São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Exposição adianta o futuro das metrópoles

"Global Cities", na Tate Modern, enfoca o crescimento dos centros urbanos

SP é uma das dez cidades abordadas na exposição londrina; curadora coloca localidade brasileira "no topo" das suas favoritas

Divulgação
Vista aérea do leste de Londres, uma das dez metrópoles que são tema de "Global Cities"


ALEXANDRE XAVIER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRES

2006 foi o último ano bucólico da história da civilização humana. A partir de 2007, mais da metade do planeta passará a viver em centros urbanos.
É um ano que marca uma mudança simbólica, mas que também levanta um dilema concreto: é sustentável para o planeta a aglomeração cada vez maior de pessoas nas cidades?
Na exposição "Global Cities", em cartaz na galeria Tate Modern, em Londres, até o dia 27, o dilema é dissecado sob as perspectivas da diversidade, densidade, forma, velocidade e tamanho. A exposição tem dados geográficos e socioeconômicos recolhidos pela London School of Economics sobre dez metrópoles do planeta: São Paulo, Mumbai, Londres, Cidade do México, Shangai, Tóquio, Johannesburgo, Los Angeles, Cairo e Istambul.
"Global Cities" é impactante. Transforma números frios em gigantescas maquetes de madeira, painéis iconográficos e outras instalações grandiosas.
O visitante lê num painel, por exemplo, que Mumbai vai ultrapassar Tóquio e se tornar a maior cidade do mundo, com cerca de 40 milhões da habitantes, em 2050.
A informação está ao lado de uma foto panorâmica que mostra o atual gigantismo da mais rica metrópole indiana. A dois metros dali, outra foto revela o banheiro de uma creche que não possui sistema de esgoto, como grande parte da cidade.

São Paulo
Logo ao lado de Mumbai, no saguão térreo da Tate Modern, está São Paulo. Duas cidades de países em desenvolvimento com problemas estruturais parecidos. Hoje, a Grande São Paulo ainda é maior que Mumbai (são 18.857 milhões de habitantes contra 15 milhões), mas cresce a um ritmo mais lento.
Enquanto a maior cidade da Índia recebe cerca de 42 habitantes por hora, a maior cidade brasileira cresce a uma taxa média de 25 pessoas por hora.
Há mais números preocupantes do que alentadores na exposição. Mas Sarah Ichioka, uma das curadoras da "Global Cities", não acredita que as cidades irão entrar em colapso.
"Na época da primeira revolução industrial, as maiores cidades do planeta atravessaram momentos caóticos e conseguiram superar seus problemas", disse ela à Folha.
Além dos números bem encaixados, a exposição tem ainda instalações de videoarte e fotos impressas em tamanho de pôster, para dar a medida do gigantismo das metrópoles.
Das que retratam a realidade paulistana, a foto do Copan capturada pelo fotógrafo alemão Andreas Gursky é a que ganhou mais destaque na exibição. A mais relevante é, porém, a imagem da desigualdade social brasileira, em foto aérea de Tuca Vieira, da Folha, que mostra a favela de Paraisópolis e um prédio de luxo do Morumbi separados por um muro.

Futuro
Segundo a ONU, 75% do planeta vai morar em centros urbanos em 2050. Mas, se um em cada três cidadãos no mundo já vive em favelas (e se ainda levarmos em conta o aquecimento global e a necessidade do desenvolvimento sustentável), o fato de mais e mais gente estar vivendo nas cidades não é um problema a ser combatido?
Ichioka responde que "não necessariamente, mas as cidades têm de superar seus desafios, têm de agir logo para achar uma maneira de proporcionar acesso à água, transporte, esgoto e fazer com que seus cidadãos possam, acima de tudo, viver com dignidade".
A cidade perfeita para a curadora seria uma que facilitasse o convívio social e que dispensasse o uso de carro. "São Paulo, por exemplo, é uma cidade que está no topo da lista das cidades nas quais eu moraria. Acho um lugar fascinante, vibrante, que tem diversas etnias misturadas, tem uma vida cultural intensa. Soa-me estranho quando os paulistanos dizem que odeiam a cidade...", afirma a norte-americana Ichioka, que hoje mora em Londres.


Texto Anterior: Guilherme Wisnik: Lagos é aqui?
Próximo Texto: Documentário: Obra narra história do cinema iraniano
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.