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São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2003

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ATIVISMO

Autor de "Mídia Radical", em passagem por SP, RJ e MG, fala sobre novas alternativas às "prioridades hegemônicas"

Acadêmico analisa mídia de olho na rua

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem tão à esquerda, nem tão à direita, foi justamente na zona nebulosa entre a imprensa capitalista dos países do Ocidente e as publicações de orientação trotskista dos países comunistas da década de 1980 que o pesquisador britânico John D.H. Downing, 63, encontrou o farto material de "Mídia Radical: Rebeldia nas Comunicações e Movimentos Sociais".
Lançado originalmente em 1984, o estudo sobre "a mídia que expressa uma visão alternativa às políticas, prioridades e perspectivas hegemônicas" ganhou no início do ano sua primeira e atualizada versão em português, pela editora Senac. Às rádios livres européias que chamavam a atenção do pesquisador 20 anos atrás, somam-se agora a música urbana, o grafite, os teatros de rua e a internet como uma instigante e ambígua ferramenta de comunicação e organização sociopolítica.
"O Centros de Mídia Independentes [sites que hoje articulam os protestos antiglobalização] apareceram bem na época em que eu estava terminando de reescrever o livro, mas, para mim, são o exemplo mais interessante de uso da internet de forma local e internacional combinada", disse Downing à Folha na última segunda-feira, antes de participar de uma palestra no departamento de jornalismo da PUC-SP.
No dia seguinte, esteve na PUC do Rio e, logo depois, embarcou para Belo Horizonte, onde participou do congresso Intercom.
Aproximando, na prática, surrealistas, dadaístas, situacionistas, nazistas, fascistas e racistas, o pesquisador recusa a tendência a generalizar as mídias radicais essencialmente como uma "força positiva". "Por mais repulsa que nos cause o fascismo, nossa análise não pode omitir sua dimensão de movimento social", escreve.
Para ele, são também exemplos de mídias radicais os cartazes de estudantes que estampavam o rosto do líder chinês Mao Tse-tung; os comunicados da Revolução Islâmica comandada por aiatolá Khomeini; as campanhas de propaganda nazista que levaram Adolf Hitler ao poder e os panfletos racistas da Ku Klux Klan.
"Nos EUA, a ultradireita chegou à internet muito mais rápido que a esquerda. A Ku Klux Klan já fazia suas coisas na rede desde 88", afirma. "A esquerda tem sido um pouco lenta em aproveitar essas oportunidades. Seis anos atrás, quando falei das rádios de web para o pessoal da Radio Popolare, de Milão, eles me olharam com uma expressão vazia, como que dizendo "lá vem o maluco americano obcecado por tecnologia"."
Professor no departamento de rádio, televisão e cinema na Universidade do Texas, Downing ressalta a necessidade de a sociedade e a própria comunidade acadêmica jamais perderem de vista a rua: "A maior parte dos desafios emerge não porque um determinado grupo político resolveu que seria assim, mas das experiências concretas das pessoas. Um exemplo clássico foi o rock na antiga União Soviética, que acabou funcionando como um escape para os jovens expressarem seu distanciamento do sistema. A burocracia cultural tentou impedir, mas acabou perdendo seus filhos e as gerações futuras para o rock".


MÍDIA RADICAL: REBELDIA NAS COMUNICAÇÕES E MOVIMENTOS SOCIAIS. Autor: John D.H. Downing. Editora: Senac. Quanto: R$ 45 (544 págs.).


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