São Paulo, quarta-feira, 06 de setembro de 2000

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FREE JAZZ FESTIVAL
Baterista se apresenta no Rio de Janeiro no dia 19 de outubro e em São Paulo no dia seguinte
Max Roach, 76, traz ao Brasil sua sede de experimentação

EDSON FRANCO
EDITOR DO TV FOLHA

Não tem muito jeito. Quem quiser ver um dos últimos sobreviventes da criação do bebop -ao lado de Charlie Parker (1920-55), Dizzy Gillespie (1917-93), Thelonius Monk (1917-82), entre outros- vai ter de se aboletar à volta do palco Club do Free Jazz para ver o baterista Max Roach.
E não vai ser um show jurássico. Apesar de ser um gigante nesse estilo de jazz surgido nos anos 40, Roach se manteve antenado com as sonoridades posteriores e arriscou suas baquetas nelas.
Baseado na audição de seus mais recentes trabalhos, é possível afirmar que o baterista chega em boa forma para as apresentações em solo brasileiro -é a segunda vez que ele vem ao país; a primeira foi no Free Jazz de 89. Isso apesar de ele estar com 76 anos.
Do seu apartamento em Nova York, Roach disse à Folha, por telefone, qual é a sua receita pessoal de sobrevivência num meio em que muitos músicos morrem antes de atingir a terceira idade.
"Tenho uma família maravilhosa e companheira, tomo chá diariamente, faço caminhadas, eventualmente me exercito com aparelhos e toco o instrumento que exige mais do físico do músico."
Com o corpo em ordem, Roach cuidou de manter a mente aberta. "Estou sempre procurando novas idéias musicais. Por isso, na minha carreira, já tentei diversas formações. Toquei em conjuntos de percussão, coro e orquestra e com músicos de outras escolas."
E o exemplo mais radical e recente dessa sede de experimentação foi gravado há dois anos. O CD "Beijing Trio" traz Roach com o pianista Jon Jang e a tocadora de erhu -espécie de violino chinês de duas cordas- Jiebing Chen.
Para os shows no Brasil, Roach não será tão radical. A única ousadia é a dispensa de um pianista. Ele subirá ao palco do Free Jazz na companhia de um baixista, um saxofonista e um trompetista.
Além de músico, Roach é conhecido como ativista do movimento pelos direitos civis nos EUA -capaz de interromper um show de Miles Davis em 1961, no Carnegie Hall, carregando um cartaz de protesto- e como professor de história do jazz em universidades dos EUA. O lado ativista continua aceso.
"A luta dos negros nos EUA continua. Perdemos líderes importantes, como Martin Luther King e Adam Clayton Powell. Acredito que os negros não precisem ter mais respeito por si próprios. Quem precisa ter mais respeito pelos negros são os setores europeus da sociedade norte-americana. Eles fecham as portas para nossos irmãos."
Como professor, ele fala sobre o futuro do jazz. "Essa música ainda será ouvida no próximo milênio. E a razão é muito simples: os alicerces são fortes e atendem pelos nomes de Duke Ellington, Kenny Clarke e Louis Armstrong."


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