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FREE JAZZ FESTIVAL
Baterista se apresenta no Rio de Janeiro no dia 19 de outubro e em São Paulo no dia seguinte
Max Roach, 76, traz ao Brasil sua sede de experimentação
EDSON FRANCO
EDITOR DO TV FOLHA
Não tem muito jeito. Quem quiser ver um dos últimos sobreviventes da criação do bebop -ao
lado de Charlie Parker (1920-55),
Dizzy Gillespie (1917-93), Thelonius Monk (1917-82), entre outros- vai ter de se aboletar à volta
do palco Club do Free Jazz para
ver o baterista Max Roach.
E não vai ser um show jurássico.
Apesar de ser um gigante nesse
estilo de jazz surgido nos anos 40,
Roach se manteve antenado com
as sonoridades posteriores e arriscou suas baquetas nelas.
Baseado na audição de seus
mais recentes trabalhos, é possível
afirmar que o baterista chega em
boa forma para as apresentações
em solo brasileiro -é a segunda
vez que ele vem ao país; a primeira foi no Free Jazz de 89. Isso apesar de ele estar com 76 anos.
Do seu apartamento em Nova
York, Roach disse à Folha, por telefone, qual é a sua receita pessoal
de sobrevivência num meio em
que muitos músicos morrem antes de atingir a terceira idade.
"Tenho uma família maravilhosa e companheira, tomo chá diariamente, faço caminhadas, eventualmente me exercito com aparelhos e toco o instrumento que
exige mais do físico do músico."
Com o corpo em ordem, Roach
cuidou de manter a mente aberta.
"Estou sempre procurando novas
idéias musicais. Por isso, na minha carreira, já tentei diversas formações. Toquei em conjuntos de
percussão, coro e orquestra e com
músicos de outras escolas."
E o exemplo mais radical e recente dessa sede de experimentação foi gravado há dois anos. O
CD "Beijing Trio" traz Roach com
o pianista Jon Jang e a tocadora de
erhu -espécie de violino chinês
de duas cordas- Jiebing Chen.
Para os shows no Brasil, Roach
não será tão radical. A única ousadia é a dispensa de um pianista.
Ele subirá ao palco do Free Jazz na
companhia de um baixista, um
saxofonista e um trompetista.
Além de músico, Roach é conhecido como ativista do movimento pelos direitos civis nos
EUA -capaz de interromper um
show de Miles Davis em 1961, no
Carnegie Hall, carregando um
cartaz de protesto- e como professor de história do jazz em universidades dos EUA. O lado ativista continua aceso.
"A luta dos negros nos EUA
continua. Perdemos líderes importantes, como Martin Luther
King e Adam Clayton Powell.
Acredito que os negros não precisem ter mais respeito por si próprios. Quem precisa ter mais respeito pelos negros são os setores
europeus da sociedade norte-americana. Eles fecham as portas
para nossos irmãos."
Como professor, ele fala sobre o
futuro do jazz. "Essa música ainda
será ouvida no próximo milênio.
E a razão é muito simples: os alicerces são fortes e atendem pelos
nomes de Duke Ellington, Kenny
Clarke e Louis Armstrong."
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