oficina Condençada".



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