São Paulo, Segunda-feira, 06 de Setembro de 1999
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TELEVISÃO
"JN" comemora 30 anos feliz

TELMO MARTINO

Colunista da Folha
O "Jornal Nacional", da TV Globo, é claro, completou 30 anos de existência. Foi o principal acontecimento da semana entre os assuntos de televisão.
Quase todo mundo comemorou. Para a grande maioria, ver o "JN" já é um hábito tão aconchegante como as almofadas no sofá da sala ou na "wing chair" do que a vovó até hoje chama de escritório. Ver o "Jornal Nacional" é o que se espera de todos os brasileiros que tenham em casa algum relógio que marque 20h.
Daí o grito de terror quando o telefone toca durante alguma notícia que está sendo transmitida. Nem mesmo aqueles milhares de microfones que cobrem o céu de sua televisão, numa "blitzkrieg" da informação, são tão assustadores como o tilintar desse telefone. Coitada da família. Não se lembrava da velha amiga que tem em casa um retrato do Fidel Castro todo borrado de batom e que se recusa a ouvir notícias na Globo.
Durante um certo tempo, essa gente, e sua teimosia de mais de 30 anos, ouvia o Boris Casoy. Até que algum de seus "é uma vergonha" atingiu em cheio uma admiração. Viver à esquerda das coisas é tão trabalhoso, e você acaba convivendo só com espécies em extinção.
No começo do "JN", falava-se muito em Glória Maria e um pouco em Armando Nogueira, um beletrista em estranha opção pelas imagens. Naquele tempo, Cid Moreira ainda não falava como Deus e só usava os cachos de Cristo. Inesquecível o asco de Paulo Francis ao ver o Sérgio Chapelin lendo o noticiário.
"Meninos bonitos lendo notícias. Isso é coisa para jornalistas. Nos Estados Unidos, são os "anchormen"..." O futuro todos conhecem.
Durante a transmissão, Fátima, ou William, dizia: "Trinta anos e o "Jornal Nacional" só está começando...". Como se quisesse acentuar essa preocupação com o futuro, uma sala de aula totalmente informatizada.
O que o professor escreve no que não é quadro-negro, os computadores dos alunos guardam imediatamente. E já estão falando em neurônios. "Novidades que o primeiro "JN" não podia imaginar", disse William, ou Fátima. Aí um avião cai ao decolar do aeroporto de Buenos Aires (isso o "Repórter Esso" sabia mostrar). Depois apareceu um alagoano com dois corações e muita notícia sobre Timor Leste.
Boa notícia essa que falava de um aumento de 90% no Procon. Bom também ouvir o que cada um tinha achado de mais importante no noticiário desses últimos 30 anos. As imagens lembravam Tyson, Sinatra, Diana e Dolly. O "JN" terminou feliz e seco, sem aquela cascata de nomes enquanto os apresentadores conversavam sobre nada.
O "JN" acabou, mas a televisão continuou até o Romário golear aquele outro time, naquela cidade onde ele não tem um bar. Teve muita alegria no aniversário do "Jornal Nacional".


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