São Paulo, quarta-feira, 06 de setembro de 2000 |
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TEATRO Diretores debatem montagens Diaz não filia seu "Rei da Vela" ao de Zé Celso
VALMIR SANTOS DA REPORTAGEM LOCAL "Eu não sofri para fazer "O Rei da Vela". Fiz o que eu quis." É o que afirmou o diretor Enrique Diaz na última fala do debate com José Celso Martinez Corrêa, promovido pela Folha, em seu auditório, na quinta passada, dia 31. O desabafo vem a reboque da comparação que se faz entre a histórica montagem de Zé Celso, em 67, que reabriu o teatro Oficina, em São Paulo, após um incêndio, e "O Rei da Vela" que Diaz e a carioca Companhia dos Atores retomou 33 anos depois. No encontro, mediado pelo jornalista Nelson de Sá, editor da Ilustrada, Diaz afirmou que não queria estabelecer "filiação ou superação" quanto à montagem do Oficina para a peça do romancista, poeta, ensaísta e jornalista Oswald de Andrade (1890-1954). "Com certeza, Zé Celso e o Oficina não fizeram aquela montagem com a pretensão de que ela se tornasse um marco histórico", afirma Diaz, 32, que admite ter "deixado de lado" o espetáculo de 67 para descobrir "uma linguagem prazerosa" no trabalho da sua companhia ("Melodrama" e "A Morta", esta do próprio Oswald, entre outras encenações). Zé Celso diz que gostou de "O Rei da Vela" de Diaz, mas faz duas ressalvas. Não concorda quando a encenação atual "tira o deslumbramento do autor pela teoria marxista", como reconhece Diaz. Para o diretor do Oficina, houve "um certo preconceito". O marxismo do poeta, afirma, pode ser comparado ao papel da monarquia na obra de William Shakespeare, mas não significava que o bardo era monarquista. A outra observação de Zé Celso, 63, é sobre o texto. "Quando vi a montagem da sua companhia, às vezes sentia que vocês deixavam o texto do Oswald no chão, trocava-o pelo subtexto", diz. "É preciso acreditar nas palavras do poeta. Como Godard, eu acredito nas coisas que os poetas sentem", afirma Zé Celso. A despeito de algumas adaptações, Diaz afirma que, em sua "confiança", a estrutura anticapitalista do texto foi preservada no discurso dos personagens. O texto conta a história de Abelardo 1, um agiota e fabricante de velas que ambiciona aumentar sua fortuna. O protagonista compartilha suas estratégias de enriquecimento com seu duplo, Abelardo 2, e com sua amante, Heloísa de Lesbos, uma aristocrata decadente que quer recuperar prestígio. Zé Celso diz que "O Rei da Vela" é uma peça atual para um Brasil que julga datado. "Nessa mistura de teatro de revista, de Bolsa de Valores, de "financeirização" da economia, tivemos há pouco o Fernando 1 que foi substituído pelo Fernando 2. E o Mr. Jones, o capitalista americano da história de Oswald, tem em Bill Clinton um ator ideal", diz. A nova montagem de "O Rei da Vela" segue em cartaz no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) até o próximo dia 10. Texto Anterior: Da rua - Fernando Bonassi: Eterno retorno Próximo Texto: Free Jazz Festival: Max Roach, 76, traz ao Brasil sua sede de experimentação Índice |
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