Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"É uma história simples com personagens fortes"
da Reportagem Local
Martin McDonagh, 28, não controla o impulso para a ironia corrosiva nem diante de perguntas
prontas. Recebeu as questões, poderia nem responder, mas saiu a
atacar Caryl Churchill, idolatrada
em círculos londrinos, e a fazer
pouco de Shakespeare.
Mas também sabe falar sério.
Diz que o seu interesse é mesmo
contar histórias e que "A Rainha
da Beleza de Leenane" atingiu repercussão global porque "é uma
história simples com personagens
fortes". Diz ter tantas histórias na
cabeça que precisa se concentrar
para poder escrever.
Se ironiza alguns, de outro lado
McDonagh não teme dar nome às
suas influências: o americano David Mamet e o inglês Harold Pinter. Quando surgiu, chegou a dizer que se voltou para a Irlanda,
como tema, para parar de fazer
cópias de Mamet e Pinter.
Uma descoberta mais recente
foi o irlandês JM (John Millington) Synge (1871-1909), de peças
com poesia e cenário próximos às
de McDonagh.
(NS)
Folha - Você conta histórias e
parece gostar muito disso. É necessidade de recuperar essa arte quase perdida no teatro?
Martin McDonagh - Sim. Eu estou sempre muito mais interessado em ser levado para algum lugar, por um escritor, do que em
ser lembrado sobre o lugar onde
estou.
Folha - Você não nasceu na Irlanda. O que faz um jovem londrino voltar ao país dos pais para escrever suas peças? O que
você achou, nas visitas que fez,
que o levou a escrever?
McDonagh - A estranheza do
diálogo de tios e amigos e a beleza
da paisagem. E eu queria localizar
a peça num lugar diferente do
meu próprio, para deixar as histórias seguirem até onde não poderiam ir, caso eu as tivesse colocado muito perto de casa.
Folha - O que você teria em comum com autores que deixaram
a Irlanda e o tema, como Beckett, Shaw, Wilde?
McDonagh - Só a genialidade!!!
Folha - Deixar a Irlanda pela
Inglaterra ou os EUA é uma obsessão em "A Rainha da Beleza",
mas você parece fazer o caminho contrário, com a peça. Você
quer, de certa forma, se livrar de
Londres, Nova York?
McDonagh - Não, até porque eu
já escrevi uma peça americana e
eu vou escrever uma peça sobre
Londres. Só aconteceu de eu localizar as minhas peças primeiro na
Irlanda.
Folha - Uma atriz do elenco
original disse que a pronúncia
da sua dramaturgia não é irlandesa, mas toda sua. O que significa isso? Uma outra camada de
ironia no texto?
McDonagh - Eu acho que é a intensificação do modo como certas áreas da Irlanda falam. A linguagem de "A Rainha da Beleza
de Leenane" tenta reproduzir isso
de um modo poético, então de
certa maneira ela é minha. É uma
combinação.
Folha - Você já viu montagens
da peça traduzida? Você acha
possível ela ser interpretada e
entendida em português?
McDonagh - Sim. Eu vi a peça
em islandês em Reykjavik e ela
funcionou muito bem lá. Eu não
acho que haverá qualquer problema na montagem em português,
e quero muito assistir. A peça, você sabe, já foi montada em 25 línguas.
Folha - O que fez dela um tamanho sucesso global?
McDonagh - É uma história
simples combinada com personagens muito fortes, e uma mistura
de comédia com uma sensibilidade muito sombria.
Folha - Existe algo em comum
entre as suas peças e as de autores como Mark Ravenhill e Patrick Marber?
McDonagh - Não, eu não acho
que exista.
Folha - Quem você mencionaria como seus autores favoritos,
no passado e presente? Você diria que algum deles o influenciou?
McDonagh - David Mamet e
Harold Pinter, ambos foram uma
influência inicial. JM Synge também, num grau menor.
Folha - O que você diria, por
exemplo, de Shakespeare? Você
tem uma peça favorita?
McDonagh - Shakespeare contou algumas boas histórias. Eu
gosto particularmente de "Titus
Andronicus". Qualquer peça em
que uma mulher tem as suas
mãos cortadas não pode ser ruim!
Folha - E Caryl Churchill? A ironia política das peças dela tiveram impacto em você, como em
outros jovens autores?
McDonagh - Eu nunca vi uma
única peça de Caryl Churchil. Eu
fujo de peças "políticas" como da
praga!
Texto Anterior: Chega ao Brasil "primeiro ato" do novo teatro inglês Próximo Texto: Mag e Ray roubam a cena Índice
|