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ATIVISMO
Autor de "Mídia Radical", em passagem por SP, RJ e MG, fala sobre novas alternativas às "prioridades hegemônicas"
Acadêmico analisa mídia de olho na rua
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem tão à esquerda, nem tão à
direita, foi justamente na zona nebulosa entre a imprensa capitalista dos países do Ocidente e as publicações de orientação trotskista
dos países comunistas da década
de 1980 que o pesquisador britânico John D.H. Downing, 63, encontrou o farto material de "Mídia Radical: Rebeldia nas Comunicações e Movimentos Sociais".
Lançado originalmente em
1984, o estudo sobre "a mídia que
expressa uma visão alternativa às
políticas, prioridades e perspectivas hegemônicas" ganhou no início do ano sua primeira e atualizada versão em português, pela editora Senac. Às rádios livres européias que chamavam a atenção do
pesquisador 20 anos atrás, somam-se agora a música urbana, o
grafite, os teatros de rua e a internet como uma instigante e ambígua ferramenta de comunicação e
organização sociopolítica.
"O Centros de Mídia Independentes [sites que hoje articulam
os protestos antiglobalização]
apareceram bem na época em que
eu estava terminando de reescrever o livro, mas, para mim, são o
exemplo mais interessante de uso
da internet de forma local e internacional combinada", disse Downing à Folha na última segunda-feira, antes de participar de uma
palestra no departamento de jornalismo da PUC-SP.
No dia seguinte, esteve na PUC
do Rio e, logo depois, embarcou
para Belo Horizonte, onde participou do congresso Intercom.
Aproximando, na prática, surrealistas, dadaístas, situacionistas,
nazistas, fascistas e racistas, o pesquisador recusa a tendência a generalizar as mídias radicais essencialmente como uma "força positiva". "Por mais repulsa que nos
cause o fascismo, nossa análise
não pode omitir sua dimensão de
movimento social", escreve.
Para ele, são também exemplos
de mídias radicais os cartazes de
estudantes que estampavam o
rosto do líder chinês Mao Tse-tung; os comunicados da Revolução Islâmica comandada por aiatolá Khomeini; as campanhas de
propaganda nazista que levaram
Adolf Hitler ao poder e os panfletos racistas da Ku Klux Klan.
"Nos EUA, a ultradireita chegou
à internet muito mais rápido que
a esquerda. A Ku Klux Klan já fazia suas coisas na rede desde 88",
afirma. "A esquerda tem sido um
pouco lenta em aproveitar essas
oportunidades. Seis anos atrás,
quando falei das rádios de web
para o pessoal da Radio Popolare,
de Milão, eles me olharam com
uma expressão vazia, como que
dizendo "lá vem o maluco americano obcecado por tecnologia"."
Professor no departamento de
rádio, televisão e cinema na Universidade do Texas, Downing ressalta a necessidade de a sociedade
e a própria comunidade acadêmica jamais perderem de vista a rua:
"A maior parte dos desafios
emerge não porque um determinado grupo político resolveu que
seria assim, mas das experiências
concretas das pessoas. Um exemplo clássico foi o rock na antiga
União Soviética, que acabou funcionando como um escape para
os jovens expressarem seu distanciamento do sistema. A burocracia cultural tentou impedir, mas
acabou perdendo seus filhos e as
gerações futuras para o rock".
MÍDIA RADICAL: REBELDIA NAS
COMUNICAÇÕES E MOVIMENTOS
SOCIAIS. Autor: John D.H. Downing.
Editora: Senac. Quanto: R$ 45 (544
págs.).
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